Ariano Suassuna não gosta de anglicismos. Mas os americanos têm um termo ótimo para classificá-lo: o escritor é, sim, um blockbuster. Arrasa-quarteirão da cultura pernambucana, o escritor provocou uma fila que quase dava volta na antiga estação de trem convertida no Teatro Luiz Souto Dourado para sua aula-espetáculo na última sexta-feira.
Suassuna até falou de Capiba, tema da aula que contou com a música de Antúlio Madureira e bailarinos coreografados por Maria Paula Costa Rêgo. Mas com sua autoridade de mestre, o escritor divagou como pôde, para o deleite da plateia receptiva e risonha, sobre a própria vida e obra. Defendeu, por exemplo, seu personagem mais popular. “Uma vez, um jornalista de São Paulo disse que, como Macunaíma, João Grilo era um anti-herói. Isso me deixou muito irritado. Macunaíma, segundo o próprio Mário de Andrade, não tinha caráter nenhum. Já João Grilo tinha demais. Olhem só: ele vence o latifúndio agrário na figura do coronel, a burguesia nas figuras do padeiro e sua mulher, o clero corrupto nas figuras do padre e do bispo. Se ele não é um herói, não sei quem mais pode ser”, disse, arrancando, uma das várias gargalhadas da noite.