Lançamento

Bonsucesso Samba Clube com nova formação e mais pop

Grupo faz disco sob a batuta de Rogerman e Yuri Queiroga

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 22/09/2014 às 7:02
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Coração da boca sai é aquele instante em que a adrenalina está saindo pelo ladrão. “Pode ser na hora em a gente vai entrar no palco, descendo uma ladeira de bicicleta guiando sem as mãos, é como uma vertigem. Este momento vi no garoto dando o mergulho no mar, na foto que está na capa do disco”, explica Rogerman, o título do novo disco do Bonsucesso Samba Clube, cuja capa é ilustrada por uma foto da pernambucana Priscila Guimarães, que lhe foi mostrada por Yuri Queiroga, produtor do álbum, e parceiro em quase todas as 12 canções do álbum. Quem conhecia o Bonsucesso da formação do começo da década, e os dois discos que o grupo lançou vai se surpreender, pela variedade de estilos e pelo forte teor pop das canções. Coração da boca sai tem doze faixas, apenas uma não inédita, Superar, que Rogerman lançou em um dos dois EPs solo que gravou.

 O álbum passou um ano e meio em feitura e nas lucubrações entre Rogerman e Yuri Queiroga. Antes disto, os dois já mal se conheciam, se cumprimentavam, mas nunca pensaram em trabalhar juntos: “Quando comecei a pensar no disco, duas pessoas me sugeriram convidar Yuri. Uma delas foi Jujuba, que já produziu Chico Science. Foi um golpe de sorte. Liguei pra ele, falei sobre o projeto de um disco com o Bonsucesso Samba Clube, e Yuri topou na hora. Na primeira vez em que nos encontramos, mostrei músicas e ele me disse que estavam mais Rogerman do que Bonsucesso. Marcamos umas sessões, Yuri trazia as bases, a gente fazia a música, foi assim que o disco foi tocado”, conta Rogerman, que remontou a Bonsucesso Samba Clube, com novos integrantes. O grupo tinha dado uma parada. O último show que fez foi numa virada cultural em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, em 2008.

 Desfeita a banda, Rogerman passou um ano em São Paulo, trabalhou nos bastidores, na Virada Cultural, paulistana, e voltou ao Recife, onde se submeteu a um reaprendizado, reviu conceitos e opiniões formadas: “Fui estudar canto, por exemplo. Minha escola era a dos anos 90, a gente cantava com influência do rap. O que fiz basicamente foi atualizar minhas raízes dos anos 90, para os anos 200”, explica Rogerman, que cita um personagem fundamental neste processo, o maestro Ademir Menezes: “O período que passei com Ademir me marcou muito. Ele fez trabalhar mais o meu potencial, um dia ele falando comigo me disse: você não sabe quem você é. Comecei a matutar, e uma das primeiras ações que fiz foi tomar lições de canto”, conta.



 Coração da boca sai levou um ano e meio para ser aprontado, feito inteiramente com recursos próprios, alimentado pela sintonia entre ele e Yuri Queiroga: “Neste tempo todo não houve um único problema entre nós. Yuri aceitou participar do projeto e foi até o fim. Ele é um produtor diferenciado, porque não se limita a mixar, e particularmente neste disco sua participação foi de parceria. Fui pra casa dele, e de lá se vê o mar, comecei a fazer uma letra sobre o Rio, foi saindo rápido, ele fez uma base. Quando estava ainda no esboço, Yuri me disse que pensou em Lenine para participar dessa música. Yuri conhece bem Lenine, que é amigo da família dele. No Carnaval toquei com a Bonsucesso num palco que teve também Lenine. Conversamos algum tempo, falei da possibilidade de sua participação. Ele topou, adorou a música. Foi a única que não foi totalmente gravada no Recife. Lenine fez a parte dele no Rio”, conta Rogerman,.

 A canção se chama Dia quente, Rio foi uma das mais trabalhadas do disco. Em vez de Rogerman cantar a parte, e Lenina a sua. As vozes foram intercaladas, inspirada na gravação de Águas de março com Tom Jobim e Elis Regina, virou um dialogo entre os dois cantores. O disco foi se fazendo também, dando as coordenadas, por vezes inesperada. Aconteceu assim com Nas ruas, que gravada com Os Devotos: “A música me lembrou do Prodigy, e me veio à cabeça aquele filme antigo, Tora, tora, tora (de 1970, sobre o ataque japonês à base de Pearl Harbour,). O refrão é o título do filme. A música ficou pesada, e o pessoal do Bonsucesso sugeriu que chamasse Cannibal para participar dos vocais. Decidi convidar o grupo todo. Nesta faixa acabei como convidado dos Devotos, a faixa é deles”, explica Rogerman, que considera Coração da boca sai o melhor trabalho que fez em disco.

 Em Coração da boca sai ainda permanece o jeito olindense de ser, as percussões, os suingue, porém com forte apelo pop, e bastante diversificado nos gêneros, algumas faixas difíceis de catalogar como desde ou daquele estilo: “A gente não pensou em fazer um álbum que se encaixasse num gênero, nem se preocupou em ser pop.”. O que queríamos era um disco que não fosse maçante. A faixa Hey irmão, por exemplo, originalmente tinha sete minutos, no disco tem cinco minutos. E aí entra o talento de Buguinha Dub, Rogerman e Yuri mandaram uma faixa para ele remixar. Depois que ouviram o trabalho de Buguinha em Superar, a dupla o convidou para mixar o disco inteiro. O fato de ter sido feito no Recife facilitou as paticipações, que não foram poucas: Maestro SPOK, Jr. Areia, Luciano Queiroga e Ylana, Erasto Vasconcelos, João do Cello, Nena Queioga e Jr. Black, Dj Renato da Mata, Fabrício Belo, Thiago Hoover, Fábio Trummer. O álbum será lançado oficialmente dia 20, no formato digital, na plataforma de distribuição de música CD Baby.

 O disco físico será vendido nos shows, mas ainda na embalagem envelope. A banda pretende lançar ainda este ano o álbum com a capinha dupla: “O disco estará disponível para streaming e para venda. As pessoas podem comprar ou todas as músicas, ou as que achar boas, ou mesmo um fonograma. A gente sabe que é inevitável que ele caia na rede, seja disponibilizado de graça em blogs. O importante, é que se crie uma cultura de comprar música. O projeto foi feito todo com recursos próprios, teve um custo alto para a banda” comenta Rogerman. Ele ainda não sabe quando será o show de lançamento do disco no Recife, mas pretende que isto acontece até outubro.

 (leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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