Artes plásticas

Camille Paglia considera George Lucas o maior artista plástico vivo

Em novo livro de ensaios, escritora americana continua polêmica

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/10/2014 às 8:34
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As ideias que a professora, escritora, ensaísta americana Camille Paglia tem disseminado nos seus livros são quase sempre provocações, que inevitavelmente levam alguém a contesta-la. Muitas de suas conclusões, tese, asserções são discutíveis. Mas é inegável que suscita discussões, ou mesmo indignações, porém jamais apatia ou indiferença ao que escreve. Não está sendo diferente com Imagens cintilantes - uma viagem através da arte desde o Egito a Star wars (Apicuri, 214 páginas, tradução de Roberto Leal Ferreira, R$ 49), livro de leitura relativamente acessível, em que tenta resumir a história da belas artes em capítulo, começando no Vale dos Reis, no Egito, destacando uma pintura da rainha Nefertite com a deus Isis (1290-24 BC), fechando o livro com o terceiro e, até agora, último filme da série Guerra nas estrelas (Star wars, 2005), de George Lucas, ungido por ela ao maior artista de nosso tempo: “...Nada que eu tenha visto nas artes visuais dos últimos trinta anos foi tão ousado, belo e emocionalmente irresistível como o espetacular clímax no planeta vulcânico de A vingança dos Sith (2005) de Lucas”.


A inspiração para que escrevesse Imagens cintilantes veio do desânimo que confessa sentir diante da animosidade aberta em relação à arte que ouve nos programas norte-americanos de rádio AM nas duas últimas décadas: “Como fã de longa data do rádio ouço com grande alegrai, o dia inteiro, programa de política, esportes, cujo formato aberto às ligações telefônicas, oferece um fórum animado para as vozes francamente mordazes da classe operária e da baixa classe média que não se ouvem em nenhum outro lugar da cultura norte-americana”. Camille observou que a ideia dominante entre os convidados e os ouvintes que telefonam é a de que o mundo da arte é uma estéril zona morte de esnobes elitistas e de que os artistas são parasitas e vigaristas pretensiosos”. Mais adiante ela atribui aos próprios artistas parte da culpa pela atual marginalização das artes plásticas: “Os artistas, com demasiada frequência, dirigem-se apenas a outros artistas e ao grupinho vanguardista de entendidos. Perderam o contato com o grande público, cujo gosto e valores caricaturam e desprezam”.

A escolha das obras de arte que escolheu para ilustrar sua história é estritamente pessoal, não de consenso. Ao abordar, por exemplo, a art déco, nascida em Paris e que teve seu apogeu nas décadas de 20 e 30, ela enfatiza a pintora Tamara de Lempicka (Varsóvia, 1898/Cuernavaca, México, 1980), que contrapõe à contemporânea Frida Kahlo, atribuindo a esta a maior atenção, e predileção, de críticos e consumidores de arte “em razão de seus temas folclóricos, se seu comunismo militante, se sus humilhações no casamento e de suas doenças, acidentes, cirurgias, que ela mostrou em detalhes em macabras pinturas de martírio simbólico”. Tamara Lempicka, sua antítese, veio para Paris fugindo dos bolcheviques, “..não disfarçava a clara ambição de prestígio social e de sucesso comercial. Sua persona sofisticada era a antítese do bagunçado mythos boêmio. Frequentava e dava festas onstentatórias e picantes em Paris, e manipulava habilmente os meios de comunicação para obter o máximo de publicidade”.

Apesar de emitir opiniões das quais se pode discordar, e se ser elegantemente redundante em sua confessa admiração por Andy Warhol, em Imagens cintilantes Camille Paglia é mais a professora do que polêmica lésbica que não gosta de lésbicas, a feminista que não se cansa de falar mal do feminismo, a crítica de arte que vê com desconfiança boa parte da produção contemporânea (mas trata bem os dois únicos artistas do Brasil que cita Hélio Oiticica e Lígia Clark). Há momentos em que ela é  extraordinária, como ao dissecar a tela Freut euch des lebens (A vida faz você feliz), do expressionista alemão George Grosz. Ela se detém em seis páginas analisando e historiando a arte performática, pegando como gancho a jamaicana Renée Cox, que trabalha basicamente com montagens fotográficas (seu trabalho analisado aqui é Chillin’ with Liberty, ou relaxando com a Liberdade, uma fotomontagem de seu alter ego, Raje, personagem inspirado nos quadrinhos, no topo da estátua da liberdade, em Nova Iorque).

O objetivo do livro, segundo Camille Paglia observa na introdução é uma tentativa de alcançar um público amplo para o qual a arte não é uma presença cotidiana, mapeando a história e os estilos da arte ocidental do modo mais sucinto e acessível possível.. O leitor é convidado a contemplar a obra,vê-la como um todo, em seguida examinar seus menores detalhes. Infelizmente de todas estas obras a mais acessível e popular é a do “maior artista” vivo,o filme A vingança dos Sith, de George Lucas.

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