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Lucas dos Prazeres grava DVD com orquestra de percussão no Dona Lindu

A Orquestra dos Prazeres é formada por parentes e amigos do músico

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 11/11/2014 às 6:00
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Filho de Xangô, Lucas dos Prazeres é ousado. Em época de gosto musical embotado, de mercado fonográfico confuso, ele formou uma orquestra apenas com instrumentos de percussão, a Orquestra dos Prazeres, com ela grava DVD (e CD), quinta-feira, às 20h, no Teatro Luiz Mendonça Filho, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, com entrada franca. O DVD que já tem título, Repercutir, foi possibilitado pela aprovação de um projeto no Prêmio Funarte de Arte Negra (o único contemplado em Pernambuco). No entanto, o prêmio garante basicamente a gravação (a cargo do estúdio Fábrica).

O percussionista diz que tentou atrair patrocinadores para viabilizar o restante do projeto, mas não conseguiu: “Quem tem a família dos Prazeres, não precisa se preocupar com isto”, dá de ombros, otimista. A orquestra dos Prazeres, para este espetáculo, foi aumentada de 23 para 30 integrantes,e mais instrumentos: um contrabaixo elétrico, percussão eletrônica, e uma viola: “A orquestra é formada naipes, igual a uma orquestra convencional, com graves, os tambores, agudos, às congas, até os efeitos metálicos e orgânicos. Os integrantes vêm de uma galera que convive junta há 25 anos, de pessoas que cresceram juntas”, explica Lucas dos Prazeres.

Lucas concedeu entrevista no Altar, um restaurante, em Santo Amaro onde a religião afro-brasileira é onipresente, na decoração, na comida e, sobretudo, em Mãe Carmem, a chef, e proprietária do estabelecimento. Ela criou uma moqueca batizada de Luca dos Prazeres, com ingredientes para agradar a Xangô e a seu filho (que preparou na hora, e serviu, depois da entrevista). Participaram, embora discretamente, da conversa a mãe do músico, mais alguns parentes. Ele cita a família, a amizade, como fontes de inspiração, durante a entrevista, na verdade, uma exposição feita pelo músico da sua concepção do espetáculo.

A orquestra foi montada com amigos primos e amigos de infância, todos moradores do Morro da Conceição, Zona Norte do Recife. A mãe e o pai participaram do Balé Popular do Recife, o que leva Lucas a afirmar que tem 30 anos de idade e o mesmo tempo tempo carreira: “Comecei antes mesmo de nascer, minha mãe dançava comigo na barriga. Mas passei a interagir com o mercado aos 18 anos, dançando, tocando”, diz.

Ele aponta como influências Lenine e Chico César: “Os dois têm isso, e para subir no palco sozinho é preciso ter muita cara de pau. É onde você se permite esquecer do ridículo. Todas as vezes que subo ao palco eu trago meu palhaço. Chico César tem isso, de estar ali no palco, apenas e o violão e consegue cativar o público plenamente”. Outra influência citada, a inspiração para a formação da orquestra, é a do percussionista e griô senegalês Doudou N'diaye Rose, cuja orquestra de percussão é formada por seus filhos (teve mais de 40), e com o grupo Les Rosettes, formado por filhas e netas 

A coragem de não ter medo do ridículo fez Lucas dos Prazeres, no ano passado, encarar o mesmo palco do Teatro Luis Mendonça, para um show solo de percussão. O que não é fácil, não apenas pelo fato de que percussionistas como personagem principal no palco, foi um fenômeno dos anos 70, quando nomes como Naná Vasconcelos, Airto Moreira, Djalma Correa, Paulinho da Costa, Laudir Oliveira, desviaram os spotlights da percussão cubana para a brasileira. Estes percussionistas, continuam sendo os grandes nomes do gênero, todos se exibem com mais frequência nos EUA, Europa ou Japão.

Lucas dos Prazeres apresentou-se no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, com um espetáculo solo. Apenas ele e imagens projetadas. Ele no entanto diz que foi uma espécie de catarse: “Achei que precisava levar ao palco os meus vários personagens, o dançarino, o músico, o cantor. A dança, por exemplo, eu parei, para ser músico, mas mesmo assim ela está comigo mesmo quando não danço. Minha música se manifesta de muitas formas eu me incorporar no palco, então quis um espetáculo disto. Foi uma experiência, e pretendo voltar a fazer um trabalho solo em 2015, inclusive gravar em DVD”.

Afoxé Alafin Oyó, grupo Sagaranna, os bailarinos Dielson Pessoa, Ana Paula Santos e Jamila Marques, participam do Repercutir, que liga a poesia do declamador Antonio Marinho, com a música Zé Neguinho do Coco, homenageado da Orquestra dos Prazeres, cantos para orixás, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor. Como cenário, telas, do primo Feliciano dos Prazeres, projetadas por Gabriel Furtado, as telas representando estações do ano. O espetáculo é aberto ao público, e os ingressos devem ser apanhados na bilheteria a partir das 17h. 


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