Carnaval

Capiba e o disco que continua em catálogo há 55 anos

Claudionor o intérprete pretende regravar o álbum na íntegra

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 18/01/2015 às 9:58
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Claudionor o intérprete pretende regravar o álbum na íntegra - FOTO: NE10
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“Gozador”. Com este pseudônimo, Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 1904/1997) inscreveu o frevo canção É de amargar, no concurso de músicas carnavalescas, promovido pelo Diário de Pernambuco, brincalhão de perder o amigo, mas não a piada, Capiba tinha perdido em outubro o irmão mais velho, Sebastião. Tantão, como era conhecido, não se dedicou à música, tornou-se comerciante bem sucedido. O compositor o tinha como um segundo pai, conselheiro e confidente. Foi um golpe que ele sublimou em música. “É de amargar” era uma expressão dos anos 30 significando algo bom. O frevo era realmente muito bom, tanto que o recifense já o conhecia de cor, do repertório da Jazz Banda Acadêmica, chefiada por Capiba. Na noite da final do concurso, no Teatro de Santa Isabel, o autor preferiu permanecer na pensão em que morava, na Conde da Boa Vista. Não apenas pelo nervosismo natural, como também pela sua relação com a jazz Banda Acadêmica, encarregada de acompanhar os concorrentes.

Foi uma vitória fácil, a platéia fez coro com a música, antecipando o sucesso que ela faria no Carnaval de 1934. Avisado do resultado, Capiba foi até o Santa Isabel, e ficou na porta, desfrutando, discretamente, o sabor da vitória. Não demorou a ser reconhecido pelo povo. Ele guardaria para sempre aquela noite como a mais emocionante de sua vida. Carregado nos ombros de alguém, ele foi a frente de um desfile improvisado que percorreu as principais ruas da Boa Vista cantando, sem acompanhamento, o fervo canção É de amargar. A música receberia a primeira gravação, naquele mesmo ano, na voz de Mario Reis, um dos mais importantes cantores da época, com selo da Victor, mas numa edição feita de encomenda apenas para Carnaval do Recife.

Em 1959, a Rozenblit resolveu homenagear Capiba pelos seus 25 anos de frevo, contados a partir de É de amargar (no concurso do ano anterior, ele também havia vencido, com Tenho uma coisa para lhe dizer). Além deu um desfile em carro aberto, com participação dos principais compositores de frevo, além, obviamente, das autoridades, a gravadora produziu um disco com uma retrospectiva da obra dele, com orquestra dirigida por Nelson Ferreira, como intérprete Claudionor Germano, que teve o privilégio de participar do disco inaugural da gravadora, cinco anos antes. Claudionor aceitou a empreitada, acabou trabalhando em duas. O maestro Nelson Ferreira, não ia permitir que o “inimigo cordial” fosse homenageado sozinho. Produziu o LP O que eu fiz e você gostou, reunindo seus principais frevos, incluindo frevos de rua.

O disco foi um sucesso imediato. Ambos foram. Mas Capiba 25 anos de frevo continuaria sendo sucesso em todos os carnavais seguintes em Pernambuco. O jornalista e historiador Leonardo Dantas Silva, autor de alguns livros fundamentais sobre o frevo,tem sua explicação para o fenômeno: “Primeiramente a sequência de músicas de boa qualidade e das orquestrações com que foram gravadas. Segundo porque recompõe um baile de carnaval, com toda alegria e sentimentos, hoje não mais vividos. Marcou todas as gerações, do seu lançamento ao nosso tempo, que sempre vão recordar uma sala, sem cadeiras e alguns pares a festejar no ambiente doméstico o carnaval de todas as idades. Das crianças aos mais velhos todos se divertiam ao som do Capiba - 25 anos de frevo. O disco conserva na sua sequência, uma escala cronológica de sucessos carnavalescos de Capiba. Tudo graças a competência orquestral de Nelson Ferreira”. Ele acrescenta que a seleção foi do próprio Capiba. Os frevos que não entraram neste LP, foi aproveitados na sequência que seria produzida para o Carnaval do ano seguinte Carnaval começa com C de Capiba, com mais um Lp de Nelson Ferreira, O que faltou e você pediu.

Claudionor Germano ficaria marcado para sempre com este disco. Até então frevo era um gênero que ele também cantava, ou gravava. A partir ficou conhecido como o principal intérprete de frevo canção de Pernambuco. Ele não vai deixar a efeméride passar em branco. Está trabalhando na montagem de um show intitulado Capiba 80 anos de frevo: “São os 25 de quando o LP foi gravado, mais os 55 que se passaram”, diz o cantor, que revela que não teve muito trabalho para gravar os dois álbuns: “Era tudo em dois canais, a gente cantava ao mesmo tempo com a orquestra de Nelson. A maioria das músicas foi gravada de primeira”.

Curioso é que na época, incentivada com o imenso sucesso nacional do frevo de bloco Evocação, de Nelson Ferreira, a música mais tocada no Carnaval de 1957, a Rozenblit preparou um catálogo carnavalesco caprichado, como comentou na época Ivanildo Melo, empregado na seção de divulgação da “Mocambo (nome do seu principal selo), en entrevista ao Jornal do Commercio: “A gravadora pretende transcender os limites dos interesses internos da fábrica, com uma campanha para uma maior penetração da música pernambucana, além das fronteiras do estado”. Ao contrário de Evocação, o LP Capiba 25 anos de frevo não foi sucesso nacional. Mas seu sucesso local é o suficiente para que tenha entrado para a história da MPB.

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