ARTE URBANA

Grafiteiras reivindicam os muros e a igualdade

A 7ª edição do Recifusion tem como tema 'Conquistando espaços, fortalecendo o traço', em alusão ao Mês da Mulher

Karoli Pacheco
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Karoli Pacheco
Publicado em 26/03/2015 às 7:11
Foto: Rafaella Ribeiro/Divulgação
A 7ª edição do Recifusion tem como tema 'Conquistando espaços, fortalecendo o traço', em alusão ao Mês da Mulher - FOTO: Foto: Rafaella Ribeiro/Divulgação
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Nos seus primeiros traços no grafite, a mineira Lidia Soares, Viber, foi questionada: “Você vai pintar florzinhas no meu caderninho?” A pergunta em tom provocativo foi feita há cerca de 10 anos, mas a dissolução de estereótipos machistas na arte urbana até hoje inquieta. Tanto que o Festival Internacional de Graffiti Recifusion (RF7) traz, em sua 7ª edição, o tema Conquistando espaços, fortalecendo o traço, em alusão ao Mês da Mulher.

Desde segunda-feira ocupando o 4º andar do Edifício Pernambuco, na Avenida Dantas Barreto, 23 artistas urbanos participam de vivências. Já no 7º andar, são realizados workshops num intercâmbio que visa desmistificar a predominância masculina no grafite. Todas as atividades oferecidas são ministradas por mulheres.

Paradoxalmente, na primeira delas, após publicar o registro fotográfico da atividade no Facebook, um dos seguidores do Recifusion comentou: “Depois, eu ia sim, pensar em desenhar. Antes, tinha que usar minha caneta especial nela!”, disse, em referência sexual à pose em nu artístico. Em repúdio ao internauta, a produção do Recifusion divulgou uma nota oficial na rede social, implementando as hashds_matia_palvr #quemachouó e #pelaartepelasmulheres.

Estar na rua, muitas vezes em locais não autorizados ou de difícil acesso, requer esforço físico e disposição para lidar com os confrontos (no caso de a polícia aparecer). “Os limites físicos são superados tranquilamente na companhia de amigos e amigas que ajudam no processo”, conta a paraibana Witch, que começou na pichação, quebrando os paradigmas da fragilidade feminina. Contrastando com os cabelos encaracolados e o rosto redondo, Viber coloca em seu trabalho formas mais duras: “De feminino, já basta eu. O grafite pede por algo mais agressivo, que se destaque na rua, onde compete com propagandas e precisamos chamar atenção em meio ao caos.” 

“Desenho desde pequena, e quando cheguei ao grafite, a aceitação veio muito mais da qualidade do trabalho do que pelo gênero”, conta a equatoriana Belen Bike, que assina a identidade visual do RF7. “Tenho amigos que pintam coisas muito femininas, assim existem trabalhos que não dá para distinguir se foi homem ou mulher que fez”, comenta.

Carioca radicado no Espírito Santo, Aqi Luciano, grafita rostos de mulheres. “Onde moro, 98% dos caras já passaram pela delegacia. Sou um dos poucos que não tem processo devido ao tipo de trabalho que eu faço. O público tem uma aceitação pelo realismo, e a feição feminina me ajuda bastante”, justifica. 

Ao lado de Aqi e do paulista Smoky e do mexicano Rock VRS, na grafitagem de um muro situado na rua perpendicular à Igreja Matriz de São Pedro, no Centro, a canadense Elisa Monreal, Shalak, conta sobre a interação com os transeuntes. “Perguntam: ‘mas foi você que fez isso?’ Como se eu ficasse só olhando, então tenho que explicar que mulher também pode”, brinca. Com o marido, Bruno Revitte (Smoky), Shalak forma o duo Clandestinos, cujas pinturas englobam temas sociais.

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