Eric Clapton 70 anos

Eric Clapton em três discos com sua fase menos badalada

Repertório vai da balada romântica a tributo a Robert Johnson

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 01/06/2015 às 7:59
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Repertório vai da balada romântica a tributo a Robert Johnson - FOTO: divulgação
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Os 70 anos de idade e 50 de carreira de Eric Clapton tiveram direito a mais uma coletânea do guitarrista, Forever man (Reprise), lançada em todos os formatos: digital, vinil e CD. Em álbuns duplos ou triplos, esta última opção é a mais interessante. O terceiro disco contém o lado blueseiro de Clapton, o mais apreciado e louvado pelos admiradores. Porém nada de sua fase "heroica", quando os fãs levaram a sério a pichação num muro londrino, que elevava o músico à categoria de deidade musical. "Clapton is God" foi levada demasiadamente a sério, como se a manifestação de um admirador refletisse o pensamento de toda Londres.

Forever man serve como uma reavaliação da obra menos conhecida de Eric Clapton, lançada com selo o Reprise, que vai de Money and cigarettes (1983) a Old socks (2013), ambos dois de seus discos menos escutados ­ o segundo, certamente, um dos mais descompromissados que já lançou. Uma compilação para pôr à prova a fidelidade dos claptonmaníacos, já que não traz nada inédito ou raridades. Tudo foi pinçado destes 20 anos na carreira do músico. Uma fase em que a guitarra está cada vez mais afiada, porém discreta. Duas décadas em que ele se manteve gravando discos como quis, e do jeito que quis, sem precisar mais ter o que provar.

Forever man, por sinal, é uma faixa do álbum Behind the sun (1985). O disco 1 traz músicas gravadas em estúdios. O segundo é ao vivo, o terceiro é o já citado disco de blues. Canções como Forever man poderiam estar num daqueles bombásticos álbuns que gravou com o Cream (ápice de sua fase de deus da guitarra), não tivesse passado sua inclinação para o épico. Aliás, dá para comparar versões mais recentes, ao vivo, de canções do Cream ou Blind Faith, feitas com músicos menos badalados, ou mais jovens, mesmo os mais antigos ­ ainda assim reverentes ­ a um dos mitos do rock dos anos 1960.

A importância ou diferença do que ele gravou, até meados dos anos 1970, é medida pelo disco com gravações ao vivo. Das 14 faixas, metade é desta época. Abrindo com Badge, Sunshine of your love e White room, as três do Cream, em versões mornas. Sunshine of your love tem quase nove minutos, incluindo citação a Blue moon (Hodges & Hart), mas se fosse abreviada não perderia nada (mesmo com Eric Clapton botando as garras de fora, tocando como se ainda estivesse nos anos 1960), o problema é que não existe a tensão criativa que havia entre ele, Jack Bruce e Ginger Baker. Boa parte é a repetição do antológico riff.

Não se entende é a melosa balada Wonderful tonight, que se estende interminavelmente também por quase nove minutos (exatos 8m59s). Do disco ao vivo, a faixa mais empolgante é Them changes, com Stevie Winwood, uma das vozes marcantes do soul inglês dos anos 1960, que parece ter empolgado também Clapton, que se solta na guitarra, como nos velhos tempos. Os dois repetem a dose em Presence of the Lord. Além de Winwood, só J.J Cale está na compilação como convidado especial. Cale (falecido no ano passado) foi a grande influência na carreira solo de Eric Clapton. Sua Cocaine é obrigatória no repertório de palco de Clapton, como atesta a inclusão no disco ao vivo de Forever man. Eric Clapton permaneceu fiel a ele até o fim da vida, assim como a Muddy Waters, os pais que substituíram em sua afetividade o pai biológico que não conheceu.

Embora Muddy Waters fosse quase o pai do blues elétrico, a matriz do que todos os jovens ingleses feito Eric Clapton idolatravam e copiavam nos anos 1960, curiosamente, ele absorveu mais a música de J.J Cale (que lhe deu outro sucesso dos anos 1970, After midnight).

BLUES

O melhor da trinca de CDs (só na edição Deluxe) é o álbum dedicado ao blues, aberto com a antológica versão de Before you acuse me (Bo Diddley), mas é difícil que algum fã de Eric Clapton não tenha todas as músicas deste CD, pinçadas do álbum dividido com B.B King, ou do álbum com canções de Robert Johnson. Aqui, Clapton está no seu habitat, perfeito no violão em Terraplane blues, de Johnson, do seu melhor disco desta fase, Me and Mr.Johnson (2004).

Robert Johnson era uma obsessão para Eric Clapton desde o início da carreira, e ele finalmente fez uma profunda imersão na obra de um arquétipo do blues. Assim como se entregou ao blues ao gravar um álbum inteiro com B.B King, Riding with the king (2000). Mesmo assim, Forever man é mais indicado para leigos, gente ainda não inciada na obra de Eric Clapton ­ ou para completistas: aquele fã que acha que deve ter absolutamente tudo do guitarrista

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