Memória

Hermínio Bello de Carvalho testemunha ocular da história da MPB

Ruy Castro organizou a antologia de cronicas de Hermínio

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 02/08/2015 às 6:00
foto: reprodução do livro
Ruy Castro organizou a antologia de cronicas de Hermínio - FOTO: foto: reprodução do livro
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Hermínio Bello de Carvalho é o que se pode chamar de fã realizado. Macaca de auditório de artistas da Rádio Nacional, frequentador dos lendários programas da igualmente lendária emissora, ele não apenas conheceu a maioria dos seus ídolos, como lhes produziu discos, e compôs músicas para eles. Foi o descobridor de Clementina de Jesus, e amigo particular de Aracy de Almeida, de Pixinguinha e Cartola, de cujo casamento com Dona Zica foi padrinho. Assina composições em parceria com muita gente boa, incluindo Chico Buarque, Paulinho da Viola. Mas sue lugar na historia da cultura brasileira já está assegurado há 50 anos, quando produziu um dos mais importantes espetáculos da MPB, o Rosa de Ouro, em que reuniu as damas Clementina de Jesus, Aracy Cortes, com Elton Medeiros, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, trazendo o samba do terreiro para a sala de visitas.

Hermínio completou 80 anos em março, e ganha, com um pouco de atraso, mais um presente, o livro A Taberna da Glória e Outras Glórias, - Mil Vidas Entre Os Heróis Da Música Brasileira (Edições de Janeiro), compilação de crônicas sobre música popular organizada por Ruy Castro, que escreveu no prefácio: “Minha admiração por Hermínio como escritor só é menor do que a inveja que tenho por tudo que ele viveu entre os artistas de suas admiração e que são também os da minha admiração... Ah, sim, não estranhe. Os personagens entram e saem dos textos de Hermínio, intrometem-se-se na vida uns dos outros e alguns vivem mais de uma vez a mesma história. A culpa é dele que não para quieto”. AS crônicas compiladas para este livro foram pinçadas de obras anteriores de Hermínio Bello de Carvalho, todas merecedoras de reedição: Mudando de Conversa(196), Umas & Outras (1995), Sessão Passatempo (1995), e Araca - Arquiduquesa do Encantado (2004). 

As histórias são deliciosas, não apenas porque são muito bem escritas, mas porque Hermínio Bello de Carvalho viveu todas elas, é criador e criatura. Pessoa certa no lugar certo, ele entrou em cena, no começo dos anos 60, a tempo de conviver, documentar e gravar os arquitetos que traçaram as formas do samba carioca, Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Ismael Silva, Cartola, Nelson Cavaquinho, como também as estrelas da Era de Ouro do Rádio, Emilinha, Marlene, Elizeth Cardoso (de quem produziu discos), ou Isaurinha Garcia. Mas não se limita aos brasileiros, as divas do jazz, Sarah Vaughan e Nellie Lutcher fazem parte da trajetória de HBC.

O mote é a Taberna da Glória, ainda hoje funcionando, que teve como frequentadores políticos (fica próximo ao Palácio do Catete, antiga residência oficial do presidente da República), intelectuais como Mário de Andrade, e boêmios inveterados como o compositor Noel Rosa. Foi lá que Hermínio Bello de Carvalho conheceu Clementina de Jesus, mas outros bares do Rio figuram nas crônicas, do Gouveia, na rua do Ouvidor, onde Pixinguinha fazia ponto, ao antológico Zicartola, na Rua da Carioca. Locais em que se servem, ou se serviam, aquele assado ao molho de ferrugem impecável, e cervejas e chopes estupidamente gelados, onde Hermínio aprendeu e fez histórias.
Indiscreto, as vezes resvalando para a galhofa e o humor negro, Hermínio Bello de Carvalho tem um texto leve, pessoal e intransferível

(leia matéria na íntegra na edição de hoje do Jornal do Commercio)

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