Centenário

A Voz torna-se centenária: Frank Sinatra faria cem anos hoje

Ao redor do planeta homenagens ao maior cantor popular do século 20

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 12/12/2015 às 6:00
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Ao redor do planeta homenagens ao maior cantor popular do século 20 - FOTO: foto: reprodução/divulgação
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"O nome do garoto é Frank Sinatra. Ele se considera o maior vocalista do pedaço. Engula esta! Ninguém nunca ouviu falar nele, nunca teve um disco nas paradas, parece um pano de prato molhado, mas diz que é o maior. Se você o elogiar, ele vai me pedir aumento", do trompetista Harry James a um repórter, depois de contratar Frank Sinatra, em junho de 1939, como crooner de sua orquestra. Seis meses mais tarde ele estaria na mais badalada orquestra de Tommy Dorsey, porém ainda pouco conhecido no país.

A cantora Jo Stafford, também na orquestra, lembra suas primeira impressões de Sinatra: "Era muito jovem, magricela, com mais cabelos do que precisava. A gente estava ali sentado e perguntamos: Quem você? De onde veio?. Daí ele começou a cantar. Uau. Achei que aquilo era uma coisa totalmente nova, única. Ninguém jamais soou daquele forma. Naqueles tempo quase todos os cantores tentavam se parecer o máximo possível com Bing Crosby. Ele não se parecia nem um pouco com Crosby. Ele não se parecia com ninguém que eu já tivesse escutado. Fiquei passada". Ambas as afirmações estão na biografia Sinatra Behind The Legend, de J.Randy Taraborrelli, uma entre dezenas de publicações reeditadas ou lançadas sobre "A Voz", o cantor mais celebrado na música popular no século 20, falecido em 1998 ­ hoje, completaria 100 anos.

Filho de italianos, Francis Sinatra (o "Albert", que costumava acrescentar ao nome, não está no registro de nascimento), veio ao mundo a fórceps, o que lhe deixou sequelas: um defeito numa das orelhas, pelo qual sofreu bullying, retribuído com socos e pontapés. Na hierarquia de imigrantes nos EUA, no início do século 20, italianos vinham depois de alemães e irlandeses. Precisavam ser durões. Frank Sinatra, apesar da baixa estatura e do físico mirrado, era bom não apenas de brigas, mas de amor. Para o livro, Taraborrelli entrevistou vários contemporâneos de Sinatra em sua cidade natal, Hoboken, em New Jersey. "Era um magricela de aparência comum, um pomo de Adão protuberante e orelhas de abano, mas tinha mais carisma e mais magnetismo do que qualquer um. O mulherio caia em cima dele quando saia do palco, depois de uma apresentação", diz um senhor chamado Joey D'Orazio, amigo de infância de Sinatra.

Fred Tamburro, outro morador de Hoboken confirma, já naquela época, o célebre apetite sexual do cantor. "Ele podia pegar o rabo de saia que quisesse. Em parte, por ser um cantor, as meninas gostam disto. Mas o cara tinha um apetite sexual como nunca conheci até hoje. Ele transaria com uma serpente se conseguisse segurar uma pelo tempo suficiente. Uma de suas namoradinhas, também de Hoboken, Nancy Venturi, saiu com ele em 1938, e ainda continuava entusiasmada quando foi entrevistada (a biografia é originalmente de 1996). "Ele tinha sexo na cabeça, fazia amor com quem aparecesse. Tinha algo intenso na forma como fazia, pelo menos comigo foi assim. Ele era extremamente erótico, sexy e beijava também com intensidade. Estou velha agora, mas me recordo de tudo".

Mesmo com estes atributos, Frank Sinatra estava com apenas 23 anos quando se casou com Nancy Barbato ­ um casamento tumultuado, igual a todos que teve. Pouco antes de se casar, ele chegou a ser processado por engravidar uma menor. Escapou porque ela, descobriu­-se, já fora casada. Enquanto Nancy tinha filhos, o marido sedimentava a carreira, mais rapidamente do que ele próprio imaginava. Em janeiro de 1942, destronava Bing Crosby na lista dos melhores do ano da revista Billboard. Doze anos antes de Elvis, 22 antes dos Beatles, existiu a Sinatra-­mania (como grafavam na época).

A Sinatra-­mania era formada por adolescentes, de 13 a 15 anos, que perseguiam o cantor, que se esvaiam em lágrimas e berravam histéricas quando o viam no palco. No inverno, meninas "colhiam" as pegadas dele na neve, levavam-­nas para casa para guardá­-las no congelador. Apanhavam cinzas dos cigarros que o ídolo fumava. Camareiras de hotéis eram subornadas para deixá-­las deitarem na cama em que ele havia dormido. Em pouco tempo, surgiram mais de dois mil fãs­clube de Frank Sinatra nos EUA. Qualquer semelhança com a beatlemania não era mera coincidência. Ele foi o primeiro.

Elvis ou os Beatles aparentavam ser bons rapazes, Frank Sinatra não se preocupava em manter aparências. E, há 75 anos, elas precisavam ser mantidas. Sinatra deveria parecer ser bom pai e bom marido. Mas as fãs não o deixavam em paz, nem ele fazia questão disso. Contratou um escritor como assessor, George Evans, que lhe deu uma sugestão básica: "Frank, mantenha o zíper fechado que me ocupo do resto". Evans criou o epíteto "A Voz". Estourado nas paradas do mundo inteiro, Frank Sinatra tinha um problema mais sério do que o pavio curto, e a e rapidez com que abaixava o zíper. Um contrato assinado com Tommy Dorsey, que ainda continuava usufruindo de 33% da renda bruta do cantor, mais 10% para o seu agente. Advogados entraram em cena enfrentando­se numa batalha que chegou ao final mais cedo do que se previa. Tommy Dorsey aceitou receber 60 mil dólares para liberar Frank Sinatra. 

(leia matéria na íntegra na edição impressa do Jornal do Commercio)

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