Chico Science 50 anos

Chico Science fazendo a revolução a partir da periferia

Uma carreira meteórica que logo chegou aos EUA e Europa

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 13/03/2016 às 6:00
foto: divulgação Sony Music
Uma carreira meteórica que logo chegou aos EUA e Europa - FOTO: foto: divulgação Sony Music
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"Temos fome de informação. Na imagem do Josué (de Castro), somos caranguejo com cérebro, como os pescadores que ele descreve no livro Homens e Caranguejos. Eles pescam e comem caranguejos para depois excretá­los num ciclo caótico. Fazemos uma música caótica". A explicação é de Chico Science aos questionamentos do crítico Luiz Antônio Giron, da Folha de S. Paulo, em março de 1994, no lançamento do álbum Da Lama Aos Caos.

A reação de Giron é de quem mora na maior metrópole da América Latina e não consegue situar a música da CSNZ no universo pop/rock da época: "O fim do folclore se aproxima. Mas o cantor e compositor Chico Science pensa estar salvando o coco, a embolada, o pastoril e o maracatu ­ gêneros de sua terra ­ ao juntá­los com guitarra elétrica". A perplexidade e desconfiança do jornalista era justificável. Na terra natal de Chico Science aquela música nunca foi inteiramente assimilada. Muita gente pensava como Giron a respeito do folclore, no entanto, ele continuava muito vivo na periferia do Recife, Olinda e Zona da Mata. Francisco de Assis França, que hoje completaria 50 anos, morou a maior parte dos seus 32 anos de vida em Rio Doce, Olinda (faleceu em 2 de fevereiro de 1997).

Cresceu assistindo e assimilando a rica cultura popular que resiste nos bairros mais distante do centro da capital pernambucana. Ciranda, cavalo­marinho, pastoril profano, maracatu de baque solto e virado, coco, embolada. "Quando eu era mais novo, lá pelos 12 anos, dançava ciranda. Meus pais tinham uma ciranda. Elas geralmente eram feitas nas frentes dos botecos ou nas mercearias da região. Os caras pagavam aos tocadores para chamar mais clientes para as barraquinhas. Assisti na minha infância aos maracatus fazendo o acorda­povo, que acontece na época do São João, sempre lá pela meia­noite. Então eu vi todas essas coisas que nos ensinaram como folclore, como uma manifestação já passada, mas que não é bem dessa maneira que você tem que ver. Existem ritmos ali que podem ser aproveitados. E você pode aprender e tocar porque é de sua terra, é do Brasil, é uma coisa que você entende ­ é a tua língua."

Chico Science chega a ser didático na tentativa de explicar sua música ao jornalista Luís Cláudio Garrido, do Jornal A Tarde, de Salvador. Nada diferenciava Chico França dos outros rapazes com quem andava. Comungava com eles do gosto pelo rock e música negra americana. A banda paulistana Ira! era a predileta deles. À medida que suas amizades extrapolaram o bairro de Rio Doce, em Olinda, seus gostos foram mudando, como mudava a música naquela época. O som que fazia na Orla Orbe, com os amigos de Rio Doce, não era o mesmo que fez com o Bom Tom Radio, com Mabuse e Jorge du Peixe e que faria, depois, com a Nação Zumbi.

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