Cinema

A Luneta do Tempo tem detalhes das filmagens contados em livro

Filme de Alceu Valença ganhou também álbum duplo com a trilha sonora

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 03/05/2016 às 6:00
foto: Divulgação/Antonio Melcop
Filme de Alceu Valença ganhou também álbum duplo com a trilha sonora - FOTO: foto: Divulgação/Antonio Melcop
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A Luneta do Tempo, estreia de Alceu Valença como diretor, atração do Cine PE 2015, um ano depois já pode ser visto, lido e escutado. O filme está em cinemas do país, a trilha sonora nas lojas, e nas livrarias pode-se comprar o livro com o diário dos bastidores, escrito pelo jornalista carioca Julio Moura, com fotos de Antonio Melcop. “Tem uma coisa engraçadíssima. A crítica recebeu bem o filme, que vai ser lançado na França em agosto. Agora você ter que lutar contra a imbecilidade do duelo de Batman Versus Superman, então meu filme foi para cinco cinemas, não foi para cadeia onde passa Superman. Mas a crítica do Globo bate palmas pro meu filme, e fica com vergonha do filme de Batman, que é entretenimento, enquanto o meu é cultura. Eu gostaria também que as pessoas que fazem curadoria, para os ministérios, os os governos, olhassem mais a arte pelo viés da cultura e não do entretenimento”, comenta, provocador, Alceu Valença, em entrevista ao Jornal do Commercio.

O livro não precisou se preocupar com super-heróis. Está nas principais livrarias do Brasil, com selo e distribuição da Chiado Editora, que portuguesa, com certeza, mas mantém escritório em São Paulo. Julio Moura, calejado assessor de grandes gravadoras com sede no Rio, e crítico de jornais como O Globo, fora contratado por Alceu Valença para assessora-lo no lançamento do disco Ciranda Mourisca, em 2009. Quando chegou an casa do cantor para assumir o emprego, o encontra na sala com o também cantor Charles Theone trocando tiros imaginários, e impropérios de verdade: “Eu não estava sabendo nada do filme, e tomei um susto. Algum tempo depois fui convidado para trabalhar com ele no Luneta do Tempo, em que fui uma espécie de assistente, acompanhei as filmagens durante uns dois meses no Agreste, acabei atuando no filme”, conta Moura.

Como aponta o subtítulo, o livro é o “Companion” (grosso modo, complemento) oficial do filme. Julio Moura esteve no set de filmagem enquanto A Luneta do Tempo era rodado tomando anotações: “As pessoas no começo me estranhavam aquele cara o tempo todo anotando tudo, como se fosse um x-9”, comenta o jornalista, que se ocupa também da trilha: “Paralelamente, a parte musica lera trabalha no Papini Studio, na parte baixa de Olinda. Alceu gravava as canções que compunha para a trilha antes de testa-las nas vozes de Ari de Arimateia, Charles Theone e outros cotados para interpretar personagens que, além de cantar, precisavam dominar os estilos musicais do agreste e do sertão”, esclarece.

O filme que levou 15 anos para sair dos devaneios de Alceu Valença para se materializar nas telas e enfrentar Batman e Superman, é uma volta à São Bento do Una cujas lembranças habitam os desvãos da memória do artista, que lá viveu quando jovem, e para lá volta sempre. Numa destas voltas, um chapéu de cangaceiro, usado por ele numa série de TV na qual contracenou com a baiana Daniela Mercury, o levou a outro chapéu, este realmente de cangaceiro. 

Quando soube que Lampião e seu bando tenham sido dizimados em Angicos (SE), o então estudante de Direito, Décio Valença, pai de Alceu, foi com alguns amigos ao local da morte dos cangaceiros. Queria desmascarar a teria lombrosiana, proposta pelo jurista italiano Cesare Lombroso (1835/1909). os corpos (degolados), continuavam no local da chacina: “... Décio ainda levou de recordação um autêntico chapéu de cangaceiro que conseguiu apanhar para si naquele cenário devastador”. O chapéu escapou do tiroteio de Angicos, mas não da sanha de Alceu, irritado com a apologia que se tecia a Lampião, numa discussão entre os irmãos e amigos, pegou o chapéu e o fez, à faca, em tiras.

O chapéu cutucou as memórias de Alceu Valença, foi o estopim que deflagrou uma compulsão para escrever algo que ele não sabia, de início, se seria um romance, um cordel, só se sabe que ele desembestou a teclar num notebook, até um dia se encontrar, no Rio, depois de um show da banda paraibana Cabruêra, no Theatro Net Rio, se encontrou com o cineasta Walter Carvalho, lhe mostrou o texto. Carvalho lhe disse que aquilo era um filme. O tempo e suas idas e vindas. O Theatro Net Rio, chamava-se Tereza Rachel quando Alceu estreou ali o show Vou Danado Pra Catende, que daria no álbum Vivo, que 40 anos depois virou DVD, que será lançado quando setembro vier

(leia matéria na íntegra naedição impressa do Jornal do Commercio) 


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