Cantoria

Juraildes, Maciel e Xangai, um grande encontro em Boa Viagem

Mestres da cantoria cantam juntos pela primeira vez no Recife

JOSÉ TELES
Cadastrado por
JOSÉ TELES
Publicado em 06/05/2016 às 10:57
foto: divulgação
Mestres da cantoria cantam juntos pela primeira vez no Recife - FOTO: foto: divulgação
Leitura:

O goiano Juraildes da Cruz, o pernambucano Maciel Melo e o baiano Xangai se apresentam, amanhã e sábado, no Manhattan Café Theatro, em Boa Viagem. Pode até parecer uma brincadeira, afinal, a trinca é do ramo musical conhecido como cantoria, de inspiração nos sertões do Brasil. Caberia no Manhattan, que tem fama de ponto de música urbana, comercial? Onde cantou um Billy Paul, ou canta o sambista pop Diogo Nogueira, caberia a cantoria? A ideia, segundo o proprietário da casa, Ronald Menezes, é afastar o preconceito que existe com o bairro, em geral, e com o Manhattan em particular. Ou seja, atrair a turma do mercado público: "Queremos desmistificar o Manhattan como um lugar luxuoso e apenas pop. A gente faz o pop, mas não é a primeira vez que fazemos cantoria, que é um dos projetos que já existe e ao qual estamos dando continuidade", comenta o empresário.

Maciel Melo e Xangai já tocaram mais de uma vez no Manhattan, mas com Juraildes da Cruz é a primeira vez. Maciel e Xangai tornaram­-se ainda mais conhecidos pela participação na novela Velho Chico, da TV Globo, em que interpretam os cantadores que pontuam a trama. O terceiro, é um dos mais destacados nomes da cantoria sertaneja, do Centro­-Oeste, mas foi sufocado pela avalanche de duplas surgidas em seu Estado, Goiás, cujo estilo foi rotulado de sertanejo, da mesma forma como bandas de fuleiragem são tratadas como se de forró fossem.

Ironicamente, Juraildes da Cruz despontou nacionalmente num festival promovido pela Rede Globo, no início dos anos 80: "Gosto de voltar a Pernambuco porque sinto que a tradição continua sendo lapidada para as novas gerações. Aqui, em Goiás, me sinto um estranho no ninho, com esta música que chamam de sertaneja. Para os jovens, a verdade que conhecem é esta, um produto de venda imediata. Nós ainda temos a tradição, mas ela não aparece por causa desta plataforma midiática", queixa­-se Juraildes.

Apesar do rolo compressor "sertanejo", ele continuou gravando e fazendo shows, só parou quando as cordas vocais impediram: "Fiz uma cirurgia e estava sem conseguir cantar. Deu tudo certo, já estou recuperado. Na época gravava um disco que nem chegou a ser lançado", conta Juraildes da Cruz, que dia 19 canta em Brasília com Xangai.

Maciel Melo chegou depois dos dois. É mais conhecido como forrozeiro, um dos renovadores do gênero, mas seu LP de estreia, Desafio das Léguas é inteiramente de cantoria, e tem participação de Xangai (mais Dominguinhos, Décio Marques e Vital Farias). Maciel Melo teve que enfrentar as bandas de fuleiragem mas, assim como Juraildes da Cruz, cavou seu espaço e tem público certo. No Rio, participando de Velho Chico, ele descobriu que nem lá está livre das bandas: "Aqui nem gosto de dizer que sou forrozeiro, o que fazia com tanto orgulho, porque senão acham que faço o mesmo estilo que as bandas", queixa­se Maciel, com mais um disco de cantoria engatilhado, que só lança depois que terminar o contrato com a TV Globo.

O show de hoje e amanhã (às 21h) é um reencontro de amigos: "A gente nem precisa ensaiar, sabemos as músicas um do outro. É uma brincadeira", diz Juraildes da Cruz.

O show de Juraildes da Cruz, Maciel Melo e Xangai, acontece hoje e amanhã 21h, no Manhattan (Rua Francisco da Cunha, 881, Boa Viagem, fone: 3325 3372)

Últimas notícias