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Seminário discute o Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre

O congresso regionalista, comandado pelo sociólogo, completa 90 anos em 2016

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Publicado em 25/10/2016 às 6:57
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O congresso regionalista, comandado pelo sociólogo, completa 90 anos em 2016 - FOTO: Reprodução
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De volta ao espaço da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) que o abrigou por 23 anos, o Seminário de Tropicologia criado por Gilberto Freyre debate terça (25) um dos momentos fundantes da nossa ideia do Nordeste e do regionalismo. Com o professor Antônio Dimas, da USP , como convidado, o evento organizado por Fátima Quintas discutirá a partir das 9h os 90 anos do Manifesto Regionalista – um tema o mais freyriano possível.

Na sua palestra, Dimas comentará as origens intelectuais da ideias do autor ao longo dos anos 1920, quando ele volta ao Recife com 22 anos de idade, depois de estudar nos Estados Unidos. “Minha fala será fundamentalmente sobre essa transformação no intelecto dele que gerou o manifesto e, um pouco antes, o Livro do Nordeste”, adianta o docente. Ele ainda aponta que o regionalismo de Freyre geraria tensões no modernismo. “A presença de Freyre no modernismo gerou pontos delicados apesar da intermediação de Manuel Bandeira, mas eram tensões mais de caráter pessoal”, diz.

O encontro, portanto, vai abordar esse contexto intelectual, social e pessoal da década de 1920 – um período, destaca Fátima Quintas, que tem grandes movimentos, como a revolução feminina, a criação do Partido Comunista e a Semana de Arte Moderna. O sociólogo de Apipucos começou a tecer o manifesto no um pouco antes do congresso, quando organizou o Livro do Nordeste, publicado no centenário do Diário de Pernambuco – com a colaboração ilustre de Manuel Bandeira, que escreveu, atendendo a um pedido do amigo, Evocação do Recife

“Essas primeiras iniciativas de Freyre dão uma ideia da postura do autor diante da questão das origens, das raízes. Ele não nega a modernidade, mas a sua modernidade é diferente, não é importada”, comenta Fátima. “Freyre acredita que a modernidade tem que ter uma adaptação à realidade local.”

Para ela, existem três pontos a se destacar no manifesto. O primeiro é a importância singular que Freyre empresta à gastronomia – elevando-a ao posto de expressão cultural indispensável para se entender o regionalismo. “As pessoas estranhavam ver um antropólogo falando de receita de bolo. Freyre dizia que o homem não vive só de espírito, mas também de bolo de rolo e pão-de-ló. Esse destaque é, sem dúvida, um anúncio do que estaria por vir em Açúcar, de 1939”, ressalta a pesquisadora. “De certa forma, os anos 1920 são o período de sua preparação para escrever também Casa Grande & Senzala.”

SEM SEPARATISMO

Outro aspecto essencial é que Freyre ressalta, a todo momento, que não buscava criar um manifesto separatista. Pelo contrário: dividia o Brasil por regiões mais do que por estados, todos sob uma única bandeira. “É preciso enaltecer isso, dito com clareza por ele. O regionalismo não é um tipo de bairrismo, e sim uma forma de entender o Brasil dividido em regiões que têm culturas locais distintas”, explica Fátima.

Por fim, a pesquisadora da Fundaj ainda lembra a principal contribuição de Freyre para o debate do modernismo. “Ele propõe uma modernidade calcada na cadência história, feita com adequações, e não rupturas”, sintetiza.

Organizadora dos Seminário de Tropicologia, ela adianta que, de volta à Fundaj, a ideia é promover oito encontro anuais. “Também existe a possibilidade real dos anais saírem. Estamos tentando estabelecer os seminários no modelo inicial que Freyre criou”, aponta.

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