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Somos Soul reúne quatro gerações da música black brasileira

Gerson King Combo, do movimento Black Rio, é o decano da turma

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 08/11/2016 às 20:28
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Gerson King Combo, do movimento Black Rio, é o decano da turma - FOTO: foto: divulgação
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Vertentes diferentes do soul brasileiro convergem, de amanhã a sábado, para o espaço Caixa Cultural Recife, no projeto Somos Soul, com Gerson King Combo, Lady Zu, Simoninha e Negra Li. Cada qual com sua história, mas de alguma forma ligados à black music americana.

O carioca Gérson Rodrigues Côrtes, ou Gerson King Combo, o decano da turma, milita na música brasileira desde o início dos anos 1960. Ele participou do programa de Jair Taumaturgo, na extinta TV Rio, de onde foram catapultados para a Jovem Guarda nomes como Roberto Carlos, Erasmo Carlos ou Leno & Lilian. Gérson trabalhou no programa Jovem Guarda como coreógrafo: “Roberto é o padrinho do meu filho”, diz ele, que fez turnê com outro astro da música brasileira, Wilson Simonal: “Viajei com Simonal para os Estados Unidos, foi lá que conheci o movimento que os negros estavam fazendo na música e na política, Martin Luther King, James Brown e Malcolm X”, conta.

Simoninha entrou na música nos anos 1990, num quase movimento nascido na gravadora Trama, que abrigava os filhos da MPB da década de 60. Ele e o irmão Max de Castro, filho de Wilson Simonal, Luciana Melo e Jair, filhos de Jair Rodrigues, com João Marcelo Bôscoli e Pedro Mariano, filhos de Elis Regina, participaram do álbum Artistas Reunidos. Sua estreia, Volume 2 (2000), definia bem sua proposta musical. Um sambalanço contemporâneo, com toques de soul e com o suingue, ou “champignon”, que herdou do pai, de quem incluiu alguns sucessos no seu repertório, ao lado de composições de Jorge BenJor (Bebete Vãobora, Mas que Nada) e Moacir Santos (Nanã). Tem muito do showman que Simonal foi.

BLACK RIO E DISCO

Quando Simonal tornava-se o mais bem sucedido astro do país, Gerson King Combo começou a gravar como Gerson Côrtes. Teve até direito a canção inédita da grife Roberto & Erasmo (Quando a Cidade Acorda). Com Big Boy (Newton Alvarenga Duarte) e Ademir Melo, radialistas e disc-jockeys, produziam bailes na periferia do Rio com funk e soul, que atraíam multidões, a maioria de jovens negros, o embrião do que foi rotulado de Black Rio. Foi aí que nasceu o Gerson King Combo: “Trouxe dos Estados Unidos aquelas roupas de cafetão americano, sapatos plataformas, o cabelo grande, passei a cantar nos bailes do subúrbio. Fazia também bailes no Canecão com minha banda, a Gerson King Combo Brazilian Soul”, 

Ao mesmo tempo em que o Black Rio disseminava-se pelos subúrbios do Rio, e fazia ponto na mais badalada casa de shows da cidade, o extinto Canecão, em Botafogo, uma nova tendência da música negra americana tornava-se viral mundo afora, a disco music. As gravadoras brasileiras precisavam aproveitar a onda antes que ela virasse marola. Procuraram artistas nacionais que cantassem discothèque. Zuleide Santos Silva, 18 anos, paulistana, filha de pernambucanos (o pai era de Caruaru e a mãe, de Petrolina), bancária, foi indicada a Marcos Maynard, que começava sua carreira de sucesso nos bastidores das gravadoras e aprovou a jovem. 

Acertou na aprovação. Agora chamada de Lady Zu, Zuleide estourou, em 1977, com A Noite Vai Chegar, embalada pela novela Sem Lenço Sem Documento, em cuja trilha foi incluída. Depois com Hora de União, que entrou na trilha de umas das novelas mais bem sucedidas na história do gênero, Dancin Days: “Tem pessoas que têm sorte, outras não. Eu tive todas as bênçãos, cheguei no lugar certo e na hora certa”.

Embora tenha deixado de fazer sucesso depois do fim da disco music, com a chegada da lambada e do rock nacional, Lady Zu diz que nunca parou: “Continuei fazendo shows, meus dois primeiros discos, foram relançados por Charles Gavin, e 2017 gravo disco novo”, diz a a rainha da disco music no Brasil, ou, como a chamava Chacrinha, a “Donna Summer brasileira”.

A também paulistana Negra Li, aproveitando a expressão famosa de Caetano Veloso, é a linha evolutiva do Black Rio, faz o que passou a ser conhecido como pop, rap com R&B palatável. Tanto pode se encaixar no palco com um rapper quanto com uma banda de rock feito Charlie Brown Jr. Você Vai Estar na Minha, um dos seus sucessos, exemplica bem a música de Negra Li, que mescla rap com a música de Marisa Monte e Lino Crizz. Todas estas nuances com influências americanas devidamente abrasileiradas reúnem-se no show Somos Soul.

Show Somos Soul, com Gerson King Combo, Negra Li, Lady Zu e Simoninha, de amanhã a sábado, no Caixa Cultural (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife), às 20h, ingresso R$ 20 e R$ 10. Fone: 3425.1915

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