ESTREIA

O Mecanismo mira no intrincado esquema de corrupção do Brasil

Netflix lança os oito episódios da série de José Padilha e Elena Soarez nesta sexta-feira, 23 de março

JC Online
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Publicado em 23/03/2018 às 12:04
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Netflix lança os oito episódios da série de José Padilha e Elena Soarez nesta sexta-feira, 23 de março - FOTO: KARIMA SHEHATA/NETFLIX/DIVULGAÇÃO
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Na investigação iniciada pelo policial Marco Ruffo (Selton Mello) sobre as ações do doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz) está a semente do que mais tarde se desdobraria em uma grande operação. Por esse eixo tem início a série O Mecanismo, criada pelo diretor José Padilha e a roteirista Elena Soarez, que estreia nesta sexta-feira (23/3) pela Netflix em 190 países. O lançamento da produção reuniu diversos artistas no Rio de Janeiro.

A história ficcional sobre a corrupção no Brasil é inspirada no livro Lava Jato - O Juiz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil, escrito pelo jornalista Vladimir Netto. Assim que o projeto foi anunciado pela plataforma de streaming, os próprios brasileiros comentaram que seria um desafio acompanhar a complexidade do operação real. De fato, com tantos meandros e acontecimentos, a Operação Lava Jato poderia basear muitas séries e filmes.

Tanto que, antes mesmo da realização de uma segunda temporada ser confirmada pela Netflix, José Padilha e Elena Soarez já têm uma ideia sobre como dar continuidade à história. Tendo em mãos um tema de complexa abordagem, a dupla construiu o início de uma série no qual algo amplo como a discussão sobre a corrupção, trazida pelas cenas da operação policial, é mesclado com uma perspectiva mais individual, das histórias particulares de cada personagem.

"A gente estava o tempo todo buscando o equilíbrio entre a fidelidade ao espírito da investigação e a dramaturgia, pensando em fazer o entretenimento funcionar. Temos grandes estacas, que são os grandes eventos da Lava Jato, e fomos colocando as pequenas histórias, trançando isso e crescendo o roteiro", explica Elena Soares.

A apresentação de camadas dos personagens ficcionais, suas motivações e emoções, fica mais perceptível no que se refere à tríade formada pelo policial Ruffo, o doleiro Ibrahim e a delegada Verena Cardoni (Carol Abras). A investigação iniciada pelo obstinado Ruffo passa em determinados momentos da série para as mãos de Verena, que vê no personagem de Selton Mello um mentor, mas também tem voz própria na série. Os dois personagens, por sinal, dividem a função de narrador em O Mecanismo, comum a outras obras de José Padilha.

O público brasileiro deve reconhecer facilmente a maior parte dos personagens envolvidos na história (doleiros, políticos, empresários, juízes, etc.), ainda que os nomes deles, dos partidos, empresas e da polícia federal tenham sido trocados (na série, ela é chamada de Polícia Federativa, por exemplo). Pelo modo como a série foi construída, mesmo o espectador de outros países, sem acesso tão fácil ao mesmo volume de informações acerca dos casos reais, pode se sentir atraído pela trama sobre corrupção.

Abordagem

Tendo acesso aos três primeiros episódios, liberados previamente para a imprensa, não é possível dizer exatamente como todos os aspectos e personagens da Lava Jato chegam à ficção (a primeira temporada tem oito episódios). No entanto, em mais de um momento, ações e diálogos dos personagens criados por Elena e Padilha apontam para uma complexidade no tratamento dado ao tema – como nas cenas em que se fala que a obra de uma refinaria custou muito mais do que deveria para que algumas pessoas recebessem a "sua parte" ou quando alguém diz que paga propina para partidos da situação e da oposição com o objetivo de manter-se no poder.

É de se imaginar que a série tenha grande repercussão e que ao menos uma parte do público foque as dimensões do que José Padilha define como o mecanismo, que chega a diversas esferas da sociedade brasileira.  "Existe um debate FLA x FLU, esquerda x direita, que é um debate pessoal. Na minha opinião, isso é um debate idiota. A corrupção é sistêmica, não individual. Ao invés de olhar o individual, vamos olhar para o mecanismo", afirma o diretor.

Sobre a situação real, ele comenta: "Não está claro para mim ainda se o mecanismo vai ser desmontado. É bem mais complexo do que parece".

 

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