Artes visuais

Jaci Borba e os fios da memória na exposição 'Tramações: Linha'

Mostra ficará até o final de julho, no Instituto de Arte Contemporânea

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 07/06/2018 às 16:40
Bobby Fabisak/ JC Imagem
Mostra ficará até o final de julho, no Instituto de Arte Contemporânea - FOTO: Bobby Fabisak/ JC Imagem
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Desde que começou suas primeiras experimentações na arte, Jaci Borba utilizava a linha como potência poética em suas obras. Só recentemente, no entanto, ela identificou seu interesse por esse elemento da linguagem visual e percebeu que algumas questões se entrelaçavam e ecoavam não só no âmbito pessoal, mas também em reflexões sobre gênero, sexualidade e religiosidade. Esses cruzamentos permeiam os trabalhos que ela exibe em Tramações: Linhas, exposição que abre dia 7 de junho, às 19h, no Instituto de Arte Contemporânea.


O processo de Jaci foi potencializado pelo projeto de extensão Tramações: Cultura Visual, Gênero e Sexualidades, do curso de Artes Visuais da UFPE, coordenado pela professora Luciana Borre e do qual a artista é aluna. Nele, os participantes são estimulados a trabalhar as narrativas pessoais e como elas se emaranham no contexto social.

“Ainda criança, percebi na tridimensionalidade do bordado uma forma de ampliar desejos que já vinha tateando com o desenho. Quando comecei a analisar meu processo artístico, dentro da universidade, vi que a linha era parte indissociável da minha memória, de uma ideia de ancestralidade porque também remetia às mulheres da minha família”, explica Jaci.

Outros elementos que apareceram com recorrência na sua poética foram plantas e ervas. Na casa de sua família, a cura através da natureza era também uma forma de estimular os afetos. Ela evoca os cheiros que marcaram sua infância em totens expostos no IAC, nos quais estão entrelaçados, entre outros, anis e cravos.

Em suas obras, as linhas se apresentam de maneiras experimentais no crochê, bordado, gravuras e pinturas. Um dos trabalhos tem a silhueta da artista bordada em um pano, onde foram aplicados pedaços de seu cabelo. “Foi uma forma de me colocar ainda mais na obra, além de questionar como o corpo feminino é visto pela sociedade. O que o cabelo fala sobre a feminilidade construída?”, enfatiza.

MEMÓRIA

A memória de Jaci está impressa ainda em série de fotografias em que ela explora poética do vermelho. Em outras imagens, ela aparece em uma casa em processo de reforma. Ela estabelece um elo das ruínas com o esfacelamento – e reconstrução – que ocorriam em sua vida afetiva.

Essa ideia ecoa ainda em uma instalação na qual, em um pote, é colocada a aliança de seu casamento desfeito. Em outro, alguns preservativos. A provocação se põe: quais as expectativas que os relacionamentos sobre as mulheres? Como são vistos socialmente esses contratos amorosos versus o desejo feminino?

Às sextas-feiras, até o fim da exposição, Jaci receberá o público para escutar as narrativas dos visitantes e, posteriormente, imprimi-las no seu bordado poético.

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