Posicionamento

Artistas tiram peças do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos em apoio a peça com Jesus trans

Obra protagonizada pela atriz Renata Carvalho foi vetada do festival

JC Online
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Publicado em 31/12/2018 às 10:39
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Obra protagonizada pela atriz Renata Carvalho foi vetada do festival - FOTO: Divulgação
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A retirada de O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu – peça na qual a atriz trans Renata Carvalho interpreta a figura religiosa – da programação do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos (JGE) gerou muitas críticas de setores da classe artística, que consideram um ato de censura. Como forma de protesto, três produções desistiram de participar do evento: Altíssimo, da Trema Plataforma de Teatro; Solo de Guerra, de Cleyton Cabral, e Espera o Outono Alice, do Amaré Grupo de Teatro.

Esta é a segunda vez que a obra é vetada no Estado. A primeira foi em julho, no Festival de Inverno de Garanhuns, fato que teve repercussão nacional. Muitos artistas se posicionaram a favor da peça e contra a censura.

Pedro Vilela, ator de Altíssimo, é também produtor do Trema!, festival que trouxe O Evangelho Segundo Jesus... em junho. Na época, não houve protestos e a apresentação, pelo contrário, foi um sucesso, com o Teatro Apolo lotado. Renata foi ovacionada.

“Acreditamos que a censura imposta sobre essa obra que acolhemos com tanto prazer na edição 2018 do Trema! Festival fere nossa liberdade coletiva de ofício nesse momento crucial onde diversos festivais têm se posicionado como reais espaços de resistência ao fascismo e a onda conservadora que assola o país. Não podemos coadunar com mais esse passo da bancada evangélica em nosso Estado”, afirmou o produtor em nota publicada no Facebook.

Também na rede social, Cleyton Cabral se manifestou sobre a retirada de seu solo da programação do JGE.

“Nós nunca compactuaremos com a violência que pessoas e espetáculos vêm sofrendo nessa época sombria em que estamos vivendo. Solo de Guerra discute a homofobia e suas consequências na população LGBT+ do Brasil, sendo totalmente incoerente apresentar a temática no palco após os últimos acontecimentos”, escreveu.

O Amaré Grupo de Teatro também optou por retirar o espetáculo Espera o Outono, Alice da programação do festival. Em comunicado no Facebook, o coletivo pernambucano afirmou que é "contra toda e qualquer forma de censura, machismo, racismo e homofobia" e prestou solidariedade à esquipe de O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu.

"Fazer teatro no Brasil não é fácil, todos sabemos. É preciso lutar contra a falta de verba, falta de público e até contra a falta de incentivo e compreensão de parte da sociedade com relação à natureza de nossa arte. Também reconhecemos que o festival foi colocado em uma situação muito difícil e precisava tomar uma decisão a fim de continuar suas atividades. No entanto, não nos sentimos à vontade para continuar na programação ao constatar que uma colega de profissão não terá a oportunidade de apresentar um espetáculo que, aliás, tem como tema justamente a tolerância, a união e a compreensão entre as pessoas.

O Janeiro de Grandes Espetáculos é um festival que conseguiu ser longevo justamente por conta da diversidade e pluralidade de suas atrações. Sendo assim, nos resta, mais uma vez, lamentar a não apresentação do monólogo O evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu e defender o trabalho de Renata. Em momentos turbulentos nos quais supostas verdades absolutas tentam calar a arte e a diversidade, precisamos nos unir,ocupando os espaços e propagando nossas crenças e nossas vozes", afirmou o grupo.

POSICIONAMENTO DO JANEIRO DE GRANDES ESPETÁCULOS

Em carta aberta, a Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) disse que um dos motivos do cancelamento foi a pressão da bancada evangélica. A assessoria do Janeiro informou que os dias e horários de ambas as peças não serão preenchidos por outros espetáculos.

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