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No meio da chuva, Roberta Miranda e Jards Macalé comandaram a noite do FIG

Com referências orgulhosas ao Nordeste, artistas encerraram a programação de terça dos palcos Mestre Dominguinhos e Pop

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 24/07/2019 às 11:44
Foto: Felipe Souto Maior/Fundarpe
Com referências orgulhosas ao Nordeste, artistas encerraram a programação de terça dos palcos Mestre Dominguinhos e Pop - FOTO: Foto: Felipe Souto Maior/Fundarpe
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A chuva que caiu leve durante quase toda a noite da terça (23) em Garanhuns apertou um pouco durante o show de Roberta Miranda, que terminava a programação do dia. Ainda assim, disposta a se aproximar do público, a cantora pegou um guarda-chuva emprestado para andar pela área descoberta do palco Dominguinhos do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG),

Depois de uma noite aquecida pelo forró, com Nando Azevedo, um show especial de Anastácia e Terezinha do Acordeon para Dominguinhos e o repertório consagrado de Maciel Melo, a abertura da apresentação de Roberta veio com Majestade, o Sabiá, um dos seus maiores sucessos. Aí, ela já mostrou que o show não teria nada de protocolar: Roberta soa espontânea mesmo nos gestos mais casuais. No palco, comemorou o fim das saudades de sete anos do FIG (“eu devia vir todo ano”) e exaltou sua ligação com o Nordeste após a declaração preconceituosa de Jair Bolsonaro, mas sem referência direta ao presidente: “Eu, Roberta Miranda, sou nordestina e amo o povo nordestino”.

A cantora paraibana chamou o intérprete de libras para o centro do palco, aceitou um ursinho de pelúcia de presentes (que disse que ia passar ao seu xodó, o cachorro Frederico, várias vezes citado na apresentação), fez discretamente o passinho recifense e falou de si mesmo na terceira pessoa (mas sem nenhuma afetação). Sobre o guarda-chuva, confessou brincando que o pegou emprestado “à força” de alguém do público.

Sempre acompanhada pelo público em uma Praça Guadalajara cheia, tocou violão na faixa Apesar de Não Te Ver e entoou Meu Grande Bem(em versão bolero) De Igual para Igual e Cadê Você?. O show reforça a presença constante de Roberta no imaginário da canção popular brasileira, com sua presença em rádios e trilhas de novelas. Como não podia deixar de ser, ela homenageou Dominguinhos cantando Forrépeando com sua letra simbólica: “O meu pai pernambucano/ A minha mãe da Paraíba/ Aqui dentro de mim tem a força do nordeste/ Um pouco de Lampião/ Outra metade, paulista”.

JARDS MACALÉ

No FIG para apresentar o show do seu novo disco, Besta Fera, o carioca Jards Macalé também criticou indiretamente a declaração de Bolsonaro - um tônica em muitos shows do FIG até aqui. Entre composições icônicas e faixas do seu último álbum, fez um show contido, mas marcante. Fechando a noite depois das apresentações do pernambucano Cassio Oli e do paulista Cacá Machado na estreia do Palco Pop neste FIG, trouxe ainda duas homenagens de peso.

Uma delas a Jackson do Pandeiro, nome celebrado no festival. Jards contou que conhecia o cantor desde pequeno e teve a honra de ter uma música sua, Revendo Amigos, “dublada” pelo mestre em Amuleto de Ogum, raro filme de Nelson Pereira dos Santos, de 1974. A composição, dele com Waly Salomão, foi uma das preciosidades do show.

João Gilberto também foi lembrado no meio de um dos maiores sucessos de Jards, Mal Secreto. O clima soturno do último disco (e talvez do mundo atual) se fez presente também, com faixas como a poderosa Trevas.

INSTRUMENTAL

A terça também foi a noite da estreia do palco instrumental do Festival de Inverno. Aberto pelo Baião di Três, o espaço contou uma apresentação de Mestre Choco, acompanhado do grupo Unidos dos Guararapes. Ícone do chorinho, aos 95 anos Choco mostrou que continua com uma destreza absurda, se emocionou ao falar da honraria de Patrimônio Vivo de Pernambuco e tocou Derramada no Deserto, sua primeira música composta para o violão, na década de 1940, apresentada em um concurso de calouros da Rádio Jornal.

A noite ainda contou com Augusto Silva e Frevo Novo, com um show celebrando o ritmo pernambucano - Augusto foi acompanhado por Léo do Pife, Valtinho de Souza, Gilberto Bala e Liedo Ferreira. Para continuar no frevo de lado, Maestro Duda fechou a noite em grande estilo.

*O repórter viajou a convite do evento.

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