Uma das características de um evento cultural de grande porte é a sensação de impossibilidade que ele passa para alguns - é inútil tentar acompanhar tudo o que se deseja. No último dia do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no sábado, por exemplo, o cenário era impressionante. Para quem guardou fôlego mesmo com a programação de circo, cultura popular, literatura, formação, artes visuais durante o dia, a noite foi repleta de escolhas: praticamente no mesmo horário (também por conta de atrasos), havia a opção de ver Ave Sangria no Palco Pop, João Bosco na Catedral de Santo Antonio, Spok Frevo Orquestra no Palco Instrumental, Maciel Salu no Palco Dominguinhos ou Sofia Freire no Som da Rural.
João Bosco, por exemplo, lotou completamente o espaço da Catedral, com pessoas em pé pelos corredores. A organização do espaço precisou restringir a entrada de mais pessoas; sorte que um telão havia sido colocado no lado de fora. Apesar de um problema insistente no som, o músico mineiro apresentou o show Mano que Zuera, com canções como E Então, Que Quereis..?, Corsário, De Frente pro Crime e Mestre Sala dos Mares, entre outras. Também homenageou Jackson do Pandeiro entoando Falsa Patroa.
Leia Também
- Abertura do FIG 2019 tem clima político ameno e sucesso de 'O Som e a Sílaba'
- FIG 2019: Elba Ramalho brilhou em noite de homenagem a Jackson do Pandeiro
- Falas contra Bolsonaro e pró-Nordeste marcam terceira noite do FIG 2019
- FIG 2019: Letrux, Karina Buhr e Céu promovem catarse coletiva
- FIG 2019: Noite do Brega faz história e reúne 30 mil pessoas
- No meio da chuva, Roberta Miranda e Jards Macalé comandaram a noite do FIG
- Lenine e Otto fazem uma noite pernambucana no FIG 2019
- No FIG, Fafá de Belém mostra seu romantismo 'com orgulho e alegria'
- Alcione lota o Palco Dominguinhos na penúltima noite do FIG
Um pouco mais cedo, no palco Instrumental, a Spok Frevo Orquestra abraçou a missão de finalizar a programação do espaço. Celebrando os mestres vivos e mortos do ritmo, Spok começou o show com Papo de Anjo, a primeira música gravada pela banda, há 15 anos. O repertório ainda teve Nino Pernambuquinho, Ninho de Vespa e Spokiando, entre outras. “Sempre gostei de tocar na rua, recebendo banho de cerveja e sendo empurrado por gente bêbada. Mas também queria tocar em palcos, com as pessoas ouvindo com outra atenção”, falou o maestro. Antes, o palco recebeu os shows de Estação Brasil, Gian Correa e Rogério Caetano e de Di Steffano.
PALCO DOMINGUINHOS
Já no Palco Dominguinhos, a noite começou com Andrea Amorim. Maciel Salu e sua rabeca subiram ao palco logo depois, com o show Liberdade, com faixas do seu quinto disco. Também com apresentação nova para o FIG, a Mundo Livre S/A trouxe clássicos e novidades do disco A Dança dos Não Famosos. Assim, o teor político de faixas como Eletrochoque de Gestão e Meu Nome Está no Topo da Sagrada Planilha se irmanou a Meu Esquema, Computadores Fazem Arte e Mexe Mexe. Além de manifestar apoio a Lula, o vocalista Fred Zeroquatro fez críticas a Bolsonaro e Moro. Uma das canções, O Mistério do Samba, estabeleceu um diálogo com os shows seguintes, de Mariene de Castro e Maria Rita.
Mariene fez do palco um altar - para a sua ancestralidade e também para o samba. Com um belo vestido dourado, fez um show hipnotizante, com um setlist voltado para louvações a Oxum e outros orixás. Cantou Falsa Baiana, Pureza da Flor, Vi Mamãe Oxum na Cachoeira, O Vira e muitas outras.
Trouxe ainda duas participações especiais para o palco. A primeira foi de Almério, com quem cantou Canto de Ossanha. Depois, chamou ao palco Lia de Itamaracá, em um vestido tão bonito quanto o de Mariene. As duas cantaram a ciranda famosa de Lia, Eu Tava na Beira da Praia. Quando Lia já ia deixar o palco, perguntou se poderia cantar mais uma música - e quem diria não a um ícone como ela?
Maria Rita entrou no palco por volta das 1h30, uma hora depois do previsto - afinal, foram vários atrasos ao longo da noite. Também no samba, começou trazendo um clássico, Não Deixe o Samba Morrer.
Animada e emocionada, Maria Rita confessou sua admiração pelo FIG: “Minhas memórias de dez anos atrás não podiam estar erradas”. Também cantou A Pureza da Flor, mas trouxe um repertório amplo, com Cara Valente, O Show Tem que Continuar, É (de Gonzaguinha) e Vou Festejar. Como uma música ficou prejudicada por uma falha no som, decidiu sem drama repeti-la. Quando o público aproveitou um intervalo para cantar em apoio a Lula, ela apenas sorriu e disse: “Muito orgulho de vocês”. No entanto, o momento mais emocionante, sem dúvida, foi quando ela interpretou O Bêbado e o Equilibrista, famosa na voz da sua mãe, Elis Regina.
* O repórter viajou a convite do evento.