Patrimônio Vivo

Cambinda Brasileira: Guardião da memória do baque solto

Tradição religiosa e formação de novas gerações são segredos da longevidade do Cambinda

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 16/08/2019 às 18:38
Foto: Heudes Regis/Cortesia
Tradição religiosa e formação de novas gerações são segredos da longevidade do Cambinda - FOTO: Foto: Heudes Regis/Cortesia
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Vai ter festa no Terreiro Mágico e no céu. Nesta sexta-feira (16)  o Cambinda Brasileira entrou no Teatro Santa Isabel para receber o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Foram 14 tentativas. 14 anos de persistência. 14 candidaturas desde que o concurso foi criado. Mas chegou. Neste 2019, o maracatu de baque solto mais antigo do Estado em atividade contínua completou 101 anos. O presente não veio no centenário. Mas chegou. Na crença dos integrantes do grupo, guardiães que já se foram como João Padre e Zé de Carro acompanharam a celebração de algum lugar.

Fundado no dia 5 de janeiro de 1918 em Nazaré da Mata, Cambinda Brasileira é referência no baque solto. É o único maracatu que brigou pra manter sua sede na zona da rural, numa casinha encravada na paisagem coberta pelo verde da cana-de-açúcar. O terno do Cambinda é como a bateria da escola de samba da Mangueira: de uma magia intrigante. Maracatuzeiros de toda a região sonham em um dia passar pela mãe-Cambinda. Sem falar no terreiro de barro vermelho cheio de mistérios que recebeu o apelido de “Terreiro Mágico”. A Cambinda do Cumbe, como é carinhosamente chamada, também é grandiosa pela sua tradição religiosa, mantida pela liderança e o amor da madrinha espiritual D. Biu.

Aos 70 anos, é ela quem prepara o grupo há 50 anos. Andar ligeiro, um cigarro atrás do outro, atenta a tudo o que acontece dentro do brinquedo e sempre muito emotiva. “Tô fazendo tudo pra segurar a emoção esses dias antes da entrega do diploma. É uma emoção muito grande porque meu irmão Zé de Carro lutou muito por isso e agora conseguimos”, diz, adiantando que tomou as precauções espirituais antes de vir à celebração. D. Biu sempre evoca Deus, a Jurema Sagrada e o Rei Salomão para proteção.
Na festa de hoje, Cambinda vai fazer o encerramento, levando os participantes a sambar maracatu na saída do teatro.

FESTA NO CUMBE

Neste domingo (18) será o dia da festa no terreiro do Cumbe, em Nazaré da Mata, com previsão de começar a partir das 12h, com presença do mestre Veronildo, dos folgazões de Cambinda, da comunidade maracatuzeira da região e de convidados. “O título de Patrimônio vai ajudar a garantir sustentabilidade ao grupo, que hoje vive das apresentações e dos projetos que conseguimos viabilizar. Com esse apoio financeiro as coisas ficam mais fáceis. Cambinda se candidata ao concurso desde a primeira edição, lutamos por 14 anos e eu acredito que saiu agora porque tudo acontece no tempo de Deus. Eu estou no Cambinda desde 2008, mas o título veio justo no ano que eu estou atuando como presidente e isso pra mim foi um presente”, acredita Edlamar Lopes. “Nossa missão agora é honrar esse título de Patrimônio fazendo o que sempre fizemos: defendendo e perpetuando a cultura popular”, assevera o vice-presidente Luiz Fernando da Silva.

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