Educação familiar

Entrevista: Cris Poli fala sobre segredos de uma boa educação infantil

Famosa ao comandar o SuperNanny, no SBT, Cris Poli diz que impor limites é um dos pontos principais para educar; confira a entrevista completa

Robson Gomes
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Robson Gomes
Publicado em 27/08/2017 às 5:00
Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem
Famosa ao comandar o SuperNanny, no SBT, Cris Poli diz que impor limites é um dos pontos principais para educar; confira a entrevista completa - FOTO: Foto: Luiz Pessoa/JC Imagem
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Argentina radicada no Brasil, a pedagoga e escritora Cris Poli tem 71 anos e 40 dedicados à educação infantil. Ficou famosa ao comandar o SuperNanny, no SBT, por dez temporadas. De passagem pelo Recife para uma disputada palestra em um colégio particular, a educadora conversou com o Jornal do Commercio sobre sua vida e, claro, a relação pais e filhos.

ENTREVISTA // CRIS POLI

JORNAL DO COMMERCIO - Cris, você é uma argentina residente no Brasil há mais de 30 anos. Na sua opinião, o que lhe torna uma brasileira nata?
CRIS POLI - Primeiro o tempo em que estou aqui. Segundo que eu tenho uma filha que é brasileira. Eu tenho três filhos, dois são argentinos, mas a menina nasceu aqui. E todos os meus filhos são casados com brasileiras. E eu tenho cinco netos brasileiros. Quer mais motivos do que isso? (risos)

JC - Em que momento você percebeu que a educação infantil era o seu destino?
CRIS
- Acho que desde sempre. Porque eu comecei a trabalhar muito nova. Aos 18 anos, eu já trabalhava em escola e vi a importância dos primeiros anos de vida da educação. O meu trabalho meio que se fundamentou nesse período que a gente chama de primeira infância, porque ele é fundamental para o futuro desse ser humano. Às vezes é um período que as pessoas meio que desconsideram porque 'criança pequena não entende muito', ou 'é melhor pensar num trabalho para os adolescentes', mas o melhor tempo de investimento é nessa primeira idade, nessa primeira infância.

JC - Existe alguma diferença muito latente na educação brasileira em relação à educação argentina?
CRIS
- Eu creio que os pais brasileiros estão terceirizando mais a educação dos filhos do que os pais argentinos. Acredito que os pais argentinos têm mais consciência da necessidade maior de estar em contato com as crianças, e os pais brasileiros estão muito focados no trabalho, em ganhar dinheiro para comprar coisas, adquirir bens, e as crianças estão muito terceirizadas. Isso tem sido muito complicado aqui no Brasil.

JC - É impossível não lembrar de sua experiência como apresentadora do SuperNanny. Qual foi o maior aprendizado para você naquelas dez temporadas?
CRIS
- Nossa, aprendi muito com esse programa! A lição mais forte que aprendi foi não julgar as pessoas. Porque a gente vê a aparência, uma situação X e o ser humano é muito rápido para julgar. Com o programa, aprendi que é preciso conhecer as pessoas, as situações de cada família. Porque cada família tem uma história, tem um porquê, que dá para mudar, dá para ajudar, mas não é para julgar, bater o martelo condenando ou absolvendo. Esta foi a lição mais forte daqueles dez anos.

JC - A versão brasileira de SuperNanny se tornou referência no mundo. Você se sente orgulhosa pelo trabalho desempenhado no programa?
CRIS
 -Muito! Sou muito grata a Deus por permitir me fazer esse trabalho. E sou muito orgulhosa do tipo de trabalho porque era uma novidade para todo mundo. Era primeira vez do SBT, para mim, a produção, a direção, para todos. E todo mundo se apaixonou pelo programa porque foi feito com muito amor, carinho e dedicação. Todos aprenderam muito e isso era visto na produção. Isso me deixa feliz e muito grata de ter participado.

JC - Você tem três filhos. Em algum momento, na criação deles, você já se contradisse em algo que prega em seu trabalho?
CRIS
- Ah, a gente erra muito! Principalmente quando fui mãe de primeira viagem. Tive o meu primeiro filho também, que foi muito desejado, porque eu tinha dificuldades para engravidar. Na segunda, eu viajei para fora do País... A gente erra muito, mas como eu sempre digo nas palestras para os pais e mães que têm consulta comigo: A gente vai errando, mas vai reconhecendo o erro, corrigindo e tentando acertar. Isso comigo não é diferente. Não é porque eu fiz o SuperNanny ou porque trabalhei a minha vida inteira em educação que eu sou infalível. Eu fiz sim coisas erradas, corrigi e isso me serve de experiência hoje para poder aconselhar outras pessoas.

JC - Seu mais recente livro - Atenção! Tem Gente Influenciando Seus Filhos (Mundo Cristão, 2016) - orienta sobre interferências negativas no comportamento das crianças. A internet é uma delas?
CRIS
- Sim. Pode ser uma ferramenta sensacional, mas a internet é muito traiçoeira. Porque você não tem filtro para o que entra dentro das casas, e as crianças não têm maturidade para poder ver uma coisa ou não. Isso acontece com os adultos também. Nem eles às vezes têm maturidade suficiente para filtrar aquilo que entra. Por isso que é preciso os pais juntos para poder ajudar essas crianças orientando o que elas podem consumir ou não.

JC - Muitos pais se preocupam atualmente com esse mundo tecnológico e o desinteresse dos pequenos com a vida social, de brincar nas ruas como antigamente. Como incentivá-los a ter esse contato mais social e menos virtual de convivência?
CRIS
 - Os pais precisam estar presentes e organizar a vida das crianças para que elas tenham esses momentos também. Porque as crianças sozinhas, assim como os adultos, não têm essa organização, como também para alternar com outras atividades de interação com a sociedade. Porque nem os adultos estão tendo tempo, estão se isolando também. Se eles não estão tendo maturidade para poder organizar a vida deles, imagina a vida dos filhos? Então tem que organizar, fazer uma rotina, incluir outras atividades com amigos, passeios, leitura... Tem que fazer parte da rotina do dia-a-dia, mas isso é preciso a presença dos pais. Se os pais não estão e deixam eles com outras pessoas, para essas pessoas é muito mais fácil colocar uma criança na frente da internet ou do videogame porque não perturba.

JC - Até que ponto o 'só dessa vez' pode deseducar uma criança? Qual é o momento certo de impor limite?
CRIS
 - O momento certo é quando a criança nasce. É impor limites o tempo todo. Vivemos em uma sociedade com limites e as crianças precisam aprender limites em casa. Não é 'só dessa vez', é 'assim, e pronto'. Acabou. Só que os pais precisam ter certeza, convicção do que estão falando para as crianças. E isso não está acontecendo.

JC - Qual a dica primordial para que 'Pais Educadores' tenham 'Filhos Vencedores'?
CRIS
- A presença deles na vida dos filhos. Os pais precisam organizar a vida deles para ter tempo de qualidade com os filhos. É preciso entender que as crianças precisam de muitas coisas, mas elas precisam deles - dos pais - mais do que qualquer outra coisa. Mais do qualquer brinquedo ou viagem. A presença deles é primordial.

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