Triste

O último toque para Marcos Axé

Sepultamento do músico, morto no domingo de madrugada, foi acompanhado pelos colegas e fãs em ritmo de reverência e saudade

Bruno Albertim
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Bruno Albertim
Publicado em 20/11/2017 às 20:55
Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
Sepultamento do músico, morto no domingo de madrugada, foi acompanhado pelos colegas e fãs em ritmo de reverência e saudade - FOTO: Foto: Felipe Ribeiro/JC Imagem
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Nesta segunda-feira (20), os tambores e agbês do maracatu tocaram sob tristeza. Por volta das 16h, dez músicos começavam a entoar seus instrumentos e batidas no meio das cerca de duzentas pessoas no cortejo de sepultamento do percussionista Marcos Axé. Lágrimas, abraços e vozes compartilhados em canções afirmativas como O Canto das Três Raças, cantada como um hino, marcaram as últimas homenagens ao músico, membro da banda do cantor e compositor Otto, morto por um infarto na madrugada do sábado para o domingo, horas antes de poder subir ao palco do Mimo Festival para tocar no show do amigo.

“Axé era um menino quando veio pra minha banda. Vinte anos depois, ele se vai. Deixou uma marca muito bonita na vida. Percussionista incrível, um amigo, um irmão, filho, compadre. Conheço poucas pessoas com a inteligência e a sabedoria de Axé. Um líder e representante da música brasileira no mundo. Vai deixar saudade pra muita gente. Viva Axé”, disse, muito emocionado, Otto, um dos responsáveis por carregar uma das alças do caixão fúnebre.

Além dos familiares e muitos amigos do bairro de Peixinhos, onde Marcos Axé viveu e cresceu musicalmente em bandas como a de samba reggae Lamento Negro, um dos grupos dos quais derivou a Nação Zumbi, muitos nomes da cena pernambucana marcaram presença na despedida.

Muito amigo de Marcos Axé, com quem mantinha parcerias musicais, o cantor e compositor Tiago Andrade, conhecido artisticamente como Zé Cafofinho, contribuiu com a condução do cortejo. “Axé é uma das pessoas que mais vai me fazer falta na vida. Além do talento, era uma das pessoas mais inteligentes que conheci na vida. Era um oxaguiã que já nasceu pronto”, disse ele que, atualmente, mora em São Paulo e estava no Recife justamente para conferir os shows do festival Mimo. “Ele tinha esse poder de agregar muita gente. Até na hora de sua morte foi assim”, disse. Ao lado de músicos como Lirinha ou Canibal, a multiartista Catarina Deejah soltava recortes de papel colorido na forma de letras e flores como forma particular de homenagem.

“Axé era um músico brilhante. Que sua memória não seja esquecida”, dizia, também no cortejo fúnebre, Duda Vieira, empresário de Otto e sua banda. Axé fez seu show na banda na última sexta, quando Otto encerrou a primeira noite do festival Arte na Usina, no município de Água Preta, Mata Sul de Pernambuco. “Ele voltou muito feliz, rindo, fazendo piadas. Hoje, nos despedimos dele”, comentava o trompetista e também companheiro de banda Márcio Oliveira.

Na tarde do domingo, o corpo de Marcos Axé havia sido velado na Associação de Moradores de Peixinhos. A Prefeitura de Olinda declarou luto oficial de três dias pela morte do artista. Um dos personagens fundamentais da cena pernambucana nos anos 1990, Axé tocou também nas bandas Mundo Livre S/A, Baião D3, Coco Mazurca, Rumbanda e Nação Zumbi, além de seu projeto solo Negrito Guapo.

LUTO SOB PROTESTO

Otto também lamentava a falta de um cardiologista de plantão na unidade de pronto atendimento (UPA) de Olinda em que o amigo foi atendido. “Isso poderia talvez ter revertido a situação. É triste também ver como a população mais carente, que depende só serviço público, pode morrer com muito mais facilidade”.

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