Gênero

Mulheres ocupam menos cargos de liderança, apesar da alta escolaridade

Estudos do IBGE apontam que as mulheres estão cada vez mais qualificadas, mas a participação em cargos de liderança vem caindo

Bruno Vinicius
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Bruno Vinicius
Publicado em 04/06/2018 às 8:10
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Estudos do IBGE apontam que as mulheres estão cada vez mais qualificadas, mas a participação em cargos de liderança vem caindo - FOTO: Foto: Pixabay
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As estatísticas provam que o trabalho feminino ainda é desvalorizado no Brasil: as mulheres trabalham mais, estudam mais, porém ocupam menos postos de chefia que os homens. Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD C) de 2016, revela que apenas 37,8% dos cargos gerenciais no País são ocupados por elas. Quando comparados aos anos anteriores, os índices demonstram uma queda da participação feminina no comando. Especialistas apontam que a crise econômica aliada à múltipla jornada são fatores que contribuem para o decréscimo.

De acordo com os estudos do IBGE, a recessão econômica brasileira agravou a situação das classes mais vulneráveis do País, em que as mulheres estão incluídas. “Em anos de crise, as mulheres, os jovens e os negros são os mais afetados, justamente por essa instabilidade”, explica a gerente da Coordenação de População e Indicadores Sociais da instituição, Barbara Cobo, em entrevista ao JC.

Um dos pontos que colaboram para a diminuição da liderança feminina nos setores público e privado é a tripla jornada, ou seja, além das obrigações dos postos de trabalho, as mulheres gastam mais horas com afazeres domésticos que os homens. Dados extraídos da PNAD C apontam que as mulheres se dedicam aos cuidados com pessoas e a trabalhos relacionados à casa com 73% de horas semanais a mais que os homens – 18,1 horas contra 10,5 horas.

Quando se faz um recorte de raça, a diferença é ainda maior: pretas ou pardas dedicam 19 horas semanais para realizar atividades voltadas ao ambiente doméstico.“Olhando para o interior desses dados, é preciso que haja esforços mais eficazes que garantam também a igualdade de gênero para mulheres pretas e pardas”, conta Barbara Cobo, argumentando que são necessárias políticas para estabelecer uma igualdade racial dentro do recorte de gênero.

 

DESVALORIZAÇÃO

Em contrapartida à baixa presença em cargos de liderança, a participação feminina na construção da pesquisa e da pós-graduação no Brasil só cresce. É o que confirma o relatório da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com extração de dados da Plataforma Sucupira, mostrando que as mulheres são maioria tanto no mestrado quanto no doutorado.

“Isso vem no esteio da sociedade patriarcal: mesmo que as mulheres tenham a mesma capacidade, essa estrutura não aceita que ela esteja em pé de igualdade. E não estou falando dos homens, mas sim dessa cultura do patriarcado que vê a mulher como o sustento do sucesso da carreira do homem. Então, muitas vezes, precisamos nos capacitar muito mais para termos esse reconhecimento”,argumenta a especialista em gênero, desenvolvimento e políticas públicas, Paty Sampaio.

Outro ponto que a especialista levanta é questão da desvalorização do trabalho feminino. Segundo ela, as mulheres também enfrentam a desproporção salarial quando ocupam os mesmos lugares que os homens: “Isso pode ser associado à subvalorização do trabalho feminino e a não divisão de tarefas no ambiente doméstico. Quando nós vemos nas estatísticas, por exemplo, que a mulher ganha menos que os homens num mesmo cargo é em função disso”.

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