O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou como superstar na competição internacional de habilidades técnicas Worldskills, que está sendo realizada até o domingo, em Leipzig, na Alemanha, e tem 41 brasileiros entre os mais de mil competidores. Lula percorreu por meia hora os pavilhões da Leipziger Messe e passou pela frente de alguns técnicos brasileiros. Começou na área de marcenaria de estruturas, onde observou o trabalho de Leandro de Lima. Depois passou pela tornearia mecânica (curso o próprio Lula fez, quando adolescente), onde trabalhava Jacques Carvalho e na sequência visitou o setor de mecânica integrada, onde estava o trio paulista Arialdo Júnior, Daniel Minutti e Arthur Oliveira. Lula foi ainda na área de mecânica de refrigeração, onde trabalhava Felipe Benício, na de construção de alvenaria, onde competia Ariel Bertoluti, e no setor de assentamento de revestimento cerâmico, onde viu Geovane da Silva fazendo o assentamento do dia.
Os competidores ignoraram solenemente Lula e toda a sua entourage (havia pelo menos umas 30 pessoas entre empresários, presidentes de entidades da indústria, alemães, tradutores, cerimoniais, jornalistas...) São treinados para isso. Se perdem a concentração, vai ter sempre um coreano, um alemão ou um japonês no estante do lado para passar na frente. O presidente do Senai, Rafael Lucchesi, e o vice-presidente do Worldskills (que congrega escolas técnicas de todo o mundo) explicaram ao ex-presidente que o grupo recebeu treinamento comportamental para conseguir se concentrar em meio à balbúrdia do evento.
Na sequência, o presidente discursou no Fórum de Líderes do Worldskills, uma plateia de cerca de 500 pessoas de várias nacionalidades. Foi apresentado por um egresso do ensino técnico como ele, Natã Barbosa, que em Worldskills 2011, em Londres, foi medalha de outro em webdesign. Natã, hoje dono da sua própria empresa, depois do Worldskills conseguiu um estágio de três meses em Cingapura. Falando em inglês e português, o jovem de 21 anos disse à plateia que Lula começou sua jornada na educação profissional, trabalhou duro e ajudou a construir o futuro do Brasil. Ganhou um abraço apertado do presidente. E uma piada “se na minha época tivesse Worldskills acho que eu tinha ganho pelo menos medalha de bronze. Como não tinha, vou ser sócio da sua medalha”.
O tom foi descontraído e cheio de brincadeiras. “Não gosto de falar enquanto as pessoas esperam o almoço. Mas pelo menos não estou vendo nenhum ovo nem tomate. Ninguém vai jogar nada em mim”
Lula voltou a enfatizar sua relação com o ensino técnico. “Fui estudante do Senai e foi através dele que eu mudei a minha vida. Foi o diploma de torneiro mecânico que me fez arrumar um emprego melhor, trabalhar numa empresa melhor e ganhar um salário melhor. Por tudo isso pude ter coisas que nenhum parente meu tinha tido na vida. Fui o primeiro a ter um carro, uma televisão, uma geladeira e a virar um presidente da República.”
“Depois do Senai eu conquistei minha cidadania como. Quem nunca precisou procurar emprego, já nasceu com condições de ter um curso superior não tem ideia do que é um adolescente procurar emprego sem profissão”, continuou. Disse que isso era também muito importante para a mulher. “Para que tenha independência”. Foi a deixa para elogiar pela primeira vez a presidente Dilma Rousseff. “Eu tenho a alegria de ter em meu país uma mulher presidente. Isso é uma coisa muito importante.”
Aproveitou para elogiar o governo do PT nas áreas de inovação, pesquisa científica, parcerias com o empresariado. Para ele, dos anos 80 aos anos 2000 o Brasil teve duas décadas perdidas, na sua opinião principalmente pela questão da dívida externa.
Falando especificamente do ensino técnico, contou que de 1909 (ano em que foi instalada a primeira escola técnica no Brasil) a 1998, 140 dessas instituições foram instaladas. “Quando terminei o meu mandato, a gente tinha construído 214 escolas técnicas. Agora a presidente Dilma quer fazer 208 até o fim do mandato. Vamos ter 336 mil alunos matriculados em escolas técnicas. E eu quero ver mais de um milhão de estudantes nesse universo. Destacou ainda o programa Ciência sem Fronteira, que deve enviar ao exterior 100 mil alunos até 2015. “Vamos formar verdadeiros gênios para a indústria e o desenvolvimento do País.”
Quero que a educação técnica acompanhe o desenvolvimento do país. Por conta da escassez de mão de obra, os preços dos serviços estão subindo. A formação profissional exige uma combinação entre o estado brasileiro e os empresários. Por isso eu não poderia deixar de vir a esse encontro.”
E concluiu: “Sou garoto propaganda nesses cursos profissionalizantes e não cobro para fazer merchandising. Sei do que ele fez por mim. Tenho orgulho de dizer a cada jovem do Brasil, da Alemanha, da Índia que, se puderem, faça um curso profionalizante.” Foi aplaudido de pé.
Discurso completo de Lula
* Viajou a convite da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
