Lá, os brasileiros se sentem em casa. Aqui, também foi (e ainda é) morada dos portugueses. O laço histórico secular ganha força com o passar do anos. Se durante muito tempo os portugueses fizeram o caminho da Europa para cá, agora é cada vez mais presente a frequência brasileira em terras lusas. Pelo menos 300 empresas nacionais já se implantaram no país de Camões, interessadas em setores como construção civil, infraestrutura, vitivinicultura e mercado imobiliário.
Hoje, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, desembarca no Recife depois de passar pelo Rio e por São Paulo. Será recebido pelo vice-governador Raul Henry às 17h50 no Aeroporto e em seguida terá agendas no Real Hospital Português (RHP) e no Gabinete Português de Leitura. A visita de seis dias ao Brasil começou na capital fluminense para assistir a abertura dos Jogos Olímpicos. Do Recife, ele retorna a Lisboa.
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No RHP, o presidente vai conhecer o novo centro cirúrgico que recebeu investimento de R$ 20 milhões e é considerado um dos mais modernos da América Latina. O espaço se diferencia pela instalação da primeira sala cirúrgica híbrida do Norte e Nordeste, juntando num mesmo ambiente salas de operação e laboratório de hemodinâmica. No local, o chefe de Estado vai descerrar uma placa. Depois seguirá para um coquetel com a comunidade portuguesa no Gabinete Português de Leitura. A primeira agenda está marcada para 18h30 e a segunda para 20h. Investidor em Portugal, o presidente do Grupo JCPM, João Carlos Paes Mendonça, vai participar das solenidades.
A passagem de Marcelo Rebelo de Sousa pelo Recife não terá viés político. Ele vem para se encontrar com a comunidade portuguesa local.
Turismo
Pelos cálculos do Conselho da Comunidade Portuguesa de Pernambuco, existem 13 mil portugueses vivendo em Alagoas, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Desse total, 6 mil estão aqui no Estado. “Somos uma comunidade diferente porque não viemos apenas para trabalhar, amealhar riqueza e ir embora. Viemos para ficar”, observa o presidente do Conselho, Vicente Moreira, lembrando que o grupo foi criado em 1935 com a proposta de colaborar com instituições portuguesas ou luso-brasileiras.
“O turismo é uma grande oportunidade de investimento para os dois lados, porque tanto brasileiros quanto portugueses se propõem a viajar com o sentimento que estão em casa nos países que falam a mesma língua e têm fortes laços culturais”, diz Moreira. Dados da Polícia Federal apontam que Portugal é o país europeu que mais envia turistas para Pernambuco. Em 2015, o número de portugueses que desembarcaram diretamente no Recife procedente de voos internacionais aumentou em 28% em relação a 2014. Já o Brasil é o terceiro maior emissor de turistas para Portugal, atrás da Espanha e França.
O voo direto da TAP do Recife para Lisboa estimulou esse fluxo e garantiu fôlego ao turismo entre Pernambuco e Portugal. A partida inaugural aconteceu em 1967, mas a operação foi alavancada em 1999 com quatro partidas diárias. Hoje a empresa oferece voos diários partindo da capital pernambucana. No sentido Recife-Portugal, um dos destinos mais procurados é a região do Douro, que atrai não só visitantes, mas também empresários interessados em fazer negócios por lá.
Secularmente, o Douro é uma região cosmopolita que atrai investidores do mundo. Escoceses, ingleses, espanhóis e franceses já se instalaram por lá e na última década chegou a vez dos brasileiros. João Carlos Paes Mendonça é um dos muitos empresários brasileiros que decidiram investir no lugar. Nas visitas a Portugal se apaixonou pela região e adquiriu a Quinta Maria Izabel. Ao longo de quatro anos, os vinhos foram planejados com a consultoria do importante enólogo Dirk Niepoort. Dos 130 hectares da propriedade, 80 são destinados às vinhas, com o plantio de 18 castas. Outros 14,5 hectares são de oliveiras para fabricação de azeite. Estima-se que 23,9 mil produtores atuem no Douro, evidenciando o caráter de pequenos proprietários.
“Minha ligação com Portugal é antiga. A primeira vez que passei pelo Douro, uma das regiões mais bonitas da Europa, foi ainda nos anos 70. Décadas depois, escolhi Lisboa e o Douro para serem meus pontos de descanso na Europa. Tenho uma admiração pelo país, por sua cultura e por sua gente. Nossa semelhança faz com que eu me sinta ‘em casa’. E foi também esse sentimento que me fez investir na produção de vinhos da Quinta Maria Izabel. A vinicultura é um setor que tem papel importante na economia do País. Há, inclusive, apoio do governo para o desenvolvimento do segmento”, diz João Carlos.
No Brasil há 66 anos, o provedor do RHP e presidente da Construtora Rio Ave, Alberto Ferreira da Costa, usa a mesma expressão que João Carlos e diz que se “se sente em casa” em Pernambuco. “Todos os portugueses migrantes queriam vir para o Brasil. Eu não fugia à regra. Eu vim e tenho uma convivência maravilhosa com os brasileiros. Tenho três filhos e seis netos brasileiros. E já estou a cobrar os bisnetos”, comenta, bem-humorado.
Já o empresário e dono do tradicional restaurante Leite, Armênio Dias, afirma que toda colônia portuguesa em Pernambuco está feliz e orgulhosa com a presença do presidente. Ele conta uma história engraçada. “Há cerca de um ano, ele [O PRESIDENTE]veio ao Leite sem avisar, mas eu o conheci porque já tinha visto na TV. Mandei servir uns bolinhos de bacalhau e depois perguntei o que ele achou. Ele disse que eram melhores que os de Portugal”, conta, sorrindo Arménio, que está no Brasil desde 1950.
Imóveis
Outra área que tem despertado a atenção dos brasileiros para investir em Portugal é o setor imobiliário. “Há dois anos fundei a imobiliária Possible Layered para vender imóveis em Portugal para os brasileiros e está dando muito certo. Com a crise econômica no Brasil, os empresários estão apostando em investimentos mais seguros. Só nos últimos dois meses realizamos dez vendas para empresários do Recife. O foco tem sido imóveis de alto padrão, com valor médio de 1 milhão”, diz a diretora da Possible Layered, Roberta Oliveira. Ela destaca que o governo português oferece Visto Gold (com passe livre na União Européia) para investidores que adquirirem imóveis acima de 500 mil.
Brasil e Portugal não têm uma corrente de comércio forte, na comparação com outros parceiros, mas os negócios vêm aumentando (veja artes). Os principais produtos embarcados pelo Brasil são soja, petróleo e chapas de ferro, enquanto do lado português são peças para aviões e helicópteros, azeite, bacalhau, peras e vinhos. O diferencial entre os dois países é que, além de produtos, há também um forte intercâmbio de afeto.
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