Macroeconomia

Desemprego baixo esconde deficiências de trabalhadores e empresas

Nova realidade da economia passará a exigir mais dos agentes de mercado. Chegou a hora de melhorar a produtividade

Leonardo Spinelli
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Leonardo Spinelli
Publicado em 18/01/2015 às 8:52
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A expectativa do mercado é que o Banco Central aumente os juros básicos da economia (Selic) dos atuais 11,75% ao ano para 12,25% esta semana, conforme análise de especialistas divulgada no último Boletim Focus do Banco Central. O aumento dos juros faz parte do chamado “pacote de maldades” do ministro da Fazenda Joaquim Levy para desestimular a economia de forma a diminuir a pressão inflacionária, num movimento de ajuste. A nova realidade passará a exigir mais das empresas e também do trabalhador. Chegou a hora de melhorar a produtividade. 

Embora na campanha eleitoral a presidente Dilma Roussef tenha dito que o emprego não seria afetado, o esfriamento da atividade trará repercussões no nível de trabalho, especialmente no setor de serviços, um dos principais responsáveis pela alta da inflação nos últimos anos. No ano passado, o segmento registrou um aumento acumulado de preços de 8,3%, contra 6,42% do índice geral do IPCA.

Infográfico

Produtividade do trabalahdor

O clima de pleno emprego numa economia desaquecida aumentou o valor dos salários e diminuiu a produtividade do trabalhador. O custo a mais foi repassado ao cliente final no preço dos serviços.

“Este ano a inflação de serviços deve ter uma pressão menor porque o processo de geração de empregos está diminuindo por causa da desaceleração econômica. Isso repercute no mercado de trabalho, que reduz a pressão por salários”, explicou o professor Naércio Menezes Filho da Fea/USP. Em recente artigo publicado na Folha de S. Paulo, Menezes Filho descreveu o atual processo da economia brasileira, no qual bons indicadores de nível de emprego convivem com uma economia em desaceleração. 

Segundo ele, o fenômeno decorre de fatores diversos que inclui transição demográfica e melhoria de renda das famílias motivada por programas como o Bolsa Família, além das reformas educacionais que permitiram o maior acesso à escola. Como as mulheres passaram a ter menos filhos, a oferta de jovens no mercado de trabalho diminuiu. Combinando com o relativo aumento de renda das famílias mais pobres, os jovens demoram mais tempo na escola e deixam de procurar emprego. Os mais velhos, por sua vez, passaram a ficar mais em casa. Em suma, as famílias pobres passaram a ter um comportamento mais parecido com o das mais abastadas. 

“Como o número de jovens menos qualificados, que formavam grande parte do contingente de desempregados, diminuiu fortemente, o menor crescimento do PIB não tem se traduzido em aumento de desemprego”, descreveu. Mas ele salienta que essa é uma realidade passageira, pois, se a geração de empregos estagnar, os jovens vão passar a pressionar novamente o mercado de trabalho, sem encontrar emprego. É aí que, na sua opinião, entra a questão da produtividade do setor de serviços, segmento que mais emprega no Brasil e corresponde por 70% do PIB brasileiro. E neste sentido, observa, as empresas que prestam serviço terão de se adaptar aos novos tempos. 

“As empresas precisam melhorar as práticas gerenciais e a tecnologia à disposição dos trabalhadores, de forma a conseguir atender mais clientes num mesmo espaço de tempo. Isso reduz o custo das empresas, permitindo que o aumento do salário seja acompanhado pelo aumento da produtividade”, disse Menezes ao JC. “Em 30 anos, a produtividade dos serviços têm se mantido estável. Neste setor, o aumento de produção aconteceu pelo aumento do emprego, mas como a oferta de trabalhadores menos qualificados tem diminuído, isso aumentou o custo de mão de obra”, explica. Quando uma empresa consegue atender mais gente com o mesmo número de trabalhadores, seu custo por cliente atendido diminui e isso permite manter preços e ampliar mercado. 

“Basta entrar em qualquer loja de serviço e comércio no Brasil, é precário. Em países como os EUA é tudo mais eficiente.”

Pernambuco também peca neste aspecto. O economista da Fiepe, Thobias Silva, salienta que a produtividade do trabalho é negativa em 10 anos. “Em uma década a produtividade do trabalhador caiu 2,4% e no Nordeste, 3,5%”, diz citando números da indústria local. Ou seja, embora a indústria empregue mais, o trabalhador passou a produzir menos. Esse fenômeno, na opinião do economista, também vai forçar o próprio trabalhador a se reciclar. “Um nível de desemprego maior estimula a produtividade”, diz, dando o exemplo dos EUA. “Em 2008, antes da crise que gerou desemprego, a produtividade média do trabalhador americano era de 6%. Em 2011, último dado, a produtividade pulou para 14%. Para cada dólar empregado na produção, o retorno é 14% maior.”

No Brasil com baixo desemprego, os jovens tendem a mudar de emprego porque a oferta é maior. Com menos vagas disponíveis, o trabalhador tem receio de sair do atual emprego. Silva, ressalva, que o ajuste gerado pelo desemprego é um efeito de curto prazo. “No médio e longo prazo o desemprego diminui a renda. Por isso, precisamos da ração da educação”, comenta. Na avaliação dos economistas, com a preocupação de se capacitar, o trabalhador tende a galgar empregos cada vez melhores. “É o caso da Europa. Com as revoluções tecnológicas, o trabalhador passou a se capacitar para se encaixar num ambiente mais competitivo.”

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