O corte da nota de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's e a perda do selo de bom pagador do país levaram o dólar à máxima de R$ 3,908 e fizeram o principal índice da Bolsa brasileira cair até 2,28% durante a sessão desta quinta-feira (10).
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A reação negativa dos mercados, segundo analistas, refletiu a surpresa com o momento da decisão da S&P. A avaliação é que a perda do chamado grau de investimento era esperada apenas para o final do ano ou começo de 2016.
A medida levou o Banco Central a agir para tentar conter a volatilidade do câmbio. A autoridade promoveu um leilão de US$ 1,5 bilhão de linhas de crédito -com isso, o BC injetou dinheiro novo no mercado com compromisso de recompra em janeiro e abril do próximo ano.
Além da atuação do Banco Central brasileiro, a sinalização da agência de classificação de risco Fitch Ratings de que o país ainda tem elementos apoiando seu grau de investimento colaborou para reduzir a pressão no câmbio.
Na Bolsa, o Ibovespa também mostrou certo alívio durante a tarde, influenciado pela sinalização positiva da Fitch sobre o rating brasileiro e pelo avanço dos índices de ações nos Estados Unidos. O índice chegou a ter leve alta antes do fechamento, mas encerrou o dia com desvalorização de 0,33%, para 46.503 pontos. O volume financeiro foi de R$ 7,894 bilhões.
"A reação dos mercados indica que, apesar de amplamente esperado, principalmente depois do Orçamento do governo para 2016 prevendo deficit fiscal, a perda do grau de investimento do Brasil não estava totalmente refletida nos preços dos ativos", disse Roberto Indech, analista da corretora Rico.
Segundo Indech, o cenário ainda dá margem para expectativas de que o dólar chegue aos R$ 4 no curto prazo. Para a Bolsa, o analista também vê espaço para um pouco mais de queda, mas ressalva que "ela já está barata em dólar para os investidores estrangeiros, o que pode trazer um pouco de alívio nos próximos dias, com investidores aproveitando oportunidades".
O economista Alberto Ramos, do banco americano Goldman Sachs, enxerga um cenário ainda mais desafiador daqui para frente. "A S&P foi a primeira a rebaixar a nota soberana do Brasil para grau especulativo; outras agências de risco devem segui-la. (...) Agora que a batalha para preservar o grau de investimento foi perdida, há uma probabilidade de o governo ter ainda mais dificuldade no esforço de controlar contas e gastos."
JUROS
O Banco Central deve redobrar a vigilância no mercado de câmbio, atuando pontualmente para conter a volatilidade da moeda, segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. "A alta do dólar prejudica a inflação no país, que já está elevada. O governo, neste caso, só tem duas opções: ou eleva ainda mais os juros, que estão bastante altos, ou o BC reforça sua intervenção no câmbio", disse.
Por esse motivo as taxas de juros futuros têm acompanhado de perto o movimento do dólar nas últimas semanas. O contrato de DI com vencimento em janeiro de 2016 fechou com taxa de 14,500%, ante 14,380% na última sessão. O DI para janeiro de 2021 apontou 15,150%, ante 14,740% na quarta-feira (9).
PETROBRAS
Depois de abrir com perda de mais de 5% e reduzir a baixa na esteira da melhora nos preços do petróleo no exterior, a Petrobras voltou a intensificar a queda na Bolsa nos últimos minutos de negociações após a S&P anunciar o corte de sua nota de risco, elevando a dificuldade de a companhia tomar novos financiamentos.
As ações preferenciais da estatal, mais negociadas e sem direito a voto, registraram desvalorização de 5,01%, para R$ 7,97 cada uma. Os papéis ordinários da empresa, com direito a voto, perderam 3,82%, a R$ 9,31.
Em sentido oposto, papéis de exportadoras se beneficiaram do avanço do dólar e subiram. As ações preferenciais da Vale tiveram ganho de 4,17%, a R$ 16 cada uma, enquanto as ordinárias mostraram valorização de 4,62%, a R$ 19,94.
No setor siderúrgico, os papéis preferenciais da Usiminas lideraram as altas, com avanço de 12,77%, para R$ 4,24. Também subiram Gerdau (7,69%) e a CSN (7,62%).