MERCADO DE TRABALHO

Por que funcionários públicos ganham mais no Brasil?

Diferença média salarial entre setor público e privado chegou a 63,8% em 2016, segundo IBGE

Luiza Freitas
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Luiza Freitas
Publicado em 02/02/2017 às 6:22
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Diferença média salarial entre setor público e privado chegou a 63,8% em 2016, segundo IBGE - FOTO: Foto: Agência Brasil
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As médias salariais entre funcionários públicos e trabalhadores da iniciativa privada atingiram, em 2016, a maior diferença da série histórica do IBGE, 63,8%. Em 2015 esse percentual era de 59,3%. O salto traz um questionamento a respeito do mercado de trabalho brasileiro: por que a remuneração do serviço público é tão superior à das empresas privadas? A resposta se resume à porta de entrada na forma de concursos públicos e à garantia de emprego oferecida pelo Estado – independentemente da situação econômica.

Coordenador do projeto do salariômetro da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe), o professor de economia da USP, Hélio Zylberstajn, destaca que as duas categorias de trabalho estão, de forma geral, em patamares muito distintos. “As pessoas que estão no funcionalismo público são mais qualificadas porque é preciso fazer um concurso, que acaba selecionando os que têm mais escolaridade”, ressalta. Ele também destaca que os planos de cargos e carreiras garantidos no setor público estimulam os profissionais a investirem na própria qualificação e, em troca, conquistarem aumentos salariais.

De acordo com os dados coletados pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), em 2015, a média salarial dos trabalhadores do setor privado era de R$ 1.282, enquanto que a do funcionalismo público chegava a R$ 3.152. “A diferença aumentou, mas não porque os funcionários públicos ganharam mais privilégios. Estamos atravessando uma recessão em que as empresas cortam os salários mais altos, fazendo a média geral cair”, diz o professor.

Outra consequência da crise sobre o rendimento dos trabalhadores é a redução salarial. Após a demissão, é comum que as empresas contratem pessoas para exercer funções semelhantes oferecendo um pagamento mais baixo, achatando o rendimento dos trabalhadores celetistas. Como o emprego é um dos indicadores econômicos que mais demora a reagir durante uma recuperação econômica, a readequação salarial é uma etapa ainda mais lenta.

NORDESTE

No caso do Nordeste e, mais especificamente, de Pernambuco, a situação pode ser ainda mais grave. “Em regiões pobres, essa diferença corresponde a parte da desigualdade”, diz o sócio-diretor da Ceplan, Jorge Jatobá. Ele destaca que, diante da garantia de emprego, os sindicatos do setor público conseguem engajamento para exercer pressão sobre o Estado, conseguindo garantias como aumento salarial, por exemplo. Durante a crise e com a ameaça do desemprego, iniciativas desse tipo entre funcionários do setor privado ficam ainda mais fragilizadas.

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