Consumo

Antiquários vivem o desafio de renovar a clientela

Tendo como negócio a venda de peças raras, revendas lutam para atrair consumidores

Felipe Lima
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Felipe Lima
Publicado em 21/08/2011 às 18:42
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O corredor estreito obriga o visitante a caminhar sem abrir os braços. Um movimento brusco pode derrubar uma louça da década de 20. A cristaleira francesa secular, toda em madeira trabalhada, abriga armações de óculos, leques, pratarias, vasos, puxadores de cerâmica, copos, bustos de Beethoven e de Liszt e até um microscópio. É uma dentre tantas abarrotadas de história. O cheiro de espiral sentinela para afastar muriçocas domina o ambiente. Tudo lá é antigo, fora de circulação. O Brechó Pátio de São Pedro é um dos diversos antiquários espalhados pelo Grande Recife. Há cerca de 40 anos, encontra-se espremido no casario do bairro de São José. E, assim como outros estabelecimentos do ramo, vive um momento de transição. Mas sem perder o seu charme.


O maior desafio dos antiquaristas atualmente é renovar a clientela. Em décadas passadas, os locais se multiplicaram por Recife e Olinda. Eram bastante procurados pelas famílias abastadas de Pernambuco. Porém, com o tempo, assistiram seus principais clientes falecerem e filhos e netos perderem o costume de adquirir peças raras. Nézia Maria Batista, assessora do proprietário do Brechó Pátio de São Pedro há 22 anos, comenta com a voz amarga que hoje em dia “as pessoas só querem gastar dinheiro com celular, com diversão, academia. Além disso, quando resolvem comprar algo são peças baratinhas, acessórios”.


Dono do antiquário Bons Tempos, no bairro de Santo Amaro, Carlos Benevides fala com rara propriedade sobre o assunto e confirma que a atividade é “delicada”. Entusiasta desde os 17 anos, com uma predileção especial para imagens sacras, o jornalista por formação se tornou empreendedor da área há cinco anos. Buscou como diferencial se instalar em um local onde há intensa circulação de um público jovem – na Rua Mamede Simões –, próximo a bares frequentados pelos mais moços. Aos poucos, conquista um novo perfil de consumidor. Uma tarefa árdua, ressalta.


A falta de um clientela fiel aliada a uma dinâmica comercial incomum fazem dos antiquários um atividade movida mais à paixão que aos lucros. Não há época de boom de vendas. Cada dia é uma aventura. Pode-se vender um copo da década de 50 por R$ 30 ou uma cômoda do século 19 por R$ 5 mil. É imprevisível. Não há regras também para formar um estoque. Em uma tarde comum, alguém pode chegar com uma peça raríssima, herdada de um parente e oferecê-la ao antiquarista. Ou, pode-se ir às principais feiras de antiguidade da cidade e não encontrar nada de real valor.
E é preciso um olhar clínico na hora de avaliar as peças, porque muitas pessoas chegam pensando que vão enriquecer com a venda de um artigo. “Muitos aparecem contando histórias de que a peça pertenceu a um rei, um barão, uma duquesa”, explica Benevides.

Ao interessados em procurar um antiquário para fazer negócios, é preciso, antes de tudo, saber diferenciar uma peça antiga de uma “de época”. As antiguidades são aquelas com mais de 100 anos de idade. Já as do segundo tipo foram produzidas nas décadas de 30, 40, 50 e 60. Mas o tempo não é o único parâmetro de valorização. Peça rara é peça exclusiva. Catalogada, de preferência. Outro fator determinante sãos os períodos artísticos em que o artigo está inserido. Hoje, exemplares da art noveau (anos 30) e da art déco (anos 40 e 50) são extremamente apreciados.

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