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Material hospitalar em lixão

Uma grande quantidade de forros de bolsos com a identificação de hospitais do Recife foi encontrada no lixão de Toritama

Felipe Lima e Daniel Guedes
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Felipe Lima e Daniel Guedes
Publicado em 24/10/2011 às 23:58
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Forros de bolso com nomes de hospitais do Recife, prontos, tingidos e costurados, com fortes indícios de terem sido arrancados de calças e bermudas, foram jogados, nos últimos dias, em grande quantidade no lixão da cidade de Toritama.

Catadores que trabalham no local informaram que os caminhões começaram a despejar as sacolas cheias desses produtos no último sábado (22). Dois dias antes da tradicional feira da cidade, mostrando que os produtores que os identificaram em suas peças de roupa trataram de se livrar logo deles para não afugentar os compradores.

É a primeira vez, nas últimas duas semanas, que instituições recifenses aparecem em meio a forros encontrados na região. As peças encontradas no lixão tinham logomarcas do Hospital Jayme da Fonte, do Português, da Unimed Recife e também do Hospital Estadual do Sumaré (SP) e do Porto Dias (PA). Autoridades não sabem a origem desses materiais. A nova descoberta evidencia o descontrole que havia no comércio de retalhos no País.

Também foram localizados tecidos com a marca americana Angelica, a mesma identificada em meio aos tecidos enrolados em seringas, luvas e cateteres nos dois contêineres vindos dos Estados Unidos e interceptados no Porto de Suape nos últimos dias 11 e 12. A carga, de 46 toneladas, tinha como destino a empresa NA Intimidade Ltda., de Santa Cruz do Capibaribe, que está sendo investigada pela Polícia Federal, acusada de contrabando.

O presidente da Associação dos Lojistas do Parque das Feiras de Toritama (ALPF), Prudêncio Gomes, explicou que se as peças foram encontradas no lixão, mostra que os fabricantes da cidades que as encontraram em meio à sua produção tiveram a preocupação de se antecipar em descartá-las para que não chegassem aos compradores.

“Nós não vendemos lixo, fabricamos moda. O fato de terem sido jogadas fora mostra o esforço de uma minoria despreparada de fabricantes, que não chega a 10%, de corrigir possíveis erros. Até porque ninguém compraria as peças se as vissem na feira. As fábricas sérias da cidade trabalham com forros de bolso personalizados, produzidos em Sergipe e Minas Gerais”, reforçou.

Catadora no lixão há três anos, Aldenize Tenório, de 27 anos, comentou que reconheceu os tecidos com nomes de hospitais assim que os viu. “Até então nunca havia aparecido disso por aqui. Vi logo que eram os panos que estavam aparecendo na TV. Nem mexi, até porque não aproveitamos tecidos”, contou.

O gerente-geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Jaime Brito, informou que dificilmente será possível identificar de que confecção vieram os forros jogados fora, pois o fato de terem sido encontrados no lixão dificulta o rastreamento. Ainda assim, ele se comprometeu a investigar a denúncia apresentada pelo JC.

O provedor do Hospital Real Português, Alberto Ferreira da Costa, demonstrou surpresa ao saber que tecidos com a logomarca do hospital foram encontrados num lixão do Agreste. “O Hospital não tem nenhuma responsabilidade sobre os tecidos encontrados pela reportagem. Nós entregamos todo o nosso lixo hospitalar para uma empresa autorizada pela Companhia Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH). Fazemos o descarte de acordo com a lei”, disse Ferreira.

O Hospital Porto Dias, de Belém, também afirmou não ter responsabilidade sobre o material. A diretoria contou que, no início deste ano, encomendou uma remessa de lençóis de uma empresa paulista. O material foi devolvido pelo hospital porque foi cortado num amanho errado. Essa empresa teria enviado um documento para o hospital informando que os lençóis seriam revendidos por um preço abaixo do mercado para outros clientes.

A reportagem tentou entrar em contato, por diversas vezes, com os hospitais Jayme da Fonte, Unimed Recife e Estadual Sumaré, mas não teve retorno. Os funcionários das unidades informaram que não conseguiram localizar os diretores na tarde desta segunda-feira (24).

Colaboraram Mariana Dantas, do NE10, e Kennedy Anderson

Leia mais na edição desta terça (25) do JC

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