As empresas pernambucanas Biologicus e Claeff estão se articulando para realizar, pela primeira vez no Estado, um projeto que pode chegar ao barateamento do álcool de terceira geração. É o pulo do gato, porque as usinas poderão transformar em combustível um subproduto gerado no seu processo industrial: o bagaço da cana-de-açúcar. Já existem formas de fazer isso (ver quadro ao lado). No entanto, o problema é o alto custo, que inviabiliza a produção em larga escala. Pesquisas com o objetivo de baratear o álcool feito a partir da celulose estão sendo desenvolvidas em vários países – como os Estados Unidos e a China –, com a finalidade de tornar esse custo economicamente viável. Se isso acontecer, qualquer madeira poderá ser transformada em etanol.
A demanda inicial pela pesquisa surgiu dos representantes do setor sucroalcooleiro nas reuniões do Comitê de Inovação da Federação das Indústrias do Estado (Fiepe). Grupo faz encontros mensais para discutir e indicar ações que aumentem a competitividade das companhias instaladas em Pernambuco. O projeto custará R$ 6 milhões e pode ser realizado em dois anos. Agora, as empresas estão procurando parceiros que banquem a sua engenharia financeira.
Num ano sem estiagem, o setor sucroalcooleiro pernambucano fatura cerca de R$ 2 bilhões. “Quem tem um faturamento desse, tem condições de investir nessa pesquisa. Não há mais áreas para se expandir horizontalmente a produção na Zona da Mata. O uso do bagaço é uma forma de aumentar a produtividade. Se houver um retorno financeiro, o setor vai ter interesse”, resume o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE), Renato Cunha. Os empresários conhecerão o projeto no dia 17 de junho, às 16h, em evento no auditório do Sindaçúcar.
A estimativa das empresas é que o uso do bagaço poderia trazer um acréscimo de 30% a 35% na produção de álcool sem ter que aumentar o canavial. Atualmente, o subproduto é usado para gerar energia e alimentar animais.
Ainda de acordo com os pesquisadores, o álcool de terceira geração tem outra vantagem: os microorganismos usados no processo industrial são naturais. “A fabricação do álcool de segunda geração deixa subprodutos químicos difíceis de serem tratados”, afirma o dono da Claeff, Claudio Truchlaeff. Esse subproduto é uma espécie de vinhaça, sendo difícil separar a parte tóxica da não tóxica e o tratamento desse resíduo traria mais custos às empresas.
Outro fator que dificulta a produção do álcool de segunda geração no País é a não existência de uma patente nacional. Segundo Cláudio, as patentes de álcool de segunda geração são de empresas internacionais e aí as usinas que forem fabricá-lo terão que pagar royalties (ao dono da patente), o que também encarece a produção.
Cláudio argumenta que um dos fatores que diferenciam a pesquisa local é o custo. “Estamos procurando uma solução econômica viável para a Zona da Mata do Nordeste”, conta. Ele já ganhou duas vezes o Prêmio Finep de inventor inovador do Nordeste em 2009 e 2012. O primeiro veio pelo desenvolvimento de uma tecnologia que permite a geração do oxigênio a partir da atmosfera. O segundo foi fruto da invenção de um produto mais natural do que o cloro para tratar a água.
Tanto a Biologicus como a Claeff atuam na área de biotecnologia. A primeira desenvolve produtos 100% naturais à base de probióticos, as bactérias do bem. Já a Claeff atua fazendo processos e produtos usados no tratamento da água e seus efluentes.