Ensino técnico

Concentração e perfeição, os segredos da competição Worldskills

Ao todo, 41 pessoas compõem a delegação brasileira na maior competição internacional de habilidades técnicas

Maria Luiza Borges
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Maria Luiza Borges
Publicado em 03/07/2013 às 10:12
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O importante aqui é ter habilidade. Não adianta beleza, dinheiro, QI ou qualquer outro atalho. Nem jeitinho brasileiro. Na competição internacional Worldskills, jovens de todo o mundo têm um único desafio: provar que são os melhores naquela área técnica que resolveram abraçar. Aqui estão os melhores eletricistas, os melhores mecânicos, os melhores cabeleireiros, os melhores joalheiros...  Todos na casa dos vinte e poucos anos. Com um poder de concentração invejável e prá lá de necessário. Eles têm que provar que são os melhores fazendo seu trabalho em pouco tempo, com perfeição e no meio da maior agitação.

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Brasileiros na Escola 5, em Leipzig

No primeiro dia de competições da edição 2013 do Worldskills, que este ano está sendo realizada em Leipzig, na Alemanha, milhares de estudantes alemães de todos as idades invadiram o espaço de feiras e convenções de Leipzig, a Leipziger Messe, para ver de perto os mais de mil competidores de todo o mundo. Eles também podem aproveitar para participar de sorteios, jogos e atividades lúdicas. Entre esses estudantes, algumas dezenas chamavam a atenção por usarem a camiseta amarela da delegação brasileira. Eram crianças entre 9 e 10 anos da Escola 5, que na terça-feira receberam a visita da delegação brasileira, formada por 41 técnicos formados no Senai e no Senac, além de seus treinadores e intérpretes.

Algumas crianças ficavam bem alvoroçados quando passavam na frente da brasileira Charllene Oliveira, pernambucana moradora de Paulista que hoje estampava a capa do principal jornal da cidade, o Leipziger Wolkszeitung. Na foto, a brasileirice de Charllene formava um belo contraste com o pequeno alemão da classe 3b que lhe dava um beijo no rosto. Mas isso foi no dia anterior. Nesta quarta-feira, já na competição, Charllene fingia que nem via nem escutava nada para cumprir a prova do dia: confeccionar uma calça de alfaiataria com molde pronto – apenas o primeiro teste de muitos que será feitos para ela mostrar que sabe costurar, organizar uma confecção e criar moda. Tecnologia da moda é o nome desse categoria.

 

 

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Acima, Charllene virou capa de jornal na Alemanha. Abaixo, alemães vestidos com a camisa brasileira

 

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O outro representante de Pernambuco ­– o baiano criado em Petrolina Leandro Oliveira – concorre na área de eletricidade predial. Estava montando uma instalação elétrica doméstica na manhã desta terça-feira, ao lado de competidores da Grã-Bretanha, Hungria, Alemanha... nem piscava o olho. Deu uma pausa rápida da sala dos competidores para um lanche e voltou à mesa de trabalho. Os candidatos vão ficar das 9h às 17h realizando as provas, até sábado.

A Worldskills é assim, um pequeno vacilo e três anos de trabalho vão pelo ralo. Os competidores começaram a jornada em 2010, participando das seletivas nas suas respectivas escolas técnicas. Depois venceram a etapa estadual, nacional e tiveram que provar ter nível internacional para vir à competição na Alemanha. O mundial é realizado a cada dois anos – o último foi em Londres, em 2011 e o próximo será em São Paulo, em 2015.

A produção do evento é incrivelmente detalhada. Para montar a área de mecânica, por exemplo, que inclui modalidades como pintura, recuperação, mecânica, entre outros, dezenas de carros têm que estar disponíveis. Todos do mesmo modelo e cor, além de cabines de pintura e toda ferramentaria necessária para fazer os serviços. O mesmo acontece em todas as modalidades. De roupas e manequins para vitrinistas, até cozinhas completas para os chefs de cozinha, impressoras de ponta para gráficos e spas completos para os esteticistas. 

Na área de cuidados com a saúde, até atores são contratados para encenar pessoas com necessidades especiais. E intérpretes com equipamentos de tradução simultânea para que esses atores interajam com candidatos que não dominem alemão ou inglês. A técnica em enfermagem Jessyca Pacheco, formada pelo Senac do Distrito Federal, ontem fazia atendimento a uma atriz que simulava ser vítima de um AVC que lhe deixara todo um lado paralisado. A própria Jessyca tinha que ser atriz também, e ignorar as dezenas de pessoas que se aglomeravam do lado de fora daquele quarto cenográfico. Aliás, a imensa quantidade de estudantes e profissionais circulando pela área do evento dá uma ideia do quanto os alemães valorizam a formação técnica.

A divulgação de quem será o melhor do mundo em cada área só vai ocorrer domingo. Mas como bem definiu o presidente da organização internacional Worldskills, que promove a competição, Simon Bartley, “cada um de vocês já é um vencedor”. Afinal, para cada um dos mil participantes, havia talvez outros mil que eles venceram em seus países.

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