Desenvolvimento

Suape salvou a economia do Estado

Suape passou a despontar na economia local depois da construção da Refinaria Abreu e Lima

Leonardo Spinelli
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Leonardo Spinelli
Publicado em 25/08/2013 às 0:01
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Na década de 1990 o parque industrial de Pernambuco ainda sofria as perdas herdadas do período de hiperinflação que estagnou a economia brasileira nos anos 80. A então recente abertura econômica agravou o problema para a concorrência local. No caso da indústria metalmecânica, a nova realidade deixou livre o preço do aço no mercado nacional, prejudicando os produtores locais. Passaram a competir com as fábricas do Sudeste, que conseguiam um preço mais em conta no frete. 

“A nossa indústria metalmecânica é antiga, vem da indústria da cana. O Estado possuía um tecido interessante de médias empresas nesse segmento metalúrgico, mas que foi perdendo a consistência quando foi privatizado o antigo sistema Siderbrás. Isso acabou com o preço uniforme do aço no Brasil”, relembra a economista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Bacelar.

A abertura para importação decretou também o fim de outro parque industrial importante, o da indústria têxtil, que já vinha sentindo nas pernas a praga do bicudo nas plantações de algodão. Trazer tecidos da Rússia e Egito ficou mais barato que produzi-lo localmente. Sem falar na indústria sucroalcooleira que passou a perder terreno. Até mesmo os industriais locais começaram a buscar novas terras do centro-oeste brasileiro, em busca de maior produtividade e terras planas que permitem a mecanização da safra. Na Zona da Mata pernambucana, a colheita continuava a ser feita da forma antiga, pelas mãos dos cortadores. 

Nos anos 90 a preocupação de Pernambuco era com o crescimento da economia do Ceará, que vinha paulatinamete se aproximando da riqueza gerada no Estado e ameaçava tirar-lhe o posto de segunda economia nordestina. Pernambuco crescia a passos lentos, quase de lado. “O Estado passava por um processo de desindustrialização, na década de 90 a indústria respondia por apenas 11% do PIB”, salienta a economista. A economia se protegeu no setor de serviços. O Pólo Médico se desenvolvou nesta fase. 

Foi dentro desse cenário que o Porto de Suape passou a despontar na economia local, principalmente depois da passagem de Lula e Chaves em 2005, que escolheram homenagear o herói bolivariano Abreu e Lima em Ipojuca. As obras começaram em 2007.

 “O complexo industrial existia desde a década de 1970, mas foi a refinaria que impulsionou a região como o atrativo de negócios. Outras empresas passaram a se interessar e isso mudou a dinâmica local. Passamos a depender menos de indústrias de baixa densidade tecnológica e de perfil complementar e dependente da produção do Sudeste”, resume o presidente da Agência Condepe/Fidem, ligada ao Estado, Maurílio Lima. Ele dá como exemplos as indústrias de bebidas e cerâmica. “Passamos a montar um polo petroquímico, de petróleo e gás e naval”, diz.

O período do governo Lula e a sintonia fina com a administração de Eduardo ajudaram no clima de otimismo. O Estado se inseriu na cadeia do petróleo num cenário de crescimento nacional da exploração em alto mar, em águas profundas. Refloresceu até mesmo a indústria têxtil. Em vez de algodão, a matéria prima agora são os fios sintéticos da cadeia petroquímica. Em menos de uma década o setor industrial ganhou volume e passou a ocupar 28% da economia do Estado.

 “Em Estados industrializados como São Paulo, Minas e Bahia a indústria tem um peso um pouco acima de 30%. Isso significa dizer que estamos no caminho de nos tornarmos um estado industrial”, afirma Rodolfo da Condepe/Fidem. 

O setor de serviços tem um peso maior na economia porque é estimulado tanto pela indústria quanto pela agropecuária. Um exemplo são os escritórios de advocacia, inclusive de fora do Estado, que aumentaram sua presença no Recife.

Em termos competitivos, Pernambuco consolidou na década de 2000 o seu distanciamento da economia cearense. O Produto Interno Bruto corrente (que não desconta os efeitos da inflação). Em 1999 a diferença dos bens e serviços produzidos nos dois Estados era de apenas R$ 4,4 bilhões. 

Ao final do ano 2010, último número disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença pulou para R$ 17,3 bilhões em favor de Pernmabuco. Fechou em 2010 com um volume de R$ 95,2 bilhões, ou 22,2% a mais do que o gerado no Ceará. Dez anos antes a economia local no fim da década de 1990 era algo em torno de 19% maior que a cearense.E conseguiu chegar mais perto do maior Estado. A Bahia era maior cerca de 68% no início da década, fechando no final dos 10 anos com 62% de vantagem. Em 2010 o PIB bahiano era de R$ 154,3 bilhões.

Resta agora melhorar na questão ambiental. "Temos de sair dessa fase de encantamento  e cobrar mais pelos impactos sócioambientais negativos que não dão  para esconder. Fazer de conta que não trouxe impactos negativos é ruim, temos de enfrentá-los", considera da economista Tânia Bacelar.  

O material faz parte da matéria sobre os impactos negativos de Suape no lado social e ambiental da área de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, publicado neste domingo no Jornal do Commercio 

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