EDUCAÇÃO

A evasão do ensino superior preocupa especialistas

Eles apontam que isso ocorre devido a falta de base dos estudantes e também porque as universidades não se atualizam

Ângela Fernanda Belfort
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Ângela Fernanda Belfort
Publicado em 18/11/2014 às 9:20
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Eles apontam que isso ocorre devido a falta de base dos estudantes e também porque as universidades não se atualizam - FOTO: Igo Bione/JC Imagem
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Dois lados de uma mesma moeda. Depois de fazer todo o fundamental e médio em escola particular, o estudante Francisco de Lima Tavares, abandonou o curso de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) porque “não era o que esperava” depois de cinco semestres sem uma única reprovação. Já o auxiliar de telecomunicações, Leandro de Moraes, deixou o curso de Logística da Faculdade de Boa Viagem porque, na época, perdeu o emprego e não tinha como pagar a mensalidade da instituição. Os dois engrossam as estatísticas da evasão do ensino superior que só fazem aumentar no Brasil. Mais de um milhão de estudantes universitários estão ficando pelo meio do caminho numa estatística grosseira, comparando os que entraram no ensino universitário há quatro anos com os que saíram no ano passado. Nem o Ministério da Educação divulga uma média da evasão do curso superior no País. Especialistas alegam que essa evasão é menor no ensino superior na modalidade de educação a distância.

“Fiquei 11 anos sem estudar e tinha dificuldade de acompanhar as disciplinas do curso. Se não tivesse ficado desempregado, não tinha desistido, mas teria sido difícil. Na primeira semana, os professores pediram que os alunos fizessem a leitura de quatro livros que iriam cair numa prova 30 dias depois. Tive dificuldade de ler, estudar e trabalhar ao mesmo tempo”, lembra Leandro de Moraes, que cursou o fundamental e o médio na escola pública. Na época, ele não tinha conhecimento dos programas do governo federal que financiam o curso superior, como o FIES.

A principal causa da evasão de Francisco de Lima Tavares foi a decepção com o curso. “Os professores passavam duas horas falando e anotando no quadro. O que me atraiu para o curso de física foi a vontade de entender como funcionava o universo. Entrei com a visão de que o curso seria muito rico em discussões relacionadas a esses assuntos, o que não ocorreu. Não volto mais para a física. Vou tentar entrar num curso na área de humanas”, explica Francisco.

Tanto Leandro como Francisco planejam concluir outro curso universitário no futuro. Eles refletem dois grandes problemas que são visíveis na educação superior: a falta de base para avançar num curso mais exigente e a ausência de novas formas de ensino, incluindo tecnologias já tão apropriadas na educação a distância.
Dos jovens brasileiros que concluem o ensino médio, somente 30% saem com o grau de proficiência adequado em português. Em matemática, esse percentual é de 10%. “Isso cobra uma conta no futuro. Ao ingressar no ensino superior, a dificuldade vai persistir. Os alunos com baixa proficiência têm dificuldade de acompanhar até o nível técnico. A perda de produtividade no Brasil está relacionada com a baixa qualidade da educação que contribui para a ausência de inovação”, resume o gerente de estudos e prospectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Márcio Guerra.

“O ensino médio precisa de uma reforma curricular urgente. Se o ensino médio fosse melhor, diminuiria a evasão”, afirma o presidente do Colégio de Pró-reitores de Graduação da Andifes, Custódio Almeida. A crítica ao ensino médio está relacionada com a grande quantidade de matérias e a falta de aprofundamento nas disciplinas.
A outra ponta do iceberg da evasão é a falta de atualização das próprias universidades. “A docência tem que se adequar a essas novas realidades e tecnologias”, argumenta a pró-reitora da UFPE, Ana Cabral.

 

Enquanto o ensino médio continua com a qualidade em baixa, as universidades adotam iniciativas para diminuir a evasão. Os 12 cursos de engenharia da UFPE antes faziam um vestibular para cada tipo de engenharia. Agora, o primeiro ano é comum a todos os cursos. “No fim do primeiro ano, os melhores alunos têm prioridade nos cursos que desejam fazer. Isso motiva a estudarem mais. Também foram retiradas duas disciplinas do primeiro ano para que os estudantes se dedicassem mais ao que era importante”, conta o coordenador das engenharias do Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE, Bernard Genevois. Depois da mudança, a evasão caiu para 25% nas engenharias da UFPE, enquanto anteriormente era de 50%. A alteração também diminuiu o tempo médio de conclusão, que saiu de seis anos e meio para cinco anos e meio.

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