O ex-político e desembargador federal do Trabalho Clóvis Corrêa tem muitas esperanças de reaver cerca de R$ 100 milhões da Petrobras. Este dinheiro equivale a 1 milhão de ações da companhia que foram desviados do espólio de seu tio Humberto da Silva Ramos, 11 anos depois de sua morte em 1988. Brigando na Justiça do Rio de Janeiro, Corrêa teve uma decisão favorável em janeiro determinando que a Petrobras, a Corretora Égide – de propriedade do Bradesco – e o cartório do 21º Ofício de Notas do Rio o reembolsem com os títulos. Os réus no processo devem recorrer da decisão, mas se acatarem a decisão, Clóvis Corrêa promete reverter a herança milionária para “todos os cegos do Recife”.
“Meu tio era cego de um olho e destinou em testamento essas ações para os cegos do Recife. Ele fez a promessa que se não ficasse totalmente cego, ajudaria essas pessoas depois de morto”, diz Clóvis Corrêa, que não gosta de lembrar que já foi vereador do Recife. Ele se diz decepcionado com a política e afirma que essa foi uma fase ruim de sua vida. Seu problema hoje é o inventário de seu tio Humberto. Antes de ter sido concluído, Corrêa afirma que “gatunos se passaram por ele e conseguiram resgatar os papéis da Petrobras.”
“Eu sou o inventariante e quando eu fui distribuir essas ações, um falsário se identificou como ele, falsificou a assinatura e pegou as ações. Agora, o Tribunal de Justiça do Rio mandou a Petrobras, o Bradesco e o cartório pagarem de volta o um milhão de ações aos cegos”, afirma. Como o tio não identificou quais cegos ou instituições teriam direito à bolada, Corrêa informa que vai administrar a distribuição desse montante. Humberto Ramos era solteiro convicto e não deixou herdeiros. A sua fortuna foi distribuída entre os seus sobrinhos.
Clóvis Corrêa diz que vai tentar um acordo com a Petrobras. “Ela não precisa desembolsar nada, basta anular as ações que foram roubadas e emitir um novo lote”, diz. Segundo ele, nenhum dos réus no processo nega que houve falsificação. “Mas há o jogo de empurra. Ninguém nega a falsificação, pois os resgate foi feito em seu nome, em 1999, 10 anos depois de sua morte”, diz. “Mas houve falha de todos os envolvidos, pois a Petrobras e o Bradesco (custodiante) deveriam ter mais cuidado ao transferir a posse de milhões de ações”, considera.
Enquanto o caso ainda não chega ao seu final, Corrêa relembra da figura de seu tio. “Ele era subprocurador geral da Justiça Militar. Era uma figura monumental, elegante. Coloquei o nome de meu primeiro filho de Humberto”, diz. Corrêa relembra que realizou outros desejos do tio, como cantar a Oração de São Francisco em seu velório. Mesmo em vida, Humberto Ramos ajudou os deficientes visuais. A quadra de futebol do Instituto dos Cegos da Rua Guilherme Pinto, nas Graças, tem uma foto dele, como lembrança da obra que ele deixou para o instituto. O mesmo Instituto dos Cegos, no entanto, não sabia da briga judicial. Tomou conhecimento através do JC.