Indústria naval

Transpetro vai cancelar encomenda de 11 navios do Estaleiro Atlântico Sul

Medida poderá significar o fim da retomada da indústria naval no País

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 18/12/2015 às 6:00
Ricardo B. Labastier
Medida poderá significar o fim da retomada da indústria naval no País - FOTO: Ricardo B. Labastier
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A Transpetro - braço de transporte da Petrobras - poderá decretar o fim do processo de retomada da indústria naval no Brasil. Depois de cancelar a encomenda de dois navios gaseiros do estaleiro Vard Promar, a estatal vai rescindir os contratos de 11 petroleiros com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). A medida reduz pela metade a carteira de projetos e inviabiliza a operação do empreendimento para os próximos anos. Dos 49 navios encomendados pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), 22 foram entregues ao EAS. O corte de 11 embarcações significa eliminar 50% da carteira atual.

Ná próxima terça-feira, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Thiago Norões, vai colocar o assunto em pauta, durante reunião com o diretor de Abastecimento da Petrobras, Jorge Celestino Ramos, no Rio de Janeiro. O governador Paulo Câmara também está tentando audiência com o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. “Obtivemos essa informação extraoficialmente e vamos conversar com a Petrobras para tentar reverter essa situação escabrosa. O governo Federal está decretando o fim de uma política adotada por eles mesmos de revitalizar a indústria naval no Brasil. O governo de Pernambuco vai ser indenizado? Nós investimos R$ 2 bilhões para dotar o Complexo de Suape de condições para abrigar um polo de construção de navios”, afirma Norões.

Nos últimos 14 meses, o EAS demitiu 2,7 mil funcionários de um quadro de 5,6 mil colaboradores. Os desligamentos foram motivados pela rescisão do contrato de construção de sete navio-sonda com a Sete Brasil - empresa controlada pela Petrobras e fundos de investimentos -, que está sendo investigada pela operação Lava Jato. A diretoria do EAS deu férias coletivas aos funcionários e os empregos estão ameaçados na volta ao trabalho. Procurados pelo JC, o Atlântico Sul e a Transpetro não se pronunciaram até o fechamento da edição.

“O governo precisa decidir se vai tomar a decisão de investir ou não. A indústria naval ainda depende das encomendas da Petrobras para sobreviver, porque ela é o cliente único. A consolidação de um setor como esse demora entre 20 e 30 anos. Descontinuar agora é comprometer a curva de aprendizagem dos últimos 10 anos. A atividade já perdeu 25 mil empregos, sendo 18 mil só em 2015, numa derrocada semelhante a dos anos 80”, diz o vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Sérgio Bacci.

Balanço de 2015 divulgado ontem pela entidade já aponta a carteira do EAS apenas com quatro petroleiros em carteira. Dos 22 navios contratados, o estaleiro entregou seis e está com o sétimo no cais de acabamento para integrar a frota da Transpetro no início de 2016.

O esvaziamento das encomendas do EAS e do Promar pode fazer desaparecer um dos projetos estruturadores de Pernambuco, que foi escolhido para ser um dos endereços da descentralização do setor naval no País. “Será uma indústria natimorta. Com o cancelamento das encomendas não há como continuar. Isso vai comprometer ainda mais a cadeia metalmecânica, que já vinha sendo prejudicada pela desaceleração do setor. O problema foi ancorar a retomada na Petrobras. O setor não tem competitividade de ir ao mercado internacional e disputar as encomendas”, afirma o presidente do Sindicato das Indústrias Metalmecânicas de Pernambuco, Alexandre Valença.

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