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João Carlos Paes Mendonça: 'Precisamos de mais eficiência'

Presidente do Grupo JCPM fala de suas apreensões e dá sugestões para o País

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Publicado em 01/05/2016 às 10:31
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Presidente do Grupo JCPM fala de suas apreensões e dá sugestões para o País - FOTO: JC Imagem
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O empresário João Carlos Paes Mendonça acompanha com apreensão a  crise política e econômica que paralisa o país, provoca um contigente de mais de 11 milhões de desempregados e fechou milhares de empresas. Conhecido nacionalmente por sua capacidade como investidor, João Carlos já empregou 22 mil trabalhadores e presidiu por dez anos a Associação Brasileira de Supermercados e, depois, a Associação Latino Americana de Supermercados. Também já integrou o Conselho Monetário Nacional. Ele lamenta a falta de lideranças políticas e econômicas que possam falar à Nação, conclamar a sociedade para uma “refundação” do país, seja qual for o  resultado desse processo de impeachment, até porque os políticos se vão mas o Brasil e os brasileiros permanecem. Nessa entrevista ao Jornal  do Commercio, o  presidente do Grupo JCPM, presente nos Estados  de São Paulo, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Ceará fala de suas apreensões, dá sugestões sobre questões de Estado e continua acreditando que  há solução, sim, para todos os nossos problemas.

JC – Diante do momento atual, dessa imensa crise que afeta todos os brasileiros, que medidas o senhor acha que seriam as mais urgentes a serem tomadas pelo Governo Federal?
JCPM – Antes de mais nada, é preciso fazer uma revisão geral no custeio da máquina em todos os níveis – municipal, estadual e federal. Há elevado número de cargos em todos eles. E benefícios que muitas vezes a iniciativa privada não consegue conceder aos seus funcionários, por exemplo. É  preciso reduzir esse número exorbitante de Ministérios. Nenhum país do mundo – creio mesmo que nem mesmo as nações mais atrasadas, registra  um número tão grande de ministérios, além de secretarias com o mesmo status. Se um presidente resolvesse despachar cada dia útil da semana com um  ministro diferente, levaria um mês e meio para atender todos eles.  Já tivemos,  no passado, o Ministério da Educação e Cultura, que cuidava também dos esportes. Hoje temos três ministérios diferentes para fazer o que o MEC fazia com muita competência no passado. Para agregar um aliado político, o governo criou o Ministério da  Pesca. Além disso, são milhares de cargos comissionados  que se distribuem por cada uma dessas Pastas, quase todos,  também, ocupados por indicações políticas, pois o governo não valoriza a meritocracia.

JC - Admitindo-se que o Governo Federal resolva fazer as reformas que o país há tanto tempo reclama e que estão adormecidas no Congresso, qual delas o senhor  considera como a mais urgente?
JCPM – Sem qualquer dúvida, a Reforma Política. Ela é primordial porque poderá alavancar as demais reformas – como a da Previdência, a Sindical, a Tributária.  Nós temos um número inimaginável de partidos políticos, muitos deles sem qualquer representação, inclusive no Congresso. Sobrevivem às custas do Fundo Partidário, cevado com o dinheiro dos contribuintes. Temos uma legislação complexa e, muitas vezes, contraditória. Temos visto, seguidamente, o Supremo Tribunal Federal ser demandado para aclarar dúvidas ocasionadas por questões políticas, algumas delas de  menor importância. Isso não acontece em qualquer país civilizado. Depois da Reforma Política, a meu ver, ao outra prioridade é a Reforma Tributária. Nós temos um dos mais complexos sistemas tributários do planeta, segundo atestam muitos especialistas em Direito Tributário. Pagamos impostos disfarçados de “taxas”, de “contribuições”, disso e daquilo. Temos uma carga tributária exorbitante, hoje em torno de 40% do PIB. Os serviços que o governo devolve à sociedade estão muito longe de corresponder aos impostos que arrecada.

JC – Uma das faces mais cruéis dessa crise é o desemprego. O recuo do mercado consumidor desestimulou o empresariado a investir. Menos investimentos significam menos vagas de emprego. A seu ver, qual a sinalização que o Governo deveria dar – seja Dilma ou Temer  - para a retomada do investimento privado?
JCPM – Em primeiro lugar, garantir segurança jurídica a quem pretende investir. Honrar os contratos em vigor. Não tentar mudar as regras no meio do jogo. Os mais novos não lembram,  mas a primeira medida econômica do  ex-presidente Collor, anunciada um dia após sua posse, foi o confisco da poupança. Um dia depois de eleito pelo voto direto, após 21 anos de governos militares e cinco anos do Governo Sarney, Fernando Collor de Mello frustrou as esperanças de milhões de brasileiros. Seu governo acabou antes de começar. Com segurança jurídica, com regras claras, aos poucos os investimentos privados retornarão, serão criados novos empregos, a empregabilidade retornará.

JC – Nós somos uma Nação com quase meio milênio de história e  mais de 200 milhões de almas, onde desde o descobrimento enfrentamos problemas sociais. Há muita desigualdade social, muitos gargalos que o poder público não resolveu nem resolverá sozinho. O senhor acha que a sociedade também tem culpa nesse quadro tão preocupante e, se tem, pode fazer alguma coisa para ajudar a superar isso?
JCPM – Eu acredito que sim, que a sociedade brasileira precisa fazer um “mea culpa”, pois nunca houve, de sua parte, uma preocupação ou envolvimento real no sentido de tornar o nosso país mais justo e mais igualitário. Temos pessoas que ainda vivem na  miséria, temos bolsões de pobreza de Norte a Sul do país, temos registros de violência urbana que nos colocam entre as nações mais perigosas do  mundo para se viver – e tudo isso é fruto dessa desigualdade social, embora pobreza e miséria não sejam sinônimos de violência. Creio que precisamos olhar para o futuro dos nossos jovens, se não quisermos ver perdida essa nova geração. Temos que garantir para eles ensino de qualidade e formação profissional, para evitar que sejam atraídos pela marginalidade. Nós temos essa preocupação. Nosso Grupo mantém uma instituição de compromisso social que vem trabalhando junto à juventude nos Estados onde  estamos presentes e que já qualificou profissionalmente mais de  10 mil jovens nos Estados de Pernambuco, Bahia e Ceará. Além disso, temos a Fundação Pedro Paes Mendonça que atende o povoado de Serra do Machado. O empresariado brasileiro precisa ter mais compromisso social com o país. Diante de tantos problemas que nos afrontam, o governo, sozinho, jamais conseguirá resolver todos eles.

JC – Como o senhor vê os programas sociais mantidos pelo Governo?
JCPM – Desde o Governo de Fernando Henrique Cardoso, que lançou os  primeiros programas sociais permitindo transferência de renda para os mais necessitados, que vejo com  bons olhos essas iniciativas. Acho que programas como o Bolsa Família e o Minha  Casa Minha Vida, entre outros, deveriam até mesmo ser fortalecidos. É preciso, no entanto, que haja um permanente acompanhamento na aplicação das verbas destinadas a esses programas, para evitar desvios e que contemplem quem não necessita. Outra importante ressalva é com relação às perspectivas de permanência no Bolso Família. O governo montou o programa gerando dependência, sem planejamento de saída das pessoas dessa assistência oferecida.

JC – Qual a sua visão sobre a questão das privatizações e das concessões?
JCPM – Entendo que o governo tem compromissos e obrigações que são  intransferíveis – que a sociedade vai cobrar dele por serviços que lhe compete  prestar. Mas, também acho que o governo não deve estar presente em áreas e setores que a iniciativa privada executa com muito mais competência, até porque é essa a sua razão de ser.  Se for feito um balanço do numero de imóveis que o governo possui, muita gente vai se surpreender. Então, eu pergunto: por que não se desfazer desses imóveis, muitos deles sem nenhuma utilidade prática, alguns fechados, outros sub-utilizados, quando poderiam ter outra destinação? Por que não usar esse patrimônio imobiliário improdutivo para transformá-lo em creches, em escolas, em equipamentos que possam servir à comunidade? Ou, simplesmente, negociá-los com a iniciativa privada e usar os recursos dessa negociação para aplicá-los em atividades sociais? Com relação às concessões, sou absolutamente favorável a elas. Não acredito, por exemplo, que o governo  possa cuidar melhor das nossas estradas, todas sucateadas, do que  uma empresa de engenharia que tenha experiência nesse setor. É assim que funciona em todas as nações evoluídas e não há outro caminho para eficiência que não seja esse. O Governo tem que se esforçar para garantir à sociedade educação, saúde e segurança de qualidade, e ser o grande negociador das demandas onde deve atuar com mediador.

JC – Muita gente fala, com toda razão, da ineficiência da máquina pública. Ministérios e empresas estatais são conduzidos por pessoas que muitas vezes não tem qualquer intimidade  com as instituições que vão dirigir. Como o senhor vê isso?
JCPM – Isso faz parte dos nossos erros históricos, dos nossos vícios políticos.   Nós deveríamos bloquear, em todos os níveis do serviço público, cargos estratégicos para que fossem ocupados por servidores de carreira, que ascenderiam pela competência, não pelo padrinho político.Seria ainda uma forma de bloquear caminhos que hoje levam à corrupção, e que desestimulam servidores íntegros negligenciados pelas negociatas que todos conhecemos.

JC – O país está em crise, os empresários estão pessimistas, os investimentos minguaram. Os bancos oficiais podem, num quadro  como esse, ajudar o país a sair dessa crise?
JCPM –
Acho os  bancos oficiais deveriam priorizar projetos que buscam gerar desenvolvimento e emprego para as regiões, sobretudo naquelas menos favorecidas.

JC – Como o senhor vê o papel das lideranças empresariais num momento de crise como esse que estamos atravessando?
JCPM –
Nós não temos hoje grandes líderes empresariais que sejam reconhecidos nacionalmente. Não temos mais um Antonio Ermírio de Morais, um Olavo Setúbal, um Severo Gomes, um Mario Amato que, mesmo na época dos governos militares, nunca se calaram em defesa dos setores que representavam. Eram ouvidos  e respeitados em suas demandas. Digo isso com a experiência de quem presidiu por 10 anos a Associação Brasileira de Supermercados e membro do Conselho Monetário Nacional – e que sempre colocou na pauta das discussões nacionais as suas preocupações e sua  visão do país. Essa falta de lideranças preocupa - isso não é bom para o país.

JC – Vamos nos colocar numa posição otimista. Vamos admitir que, superado esse  momento político, o nosso país comece  um processo de recuperação econômica, mesmo que lento, porém continuado. Quanto tempo o senhor acha que levaremos até que o país volte a crescer?
JCPM –
Nós estamos registrando queda do PIB, isto é, crescimento negativo, há três anos. Se o Governo Federal, seja quem for, adotar medidas duras, mas urgentes, ainda vamos passar muito  tempo para voltar a crescer. Lamentavelmente, dependendo da condução, eu ouso dizer que poderemos perder uma geração.  

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