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Economia do compartilhamento garante renda extra em tempos de crise

Plataformas como Uber e Airbnb geram renda extra e contribuem para a economia

Da editoria de economia
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Publicado em 31/12/2017 às 7:05
Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Plataformas como Uber e Airbnb geram renda extra e contribuem para a economia - FOTO: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
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Alugar residências, lavar carros, pegar carona e até hospedar bichos de estimação são apenas algumas das infinitas possibilidades oferecidas pela economia do compartilhamento. Impulsionado pelo avanço da tecnologia, o compartilhamento garantiu renda extra para milhares de pessoas no Brasil, um alívio durante o momento de recessão e desemprego em alta.

Com a perspectiva de crescimento da economia brasileira de até 2,68% (segundo o último boletim Focus), empresas desse segmento enxergam mais oportunidades para se expandir, principalmente com o aquecimento da demanda por serviços. No mundo, a perspectiva é de movimentar US$ 335 bilhões até 2025, segundo a consultoria PWC. “É uma tendência praticamente irreversível”, comenta o professor do MBA de Marketing e Gestão Comercial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Roberto Kanter.

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A economia do compartilhamento ajuda a aproximar pessoas que oferecem serviços daquelas que têm demandas. Isso permite que as plataformas tecnológicas tenham um crescimento grande.

O aplicativo de transportes Uber, por exemplo, atingiu no Brasil a marca de mais de 500 mil motoristas parceiros em outubro de 2017, e 17 milhões de usuários ativos (pessoas que usaram o aplicativo pelo menos uma vez nos últimos três meses). Em outubro de 2016, eram 50 mil motoristas parceiros. Em Pernambuco, são 21 mil motoristas. Durante a recessão, o serviço foi uma alternativa para fugir da crise e garantir o sustento de muitas famílias.

Foi o caso do biólogo Rodolfo Ferreira, 28 anos. Ele dirige há pouco mais de um ano, cinco horas por dia, de quatro a seis dias na semana, por uma média de R$ 20 a hora. O que apura no Uber é a sua renda. Rodolfo foi atraído para o negócio após sua empresa falir. “Graças ao Uber, me livrei de muitas dívidas, dá para se virar”, comenta. Com a melhora da situação financeira, no entanto, ele pensa em deixar o serviço. “O risco de dirigir o dia todo ainda pesa quando comparado a outros empregos”, complementa.

Para a Uber, o crescimento da economia vai possibilitar novas oportunidades de uso da plataforma. “Com mais dinheiro, pessoas que moram em regiões menos favorecidas vão ter a chance de usar o serviço pela primeira vez. Já os usuários antigos podem experimentar outras categorias.”

Rodolfo também trabalha para o 99 Pop, com objetivo de complementar a renda. Este ano, a empresa, braço da 99, expandiu o serviço para mais de 30 cidades. No Recife, a 99 tem mais de 10 mil motoristas. No País, são mais de 300 mil. Já o número total de usuários é de 14 milhões.

“Lançamos o 99 Pop em cidades onde vimos maior necessidade de opção de transporte. Acreditamos que existe mercado suficiente também dentro do modal para que várias empresas possam fornecer serviços”, explica o diretor de Operações da 99, Marcel Hwa. “Acreditamos que temos um potencial enorme de crescimento do número de motoristas, uma vez que cada vez mais pessoas veem a profissão de motorista particular como uma alternativa para geração de renda”, explica.

Também na área de transportes, o Lavô explora um segmento distinto: o de lavagem de carros. No Recife, a plataforma começou a funcionar este ano. Quem precisa de uma limpeza pode acessar o aplicativo e solicitar um profissional para fazer o trabalho. São oferecidos vários tipos de lavagens, que variam entre R$ 30 e R$ 145.

Já quando o assunto é residências, o Airbnb fez milhares de pessoas ofertarem as próprias casas para hospedagem. Hoje, conta com 143 mil anúncios cadastrados no site. Em 2016, a plataforma injetou R$ 2,5 bilhões ao PIB brasileiro, aponta estudo da Fipe, que ainda não publicou os dados de 2017. O que se sabe é que o ganho anual de um anfitrião típico no País é de R$ 6.070, sendo que 20% deles usaram a renda do Airbnb para manter o lar. A empresária Iara Cordeiro, 53, aluga o apartamento no Espinheiro.

Já recebeu pessoas de todo o mundo. O Airbnb representa 15% de sua renda. Para além do faturamento, ela diz que o melhor é compartilhar experiências com as pessoas que recebe. “Alugo desde 2015. É bom porque movimenta a casa. O Airbnb possibilita que outras pessoas tenham uma experiência de vida mais completa em outra cidade, em uma casa real”, diz.

Outro serviço inovador é o DogHero, em que pessoas hospedam animais em suas residências. O anfitrião mantém a rotina de alimentação e passeios e trata os pets como se eles estivessem em casa. O valor por noite de hospedagem varia em média entre R$ 30 e R$ 70. Recife é a sétima cidade mais importante para o faturamento da DogHero. A receita na cidade cresceu mais de três vezes na comparação entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017.

Quando a reportagem conversou com Francelyna Torres e a mãe, Eveline Torres, elas hospedavam os cachorros Lisa e Carpaccio no apartamento onde vivem, na Boa Vista. Por mês, ganham em média R$ 350. “A renda extra ajuda com as contas da casa e a melhorar a experiência para os pets. Um dia, quero seguir a carreira de veterinária. Pela hospedagem, consigo conhecer mais sobre as raças e comportamentos. Não penso em deixar de hospedar”, comenta Francelyna.

A expectativa de especialistas para o futuro é de que as pessoas continuem a compartilhar. “Com certeza, não haverá diminuição da demanda, que vai continuar a crescer, como ocorre com o modelo de negócios no mundo inteiro”, explica Roberto Kanter.

BENEFÍCIOS


O compartilhamento como alternativa de fonte de renda se popularizou. Para 79% dos brasileiros, o consumo colaborativo torna a vida mais fácil e funcional. Já 68% se imaginam participando de práticas nesse sentido no máximo daqui a dois anos, segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil.

As modalidades mais conhecidas e utilizadas são o aluguel de casas e apartamentos em contato direto com o proprietário, caronas para o trabalho ou faculdade e aluguel de roupas. Isso representa uma mudança de hábito para os brasileiros, como deixar o carro em casa para usar o Uber ou o 99, por exemplo. A pesquisa da CNDL e do SPC mostra que 40% dos brasileiros já trocaram hotel por residências de terceiros dentro do contexto da economia compartilhada.

Para o designer Ricardo Dourado, 23 anos, o Airbnb e outras plataformas de compartilhamento possibilitam maior transparência do serviço e da qualidade. Os consumidores têm mais voz na hora de reclamar e de agradecer. “Além disso, outras pessoas podem ter acesso a avaliações de usuários com mais facilidade”, afirma. “Usei Airbnb quando estava fazendo intercâmbio em Portugal. Acho que aplicativos e plataformas desse tipo modificaram a lógica de oferta de serviço. O Airbnb por exemplo, na minha opinião, dá mais visibilidade ao comércio local e amplia as opções para o consumidor com preços competitivo”, diz.

Além do custo mais baixo para o usuário, o compartilhamento traz outros benefícios, como a reutilização de bens ociosos. “Está aliado à economia sustentável. Algo que iria para o lixo pode ser vendido, retarda o processo de descarte. Outra possibilidade é o acesso a produtos que não estão mais à venda, como antiguidades. No setor de turismo, permite o intercâmbio, que as pessoas visitem e se estabeleçam. É uma cultura do desapego”, comenta a assessora econômica da Fecomércio-SP, Fernanda Della Rosa.

Um entrave para 42% dos brasileiros em relação ao compartilhamento é lidar com estranhos. Já 37% citaram a falta de garantias no caso de não cumprimento de acordos. Esse último item gera discussões em todo o mundo sobre a regulamentação dos serviços.

No Brasil, a Câmara dos Deputados criou uma Comissão Especial do Marco Regulatório da Economia Colaborativa, com objetivo de discutir o assunto. Para Fernanda Della Rosa, a regulamentação tem que organizar e não impedir o compartilhamento. “A economia do compartilhamento tende a ser cada vez mais utilizada”, complementa.

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