Reflexos da greve

Recifenses relatam a dificuldade para comprar gás de cozinha

Apesar de o governo ter prometido a regularização nos abastecimentos, milhares de recifenses continuam sem gás de cozinha em casa

Bruno Vinicius
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Bruno Vinicius
Publicado em 04/06/2018 às 20:24
Foto Diego Nigro/JC imagem
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"Eu já passei noites esperando na fila e nada de conseguir gás". A dona de casa, Hortência Martins Carneiro, de 46 anos, sem gás de cozinha há quase um mês, foi uma das primeiras a marcar presença na fila quando houve o anúncio da chegada de botijões em um dos poucos depósitos da Brasília Teimosa, localizada na Zona Sul do Recife, na manhã desta segunda-feira (4). Apesar da promessa de regularização nos abastecimentos dos principais setores por parte do governo estadual a partir desta semana, ela e milhares de pessoas da Região Metropolitana do Recife (RMR) ainda estão sem o GLP em casa.

Para contornar a situação, a ideia está sendo cozinhar na casa de quem tem o combustível ou improvisar um fogareiro à base de carvão ou álcool. Como é o caso da professora Cleópatra Valença, de 60 anos, que montou uma base de cozinha com os dois tipos de combustão. "Logo após o início da greve ficamos sem o gás aqui em casa. Para cozinhar, eu passei a utilizar o carvão num fogareiro improvisado aqui fora. O outro eu montei na cozinha para aquecer a comida com álcool. Faço as comidas em grande quantidade, guardamos e esquentamos lá dentro", explica a professora, que está sem o combustível há 15 dias.

Sem previsão de chegada de novos botijões aos depósitos do bairro da Zona Sul do Recife, ela não se preocupa com os riscos que está se submetendo ao aquecer a comida com o álcool. "Eu procuro não comprar álcool muito forte. Sempre com pouca porcentagem e quando vou cozinhar, também coloco em pouca quantidade para não correr risco de acidente", comenta Cleópatra.

Diferente da situação da professora, que acabou se acostumando com o improviso em casa, outros moradores de Brasília correm contra o tempo, na tentativa de diminuir os impactos da falta de gás em casa. "A gente que tem menino em casa sofre, né? A gente tem que fazer um mingau, fazer uma comida. Faz dias que eu corro para aqui para comprar o gás, mas nada se resolve. Acaba muito rápido. O jeito é cozinhar com carvão ou com álcool", lamenta a aposentada, Lindaci Alves dos Santos, de 58 anos, que viu o gás acabar enquanto ocupava a metade da fila de um dos estabelecimentos do local.

No depósito em que 30 pessoas voltaram sem o gás nas mãos, foi a primeira vez, desde a quinta-feira (31), que chegou o combustível. "Está chegando muito pouco. Desde a semana passada estamos com dificuldade de abastecimento. Não temos previsão nenhuma de quando vai chegar gás aqui de novo", conta um dos vendedores do local.

Foto Diego Nigro/JC imagem
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PRÁTICA

A falta de gás depois da crise dos combustíveis só acionou uma prática que já era realizada no ano passado por milhões de brasileiros. Segundo estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 12,3 milhões de famílias já utilizavam o carvão ou lenha como combustível no ano passado. Ainda de acordo com o relatório, o Nordeste foi a região com o aumento mais significativo quando se analisa os números brutos: 411 mil domicílios passaram a utilizar lenha ou carvão como motor para cozinhar os alimentos.

O que a PNAD aponta que o hábito é uma reação dos consumidores à alta do gás, com média histórica em junho do ano passado. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a mudança na política de preços da Petrobras afetou diretamente o consumidor, numa alta de 16,2%, maior índice desde 2002. Em plano de uma discussão para reduzir o preço do combustível e da gasolina, o governo federal tenta contornar os efeitos da greve dos caminhoneiros, que paralisou as principais rodovias nacionais nas últimas semanas.

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