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Sustentabilidade está na moda

Empresas pernambucanas seguem tendência mundial

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 17/06/2019 às 14:45
Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
Empresas pernambucanas seguem tendência mundial - FOTO: Foto: Brenda Alcântara/JC Imagem
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"O mundo precisa fazer uma moda mais bonita por dentro e por fora.” Com essa frase, a design norte-americana Sybilla Sorondo alerta para o que acontece por traz das roupas que nos encantam nas vitrines e nas araras. O setor mundial de vestuário e calçados responde por 8% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e, se continuar neste ritmo, as emissões subirão mais de 60% até 2030. Diante do cenário, produzir de forma ética e sustentável é tendência irreversível no universo da moda. No Brasil, que se coloca como o quarto maior consumidor de vestuário do mundo e fatura R$ 170 bilhões por ano, há uma corrida para acompanhar o comportamento mundial.

Instalada no Engenho Pangauá, no meio do canavial, a Marie Mercié é um exemplo de empresa que conseguiu dar uma guinada na vida econômica da pequena comunidade de Caricé, em Itambé (Zona da Mata Norte), com a produção de vestuário. A empresária Mércia Moura chegou na região há mais de 40 anos e não queria viver como dona de casa. Seu primeiro trabalho foi sair da propriedade com um caminhão carregado de galinhas para vender na feira da cidade vizinha de Goiana. A pedido da mãe, Dona Marisa, desistiu das aves e montou uma confecção. A vocação estava na sua história. A avó Maria Emília mantinha uma sala de costura em casa, onde Dona Ivone confeccionava as roupas da família. Naquele ambiente, a mãe e as tias de Mércia também aprenderam a costurar.

No começo, a marca foi batizada de MM Special e depois ganhou o braço de varejo Marie Mercié, com a inauguração de pontos de venda nos shoppings RioMar e Recife, em 2014. A primeira venda da empresa aconteceu graças à aposta de Dona Marisa no negócio, que pediu ao empresário Assis Farinha, dono do magazine Ele e Ela para dar uma olhada nas peças. “Ele viu, gostou e comprou. Depois disso, conquistamos clientela em São Paulo e passamos a vender no atacado, como acontece até hoje”, conta a empresária.

A Marie Mercié mudou a realidade econômica de Caricé. Donas de casa se transformaram em costureiras e bordadeiras e até os homens acostumados à palha da cana aprenderam sobre linhas, agulhas e bordados. A empresa adota o conceito de sustentabilidade, reduzindo o consumo de água, evitando estoque e utilizando matérias-primas ecológicas. “Nossa aposta mais recente foi o couro ecológico produzido em laboratório a partir de moléculas da vaca. Na nossa última coleção de inverno usamos 6 mil metros e foi o maior sucesso”, comemora. A confecção também está experimentando tecido com fibra de bambu e na mistura de tecido a base de garrafa PET com resíduos têxteis.

Mas o maior exemplo de sustentabilidade da Marie Mercié está na área social. A empresa mantém uma escola de costura para 12 pessoas em cada turma e paga um salário para quem está aprendendo. Ex-trabalhador da cana, Josinaldo Fagundes (conhecido como Dias) não sabia usar computador, mas foi parar na área de criação da fábrica. “A empresa que veio dar treinamento do software disse que precisava de duas pessoas com conhecimento em informática, mas eu incluí Dias, porque sabia do potencial dele”, recorda Mércia. Com 21 anos de empresa, Dias maneja o computador e reproduz na tela os bordados criados pelas estilistas. “Nunca me imaginei fazendo esse trabalho, mas com oportunidade e vontade de fazer se vai longe”, afirma.

A Refazenda tem a sustentabilidade enraizada na sua trajetória. Prestes a completar 30 anos, desde cedo a marca entendeu que os retalhos não eram lixo. Acostumada a produzir peças com longa vida útil, a empresa está testando duas novidades batizadas de Realce e Reouse (no sentido de ousar). A ideia é trazer consumidores da marca para um processo de co-criação de peças. “São roupas que estão no armário, mas as pessoas querem transformar. Nós damos essa assistência transformando uma calça em um short, por exemplo”, comenta o diretor Marcos Queiroz. Já o Reouse aponta diversas maneiras de utilizar as peças, como um macacão, que tirando uma parte da frente vira uma calça.

JOVENS EMPREENDEDORAS

Criada pelas jovens empreendedoras Cláudia Renda e Beatriz Beltrão, a marca Viva Yemanjah já nasceu com o DNA da sustentabilidade. Está no mercado desde 2016, o próprio nome foi inspirado na conexão com o mar e a natureza. “O setor de moda é o segundo maior poluente mundial e é preciso desenvolver soluções para não trazer mais danos. Por isso adotamos uma série de estratégias, como não ter sobras na produção, não usar papel ou plástico nas embalagens e participar de campanhas que estejam alinhadas com nossa ideologia e propósito”, destaca a sócia Cláudia Renda.

Os retalhos da produção são doadas ao espaço Aria Social, em Piedade, os produtos são embalados em sacolinhas de tecidos ou ecobags, a marca prefere os tecidos naturais e o cartão colocado nas peças para orientar sobre a lavagem é feito de papel semente. Este ano, a Viva Yemanjah foi escolhida entre as dez marcas brasileiras que participam da iniciativa Fair Button contra o trabalho escravo infantil. As peças da coleção trazem um botão azul com um sorriso, identificando que se tratam de marcas comprometidas com a proteção dos direitos das crianças. Parte da renda será revertida para ajudar instituições de estímulo educacional.

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