Empreender

Mulheres mostram que abrir e manter um negócio é com elas

Falta de recurso é obstáculo que pode ser vencido

Edilson Vieira e Marília Banholzer
Cadastrado por
Edilson Vieira e Marília Banholzer
Publicado em 07/07/2019 às 8:44
Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Falta de recurso é obstáculo que pode ser vencido - FOTO: Foto: Filipe Jordão/JC Imagem
Leitura:

Abrir um negócio com pouco dinheiro é a realidade de muitas empreendedoras brasileiras. O estudo Empreendedoras e seus negócios 2018, realizado pela Rede Mulher Empreendedora (RME) com apoio da Avon, mostra que 37% das duas mil mulheres ouvidas abriram um empreendimento praticamente sem nenhum recurso. Este foi o caso de Auri Felix, idealizadora da grife Hella; das irmãs Lia e Carminha Arruda, donas do Salão Sempre Linda; e de Silvania Pereira e Viviane Lemos, proprietárias do Bolos M’Avó.

Todas essas mulheres são microempreendedoras individuais (MEI) pernambucanas que abriram seus empreendimentos e têm em comum o gosto por colocar a “mão na massa” em prol de seus negócios. Usando o limite disponível do cartão de crédito, as amigas Silvania Pereira e Viviane Lemos investiram R$ 3.500 pra começar a fazer bolos caseiros. Forno, formas, insumos. Tudo foi comprado em seis parcelas. “No primeiro mês tivemos que pagar a fatura do cartão com nosso dinheiro, mas a partir do segundo mês a empresa já começou a se pagar”, contou a administradora Silvania Pereira.

Ela estava desempregada desde que foi demitida, ao retornar da licença-maternidade. Sua sócia, Viviane Lemos, estava de licença-médica e procurava uma forma de aumentar a renda familiar. “Tivemos a ideia de vender roupa, mas logo desistimos. Depois Vivi sugeriu que fizéssemos bolos, mas ninguém sabia cozinhar muito bem. Pegamos umas receitas da sogra dela, que tem uma casa de bolos em outro Estado, e fomos fazendo testes. Hoje acertamos a fórmula”, celebrou Silvânia, ao contar a história do Bolos da M’Avó (@bolosmavo), criado há dez meses.

Hoje com um box alugado em Olinda, a empresa começou na cozinha das sócias. Elas faziam os bolos, vendiam na frente dos supermercados ou faziam entregas domiciliares. Deu certo. Em menos de um ano a dupla já tem um funcionário registrado e planeja abrir a primeira filial. A produção média diária é de 30 bolos.

O estudo Empreendedoras e seus negócios 2018 mostrou, ainda, que 17% recorreram ao dinheiro guardado na poupança e 13% ao próprio salário. Foi o caso de Auri Felix, idealizadora da grife Hella (@hella.etnica). Fotógrafa de profissão e com mão boa para costura, Auri construiu sua vida e sustentou a família através da fotografia social (de eventos). Mas um AVC fez com que ela perdesse o equilíbrio do corpo, impossibilitando seu trabalho. Negra, militante, ela encontrou na moda, há quatro anos, o caminho para o empreendedorismo.

“Embora eu nunca tenha feito as contas de quanto gastei plara abrir meu negócio, o investimento saiu do meu bolso aos poucos, tirando de algum dinheiro que tinha. Já fiz curso com Sebrae, mas a parte mais difícil de ser empreendedora é cuidar das contas, a parte financeira”, comentou Auri.

Este ano ela está expondo suas obras no estande da Secretaria da Mulher do Estado na 20ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte). “Vendo meus produtos através das redes sociais, participando de feiras e eventos para mulheres, mas também estou abrindo uma filial em Salvador (BA). Quando a economia de Pernambuco parou, fui buscar mercado fora e consegui espaço na Bahia”, ressaltou.

Também há quatro anos lutando por um espaço no mundo dos negócios, as irmãs Lia e Carminha Arruda têm se dedicado ao salão Sempre Linda, em Olinda. As duas saíram de Limoeiro, no Agreste pernambucano, em busca de oportunidades de emprego e crescimento profissional na capital. Chegaram a trabalhar no comércio formal, mas foi através dos incentivos dos irmãos – também empreendedores – que a dupla decidiu estudar sobre o mundo da beleza. Com cursos de cabeleireira e manicure, Lia e Carminha usaram o pouco dinheiro que tinham, o limite do cartão de crédito e recursos emprestados pelos irmãos para abrir um salão.

“Eu tinha R$ 700 e um cartão de crédito. Minha irmã tinhas alguns produtos. Mas meus irmãos nos emprestaram dinheiro e acredito que gastamos cerca de R$ 15 mil com tudo. Ainda não conseguimos pagar tudo que nossos irmãos nos emprestaram, mas nosso salão consegue pagar os próprios custos, e é dele que tiramos os nossos sustentos”, disse Lia Arruda. “Empréstimos nós nunca quisemos, com medo de não dar certo e ficar com a dívida. Fizemos com a cara, a coragem e a esperança de dar certo, mas a parte mais difícil de trabalhar certo, com honestidade, com impostos pagos, bons produtos”, pontuou Carminha Arruda.

Por pouco as irmãs Lia e Carminha não viram o sonho naufragar. Em 2016, no auge da crise econômica no País, as duas pensaram em fechar as portas. No entanto, a decisão de mudar de ponto comercial, com um aluguel mais baixo, permitiu que a dupla reorganizasse as finanças. Hoje as duas contam com duas manicures prestadoras de serviço e uma agenda concorrida de clientes.
Boleiras, costureiras, cabeleireiras. Os perfis contados mostram uma realidade do empreendedorismo feminino. Segundo o Sebrae, as mulheres MEI se destacam em atividades de alimentação, moda e beleza. “Já existe uma perspectiva, por causa da nova geração de empreendedoras que teve mais acesso à educação, de abertura de novas áreas, inclusive tecnológica”, ressaltou Lívia Moura, analista do Sebrae/PE. “As mulheres colocam a mão na massa porque, geralmente, fazem algo em que acreditam. Essa característica é muito forte no empreendedorismo feminino.”

Últimas notícias