REC'N'PLAY

Inteligência Artificial pode tirar o País da estagnação, diz Tânia Cosentino

CEO da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, está no Recife para participar do Rec’n’Play e fala sobre Inteligência Artificial

JC Online
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Publicado em 03/10/2019 às 0:54
Inteligência Artificial está entre os temas que Tânia fala no Rec'n'Play
CEO da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, está no Recife para participar do Rec’n’Play e fala sobre Inteligência Artificial - FOTO: Inteligência Artificial está entre os temas que Tânia fala no Rec'n'Play
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A CEO da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino, está no Recife para participar do Rec’n’Play, onde fala hoje sobre inclusão, mundo tecnológico e da falta de mão de obra no setor. Ela faz previsões preocupantes, como a eliminação de 11 milhões de vagas, mas defende que a capacitação pode mudar o quadro e a economia do País.

Confira a entrevista completa dada a Leonardo Spinelli:

A senhora veio para o Rec’n’Play. O que a senhora vai passar para o público?


Tenho três atividades. E eu sempre estendo para visitar clientes, parceiros, fazer encontro de negócios e conversar com diferentes públicos. Começo na sexta, falando de diversidade de inclusão, principalmente no mundo tecnológico que a gente tem  um gap de mulheres. Somente 15% dos alunos matriculados em cursos de Ciência da Computação e Engenharia são mulheres. E aí a um grupo de executivas vai debater a importância de se atrair mulheres para esse mundo da tecnologia. Depois almoço com líderes empresariais mulheres da região e no final da tarde eu vou falar um pouco de tecnologia e aí eu entro na transformação da Microsoft, as inovações que a gente está trazendo e o que impacta na sociedade,planeta e economia e, como empresa, como a gente pode embarcar essa inovação para melhorar o nosso negócio e ao mesmo tempo mantendo responsabilidade com os trabalhadores e sociedade. Vou falar da nossa própria transformação, nós temos uma história de 45 anos super-bacana, sempre inclusiva, desde a formação da empresa com Bill Gates e Paul Allen que tinham como proposta colocar um computador em cada mesa. Nos anos 60 se falava que o mundo comportaria cinco computadores pessoais. Depois que eles falaram que a gente pode sim democratizar e colocar o computador em cada mesa, parecia algo meio revolucionário para época. E hoje o computador está na palma da nossa mão e não mais na mesa. 


E agora a gente tem falado de novas tecnologias e a nuvem é uma delas. que habilita qualquer empresa a ter intensidade tecnológica digital muito grande sem necessariamente ter que investir em infraestrutura de IT, que não é o core business da empresa. Então você como startup ou mesmo uma grande empresa você pode usar o seu investimento para o seu core business e aproveitar de uma tecnologia para trabalhar com um grande volume de dados e gerar insights.


A nuvem hoje representa quanto do negócio da Microsoft?


Não posso fazer disclosure de número local, somente os resultados da companhia mundial (no ano fiscal de 2019 a Microsoft registrou receita de US$ 125,8 bilhões, performance 14% maior que do ano anterior. e um lucro operacional de US$ 43 bilhões, 23% maior),. Mas a

 nuvem é um mercado que, no Brasil, mais que dobra até 2022. É um mercado que vai de USS 1,7 bilhões para US$ 4 bilhões. É um mercado que cresce exponencialmente, por si só e nós temos o compromisso de crescer nesse mercado que ainda é menor do que a nossa atividade principal,mas cresce num ritmo extremamente acelerado. Até para ganhar participação de mercado.


Hoje quando compramos  um computador uma das preocupações é com a capacidade de armazenamento. Essa questão tende a acabar?


Hoje em dia meus arquivos todos até meus arquivos de trabalho estão na nuvem que eu posso acessar de qualquer dispositivo e de qualquer lugar. Isso dá liberdade mobilidade e permite acessar sem investir no seu hardware.  Então, pensa olhando só como consumidor o custo que teria que ter um equipamento com mais memória para colocar tudo o que você quer e com o risco de de fazer backup e proteger contra vírus. Quando você é uma empresa, você precisa de um infraestrutura de IT que trabalhe todos os softwares e dados da empresa. E aí esses dados estavam dentro do datacenter da empresa. Aí como empresário você tem que se preocupar com essa infraestrutura de datacenter, proteção contra cyberataques, vírus, educação das pessoas., acesso. e uma série de preocupações que não são relacionadas com o core business e é um investimento pesado. A partir do momento que você coloca os seus dados e programas na nuvem, você reduz a sua necessidade de capex e você transforma isso num pay as you go. E um exemplo interessante é o Black Friday. Muitas empresas de retail tem um de seus  canais é o ecommerce. Imagina o número de transações que se faz numa Black Friday, um período de 24h, 48h é absurdamente maior do que o volume ao longo do ano. Imagina você ter que dimensionar a sua capacidade de infraestrutura para esse grande volume de dados. Você simplesmente compra mais espaço ou devolve o espaço. Isso te dá flexibilidade, escalabilidade, te dá uma economia em capex… Fora o fato de você ter a proteção, você pegar a Microsoft, temos data centers espalhados por todo o mundo, somos o provedor com maior número de certificações. E cada aplicativo que vou rodar na minha nuvem eu dou garantia ao meu cliente que vou rodar dentro das especificações de compliance locais daquele software. Estamos expandindo a nossa capacidade no Brasil em função desse mercado que cresce.  


Hoje em dia a sociedade tem a preocupação com a privacidade, como a Microsoft lida com isso?


Toda a nossa plataforma colaborativa de ambiente de trabalho da família office, ou a nossa nuvem, ou nossos business aplications, todos os pacotes vêm para atender a legislação de dados e já foram desenhados para a lei europeia, pro GDPR, que é um pouquinho mais rigoroso que a lei brasileira. As ferramentas são desenhadas para garantir a acessibilidade. então pessoas com limitação cognitivas e físicas também conseguem ter funcionalidades especiais na plataforma e também tem uma séries de features que reduzem os risco de cyberataques como identificação as pessoas que estão usando, uma dupla identificação, localização. então temos uma série de recursos nas nossas áreas de soluções que me habilitam a trabalhar melhor no mundo de LGPD (Lei de Proteção de Dados Pessoais). E aí quando você trabalha no mundo de dados. é fácil identificar que dado é confidencial e qual não é. Quando você trabalha com e-mails, às vezes planilhas que ficam na máquina de cada pessoa, como a gente trabalha isso a gente já tem pacotes que identificam o que é dado aparentemente crítico e conseguimos parametrizar as ferramentas para que elas protejam aquele cliente. Microsoft é uma das empresas que mais defende não só privacidade de dados, mas regulamentação por aplicação de tecnologia até para não ter abusos. Tem muita gente que dados são públicos. Não, você é dono dos seus dados. Eu tenho o direito de dizer se você vai usar meus dados ou não e se eu permitir que você use meus dados, que dados você pode usar. A gente tem liderado no mundo debates sobre o tema, importância da privacidade, da ética da Inteligência artificial, qual a forma que você vai programar um algoritmo, se você tem um preconceito, você pode programar levando seus próprios bloqueios. Então , como garanto um algoritmo para uma determinada aplicação, como um carro autônomo ou uma máquina que está operando, um robô de call center, como eu garanto que essas máquinas são programadas de uma maneira que vai atender todo mundo de uma forma igual e respeitosa, sem ferir a ética. São debates que estamos levando e temos até um grupo que cuida da ética na inteligência artificial.


A senhora poderia falar um pouco das aplicações da Inteligência Artificial aqui no Brasil?


Vou dar um exemplo de um grande debate  que é o crescimento econômico e o meio ambiente. Há pessoas que acreditam que precisamos de mais área para ter o desenvolvimento do setor agrícola. Eu não preciso de mais área,mas de tecnologia. O nosso setor já embarca alguma tecnologia, mas na hora em que você embarca a inteligência artificial ela empodera o humano. Ela pega um volume absurdo de dados e vai conectar e transformar em insights de negócios. Fizemos parceria com a Coopercitrus, uma cooperativa de São Paulo, e o grande desafio do produtor é rentabilidade e às vezes falta previsibilidade com a sua colheita e custo de todo processo de produção. De colocar nutrientes, controle de pragas e mesmo com maquinários, ainda tem tarefas executadas de forma manual, E esse tempo poderia ser reduzido. Em parceria com a Logicalis, colocamos drone sobre o campo, que mapeia com tecnologia de reconhecimento visual vai mapeando as áreas a serem plantadas e começa a capturar imagens e em função da coloração do solo dá para saber o tipo de nutriente que aquele determinado espaço de solo necessita. E aí eu posso aplicar através de um máquina exatamente a quantidade de nutrientes na área que eu preciso. Antes eu pegaria uma pessoa para tirar amostras de e ter que fazer testes de laboratório, de cada espaço. Não é em tempo real, demora no mínimo semanas o que você pode fazer em poucas horas. Isso já aumentou a produtividade da Coopecitrus e estão expandindo essa operação para mais cooperados e estão ampliando para controle de pragas. Se você identifica o tipo de praga você pode colocar o produto especificamente para aquele tipo de praga e não preciso pulverizar uma área inteira. só a área afetada.Então tenho redução de custo de produção comprando menos produtos e menos impacto ambiental.; Esse é um exemplo, mas podemos aplicar na área da saúde, mercado trabalho, treinamento e em qualquer segmento do mercado


Quanto a Microsoft investe aqui no Brasil hoje?


A gente investe globalmente e aí, em cada país a proporção é a mesma, que é quase 15% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. A gente tem uma parte do grupo de P&D fica aqui no Brasil, no Rio. Então investimos em pesquisas de cybersecurity, que hoje é um dos grandes riscos e inibidores para investimento na área digital, a gente investe US$ 1 bilhão por ano. São quase  15%, sendo que US$ 1 bilhão só para cybersecurity.


Tem algum produto que a senhora poderia anunciar que a Microsoft vai lançar?


Esse ano nós anunciamos de AI, temos um programa da companhia, não somos apenas a mais valiosa do mundo, mas também nos preocupamos com o impacto econômico e social. Temos US$ 150 milhões para quatro programas.  Então criamos o AI for good, a inteligência artificial para o bem, que tem quatro pilares. Temos o AI para causas humanitárias, como no caso do furacão Dorian, nós nos conectamos com os governos para oferecer ajuda e muitas vezes isso é tecnologia, ajudar ONGs com infraestrutura com dados para serem mais assertivos nos trabalhos de resgate. O AI ambiental e tem o programa novo que é o AI para preservação de patrimônios e monumentos históricos, que muitas vezes são destruídos, pelo terrorismo, descaso. Então o que queremos é dar imersão de realidade virtual para conhecer os monumentos em detalhes em uma parceria, começando com os patrimônios da Unesco. No AI para o meio ambiente a gente mapeia animais que pode identificar animais pela coloração dos pêlos, cada animal tem um padrão único,que é como impressão digital do animal. E aí você consegue mapear grupos de animais, migração, padrão de comportamento e isso é importante para animais em extinção. Fizemos algumas parcerias e no Brasil fechamos com a SOS Mata Atlântica, em maio, para usar a inteligência artificial para fazer monitoramento das águas dos rios. Antes os voluntários coletavam a água, comparavam a coloração, colocavam no excel e depois de um mês vinha o resultado. Agora, eu olho para o aplicativo olho para coloração e já digo o que está acontecendo. É praticamente em tempo real. Então você pode ver que tipo de problema está afetando os mananciais para fazer ação corretiva e isso tem impacto direto na saúde, porque a maioria das entradas no SUS têm a ver com problemas de origem sanitárias. Então esse a gente consegue recuperar os mananciais  a gente consegue melhorar a saúde pública. Uma outra parceria é com as Mães da Sé, que chama atenção para as milhares de pessoas que desaparecem todos os anos, quem em 23 anos encontraram milhares de pessoas. Recomendamos a usarem o reconhecimento facial e com a anuência da família a ONG pode disponibilizar as foto nos bancos de dados da polícia, hospitais… só com isso podemos facilitar o trabalho. Fizemos a doação do software, escaneando as fotos e discriminando o material para que elas possam ter um banco de dados efetivo. 


Hoje no Porto Digital um dos principais problemas é a falta de mão de obra. Esse é um problema também no Brasil?


Sim, é um problema para Microsoft como para todo o setor de tecnologia. Temos 13 milhões de desempregados no Brasil e, segundo a Brasscom, entidade que está no setor de Telco  e IT, a gente tem um gap hoje de quase 400 mil pessoas. Todo ano a gente forma cada vez menos profissionais em tecnologia. É uma área que as pessoas perderam o interesse. O Brasil hoje forma menos pessoas em Stem (sigla em inglês para Tecnologia, Engenharia e Matemática) forma 15% do total de graduados quando o mundo forma 10 pontos acima de 25% a 30%. A  gente não está formando os futuros engenheiros, e cientistas de dados. do Brasil. A gente já tem um gap, todo ano a gente forma metade do que a demanda, a gente tem demanda crescente. Fala de mercado de nuvem, multiplica por dois. inúmeras oportunidades vão aparecer, a gente fala que toda empresa é empresa de software porque qualquer uma está contratando programadores. Você fala que é jornalista, mas se você não tiver envolvimento com tecnologia daqui a cinco a dez anos você vai estar fora do mercado. Todo mundo vai ter que saber mexer em alguma proporção com tecnologia. E desenvolvedores é o que está mais faltando. Então esse é o retrato. 400 mil de gap hoje e a gente forma 30 mil por ano para 70 mil de demanda e tudo isso com um número muito pequeno de mulheres. Então o que faço para atrair? O segundo ponto é que a gente estima no mundo e no Brasil serão 11 milhões. a Inteligência artificial vai acabar com 400 milhões de empregos. Estudo da McKinsey. Ela cria outros empregos, como automação destruiu vários empregos e criou outros. Então, como eu melhoro o nível desses 11 milhões de pessoas. Em cima dos 13 milhões é um panorama complicado. Num estudo que fizemos com a Fundação Getúlio Vargas, mostra que a inteligência artificial num cenário mais provável pode trazer até 6 pontos percentuais adicionais de PIB num intervalo de 10 anos, se você estiver preparado para lidar com a inteligência artificial. Então a gente está criando, estamos fazendo outro lançamento. que é o programa de de qualificação em inteligência artificial junto com o Senai, onde a gente disponibiliza em nossa plataforma em português. Agora a gente tá acelerando para traduzir mais cursos, não só online. Temos o Academ.ia também. Junto com isso temos o Movimento Brasil Digital, um grupo de executivos da área de TI, educação e Telcos que a gente tenta movimentar a sociedade civil e setor privado e público para endereçar esse problema. O governo sozinho não consegue. Vamos fazer o lançamento em novembro. São todas as empresas de tecnologia se mobilizando para qualificar a mão de obra. Se não tivermos pessoas qualificadas vamos ficar no pior cenário do estudo da FGV e aí vou perder competitividade em nível global. Então a gente enxerga a Inteligência artificial para tirar o Brasil dessa estagnação econômica para ter ganhos de produtividade e retomar a pujança da indústria. Acelerar a agora indústria sem ampliar os impactos, melhorar a gestão de saúde e trazer tecnologia de saúde para o cidadão e profissionais.   


Então a tecnologia pode resolver o problema da produtividade num curto prazo…


No curto e no longo prazo, A gente vê países no mundo que estão super alavancados em uso de tecnologia, China, Índia, que já se posicionou como produtor de software e hoje eles estão acelerando no treinamento e educação. Então fazem investimento s grandes para definir a vocação do País. Que tipos de cérebros eu quero criar. Que tipo de competências eu quero exportar. Eu posso não só alavancar a indústria mas criar pools de cérebros. Só agora a gente percebe ecossistemas de startups se destacando e unicórnios brasileiros aparecendo. Age tne tem riqueza de capital humano a gente explora riqueza mineral, mas não do capital humano. Muita gente só precisa de oportunidade. A gente também tem programas focados para meninas programadoras, elas não têm o menor interesse. A gente usa jogos…


Como vocês querem atrair as meninas?


A gente está fazendo muito evento. Então a gente vai nas Ongs, leva ferramentas para meninos e meninas e a ONG faz capacitação e complementação de tecnologia e a gente tem feito evento para mulheres, jovens para atraí-las. A gente tem a campanha What’s next? Por que a menina não pode ser cientista de dados ou, encontrar a cura do câncer? Então, a gente tem feito essas perguntas. Nesse programa, no You Tube você encontra muita coisa, a gente pergunta: Me fala nome de um a inventora? Ninguém se lembra das mulheres. Se você não tem referência, você não se projeta como inventora ou cientista.  

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