História das Copas

Itália precisou calar os críticos para conquistar a Copa de 2006

Sentimento de descrença em torno de uma geração uniu os jogadores da Itália que, com uma forte defesa, conseguiu conquistar o tetracampeonato

Heitor Nery
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Heitor Nery
Publicado em 18/03/2018 às 10:34
Estadão Conteúdo
Sentimento de descrença em torno de uma geração uniu os jogadores da Itália que, com uma forte defesa, conseguiu conquistar o tetracampeonato - FOTO: Estadão Conteúdo
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Uma geração talentosa, mas desacreditada por conta de um escândalo de manipulação de resultados no futebol de seu país. A Itália parece seguir uma rotina com relação às suas conquistas da Copa do Mundo. Foi assim em 1982, quando a equipe de Paulo Rossi bateu a Alemanha para ficar com o título. E a história se repetiu em 2006, na Alemanha, quando a Azzurra de Cannavaro e Buffon derrotou a França nos pênaltis para ganhar o tetracampeonato mundial.

Nas casas de apostas da época, o grande favorito para a conquista do mundial era o Brasil. Além de entrar na Copa do Mundo como última campeã, a seleção passava por um ciclo de dominância, conquistando a Copa América e a Copa das Confederações. Além disso, a empolgação com o “Quadrado Mágico”, formado por Ronaldinho Gaúcho, melhor jogador do mundo em 2005, Kaká, Adriano e Ronaldo, dava indícios de que o Brasil faria uma excelente campanha na Copa. No entanto, toda a pompa de “já ganhou” acabou influenciando no desempenho bastante abaixo do esperado da equipe, sendo eliminada nas quartas de final para a carrasca França, onde mais uma vez Zinedine Zidane teve uma brilhante atuação. O único que pôde comemorar algo naquele torneio foi Ronaldo, que, com três gols, chegou aos 15 e se tornou o maior artilheiro da história das Copas (o Fenômeno foi superado pelo alemão Miroslav Klose (16 gols), na Copa de 2014, no 7x1 aplicado no Mineirão).

A Itália era apenas a quinta seleção nas casas de apostas, atrás ainda da Inglaterra, da Alemanha e da Argentina. A incerteza na equipe estava por conta do turbulento cenário interno de seu futebol momentos antes da Copa. Em maio de 2006, estourou o “Calciopoli”, um esquema que apontou uma ligação próxima entre dirigentes de algumas equipes da Serie A e da Serie B, com alguns árbitros do país, o que gerava atuações bastante duvidosas da equipe de arbitragem em algumas partidas. A descoberta gerou o rebaixamento da Juventus e também punições para Milan, Fiorentina e Lazio, clubes que foram representados pela seleção italiana na Copa. O sentimento de descrença foi utilizado pelos próprios jogadores como forma de união do grupo, que queria provar o seu valor com o título.

Em campo, a tradicional força defensiva da Itália fez a diferença. A equipe de Marcelo Lippi sofreu apenas dois gols em toda a Copa. A força defensiva seria premiada pela FIFA no final do ano, quando Fabio Cannavaro ganharia, ainda naquele ano, o prêmio de melhor jogador do planeta. Mesmo com a consistência no setor, a Itália não teria vida fácil durante a Copa do Mundo. Logo na primeira fase, partidas equilibradas contra Gana e Estados Unidos, com a classificação vindo apenas na última rodada, após vitória sobre a República Checa.

Grandes duelos no mata-mata

Nas oitavas de final, o adversário seria a Austrália, equipe comandada pelo holandês Guus Hiddink, que havia eliminado a mesma Itália na Copa do Mundo de 2002, quando comandava a seleção da Coreia do Sul. A vingança não veio sem sofrimento. Atuando com um jogador a menos na maior parte do segundo tempo, a Itália suportou a pressão dos australianos e saiu com a vitória após Totti anotar um gol de pênalti aos 50 minutos. Nas quartas, vitória tranquila sobre a Ucrânia por 3x0.

Nas semifinais, a Itália encarou logo os donos da casa. A partida contra a Alemanha, considerada por muitos a melhor daquele mundial, pela quantidade de chances criadas pelos dois lados e pelas boas atuações de Lehmann e Buffon. A partida só seria decidida no segundo tempo da prorrogação e por um herói improvável: o lateral-esquerdo Fábio Grosso, após receber belo passe de Pirlo. Del Piero ainda marcaria o segundo, para tristeza dos donos da casa.

Na decisão, uma outra chance de vingança para a Itália. O adversário seria a França, equipe que seis anos antes havia derrotado os italianos na decisão da Eurocopa. Uma partida que seria especial para Zidane, já que seria a última de sua carreira. O camisa 10 colocou os franceses na frente do placar aos 7 minutos, em cobrança de pênalti. Mas a Itália empatou ainda no primeiro tempo, com o zagueiro Materazzi. O empate levou a partida para a prorrogação, quando os dois voltaram a aparecer em um dos episódios mais marcantes de uma final de Copa. Após uma troca de xingamentos, Zidane agrediu o zagueiro com uma cabeçada e foi expulso, encerrando assim sua carreira. A partida só seria decidida nos pênaltis, da mesma forma como a Itália havia perdido seu último mundial. O destino, no entanto, seria diferente. Trezeguet, jogador que fez carreira na Juventus, perdeu sua cobrança, enquanto os cinco italianos acertaram as suas, com Fabio Grosso acertando o pênalti que garantiu o tetra para a Itália. Uma despedida melancólica para Zidane, mas a consolidação de uma forte geração da Azzurra.

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