ESPECIALISTA

Murad cobra ação preventiva para coibir coligação das organizadas

Para especialista prevenir é sete vezes mais barato do que a repressão

Leonardo Vasconcelos
Cadastrado por
Leonardo Vasconcelos
Publicado em 10/07/2018 às 9:01
FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
Para especialista prevenir é sete vezes mais barato do que a repressão - FOTO: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO CONTEÚDO
Leitura:

A coligação entre as torcidas organizadas no Brasil não é novidade, nem algo recente. Há décadas o poder público sabe da existência das alianças das facções, vê os resultados e até hoje ainda não teve pulso firme para desfazer esses laços. Esta é a opinião do sociólogo Maurício Murad, um dos maiores especialistas da relação entre violência e futebol no Brasil.

De acordo com ele, as coligações existem há mais de 25 anos, mas nos últimos 15 se tornaram mais preocupantes por causa da infiltração de grupos criminosos nas torcidas. “Essas parcerias funcionam para burlar a fiscalização nas estradas. Quando um grupo sai da sua cidade para outra leva drogas, álcool, barras de ferro, soco inglês, etc. Então as torcidas locais se encontram com as de fora para passar esses instrumentos. Isso é uma tática operacional criminosa. As parcerias também servem para aumentar os contingentes nas arquibancadas e fazer valer a rivalidade local. O time do Remo não tem força no Recife, mas associada com a torcida do Sport passa a ter”, disse Murad.

O sociólogo, autor do livro “A violência no Futebol”, afirmou que as brigas podem ser facilmente evitadas. “Eu mesmo, por motivos de pesquisa, monitoro as redes sociais e já sabia há pelo menos duas semanas que teria esse confronto aí no Recife. Todos sabem e a pergunta que fica é: por que não se age antes? Eu li nos jornais que o chefe daí disse que há duas semanas esses sinais já eram dados. Então porque não houve esse trabalho de inteligência? Nós fizemos uma pesquisa e vimos que a prevenção é sete vezes mais barato e rápido do que a repressão”, garantiu.

Murad, inclusive, defende que essas uniões das organizadas sejam enquadradas criminalmente. “Eu acho que isso pode ser tipificado como formação de quadrilha e associação criminosa. Essas pessoas não podem ser punidas só desportivamente, mas criminalmente também”, disparou.

Segundo o especialista, o que deve ser feito é um plano estratégico nacional. “Tem que vir de Brasília e espalhar por todo o território. São medidas de curto prazo como endurecimento da lei e aumento de pena. A médio prazo localizar os bandos, observar redes sociais e criar um disque denúncia das organizadas. A longo prazo um conjunto de medidas de caráter educativo”, disse.

POLÍTICA

Para Murad, falta vontade política para resolver o problema de uma vez. “Eu tenho apresentado isso a décadas. Mas nenhum governo nos escuta, ninguém bota em prática. Agora, depois da Copa, começa o segundo turno do Brasileirão. Historicamente é agora que as agressões acontecem de forma mais aguda, porque o campeonato começa a caminhar para uma definição. Infelizmente as autoridades querem fazer mais politicagem”, criticou o sociólogo.

Últimas notícias