O crime organizado estaria usando amistosos entre seleções para lucrar milhões de dólares em redes de apostas e resultados comprados. A Fifa anunciou que abriu investigações sobre a suspeita em torno de dezenas de jogos entre seleções. Nesta segunda-feira, a entidade também fechou um acordo para doar 20 milhões de euros à Interpol para fortalecer o combate à corrupção no futebol.
Mas o temor é de que parte dos amistosos entre seleções já ocorrem apenas para atender à esquemas criminosos de aposta.
Uma das principais suspeitas gira em torno de dois amistosos disputados na Turquia, em fevereiro. O time da Letônia bateu a Bolívia por 2x1. No mesmo dia, Estônia e Bulgária empataram por 2x2, no mesmo estádio.
O que chamou a atenção é que todos os sete gols foram de pênaltis. Casas de apostas recebiam apostadores que colocassem dinheiro em que os jogos teriam mais de três gols.
A Fifa abriu casos disciplinares contra árbitros da Hungria e Bósnia envolvidos nas partidas. O organizador dos amistosos, Anthony Raj, de Cingapura, está desaparecido desde fevereiro.
Em setembro do ano passado, outra partida foi alvo de suspeitas, entre Bahrein e uma falsa seleção do Togo. O amistoso foi organizado pelo empresário Wilson Perumal, hoje preso na Finlândia.
Na avaliação da Fifa, a organização de um amistoso entre seleções modestas custa cerca de US$ 300 mil. Mas os lucros com as apostas podem chegar a milhões de dólares.
Outra partida avaliada se refere ao amistoso em março entre Jordânia e Kuwait, além de Iraque e Coreia do Norte. Ambos os jogos foram disputados nos Emirados Árabes Unidos.
O que mais preocupa a Fifa é que os esquemas já estariam afetando competições oficiais. A Justiça na Finlândia abriu um processo em relação à rede de apostas no país, descobrindo que seu principal time, o Tampere United, vendeu resultados de amistosos.
Mas a investigação mostrou que os Mundiais Sub-17 e Sub-20 da Fifa também estiveram entre os alvos dos grupos criminosos.
Em outro processo, na Alemanha, as suspeitas se referem a jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010. A partida realizada em 2009 entre Liechtstein e Finlândia estaria entre as suspeitas. A Interpol ainda anunciou que, durante o Mundial, prendeu mais de 5 mil pessoas envolvidas em mais de 800 apostas ilegais avaliadas em US$ 155 milhões.
Nesta segunda, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, admitiu que as apostas ilegais estariam minando a credibilidade do futebol e anunciou medidas para lidar com o fenômeno, ao lado do secretário-geral da Interpol, Ronald Noble. Os 20 milhões de euros servirão para treinar policiais e investigadores nos assuntos relacionados ao esporte. “Precisamos proteger a integridade do esporte”, disse Blatter.
Noble revelou que a Interpol estabelecerá um programa para lidar com a corrupção no futebol. Mas não tocou no assuntos dos cartolas da Fifa.
A partir do próximo dia 1º de junho, a entidade ainda ganhará poderes adicionais sobre a organização de amistosos, podendo por exemplo vetar árbitros que acredite não ser adequado.