JC - Você chegou a Pernambuco num momento de crise da arbitragem. Como avalia o quadro local?
SANDRO M. RICCI – Acompanho a arbitragem no Brasil inteiro. Faz parte do trabalho. As polêmicas são naturais em todos os campeonatos. Talvez a situação tenha sido mais aguda aqui em função do que o futebol representa no Estado. Mas acredito que a arbitragem de Pernambuco é de altíssimo nível, por mais que possa passar por períodos de oscilação. Vocês têm o único quadro de federação estadual com dois aspirantes à Fifa (Nielson Nogueira e Cláudio Mercante).
JC - Não é assim que os dirigentes de clubes têm visto.
RICCI - Desde a terceira rodada já se falava em árbitros de fora em Pernambuco. Isso é lamentável. A gente sabe que, assim como os jogadores, os árbitros também precisam de certo tempo para desenvolver seu trabalho em sua plenitude. Eu sou contra trazer árbitros de fora, que vêm e vão embora. Na forma de intercâmbio, eu acho que pode até ser positivo. .
JC - Como o senhor lida com a pressão da função?
RICCI - O árbitro tem que estar preparado para a pressão desde quando escolhe a profissão. O árbitro tem que estar preparado dos pontos de vista técnico, social, físico e mental. Hoje, mais do que antes, precisamos mais do preparo mental e social – que seria ter estabilidade, um bom emprego.
JC - O senhor é arbitro Fifa há dois anos. Sente uma mudança de tratamento dos jogadores desde então?
RICCI - Sinto. No Brasil, existe uma coisa de respeito à patente. A gente percebe isso quando usa o escudo da Fifa. É lamentável que seja assim. No final do segundo jogo que fiz no Pernambucano (Belo Jardim 0x3 Santa Cruz), os jogadores vieram me parabenizar. Eu disse a eles: ‘Se vocês se comportassem desse jeito em todos os jogos, não haveria problema com a arbitragem’.
JC - O senhor está pronto para o 1º clássico no Estado?
RICCI - Foi bom fazer dois jogos antes para me ambientar.Este jogo (Náutico x Sport) será uma grande oportunidade de mostrar a qualidade do quadro estadual. Apesar de não ser daqui, me considero um pernambucano. Então a pressão que se faz em cima dos árbitros locais podem fazer comigo.
JC - Como foi viabilizada a sua vinda para Pernambuco?
RICCI - A minha vinda para cá se deveu à rapidez de ação do presidente Evandro Carvalho. Ele me procurou e fez a proposta, falando de seu projeto de modernizar a arbitragem daqui. Falou que trouxe mais cabeças para apoiar Chico Domingos, que hoje tem Salmo (Valentim) e Erick (Bandeira). E também há um projeto para criar uma escola de arbitragem. Eu analisei cenários e acredito que foi uma excelente escolha.
JC - A profissionalização do árbitro é viável?
RICCI -Existe um projeto desde 1979 na Câmara dos Deputados. Acho que falta vontade para aprovarem. Mas acredito que o futuro é esse sim (a profissionalização).