Herói do título

"Sou apenas mais um louco do bando", diz Emerson

Autêntico, sem papas na língua, sempre com uma boa resposta para tudo, doa a quem doer, ele é o bom malandro

Por Fábio Hecico
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Por Fábio Hecico
Publicado em 05/07/2012 às 21:17
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Autêntico, sem papas na língua, sempre com uma boa resposta para tudo, doa a quem doer, ele é o bom malandro - FOTO: AFP
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SÃO PAULO - Um louco de coração bom. Esse é Emerson Sheik, um tipo raro e quase em extinção no futebol brasileiro. Autêntico, sem papas na língua, sempre com uma boa resposta para tudo, doa a quem doer, esse bom malandro, que também é um paizão nas horas vagas, pouco curtiu o dia de herói corintiano nesta quinta-feira (5/7), rótulo que ele não admite de maneira alguma.

Autor dos dois gols do título da Libertadores para o Corinthians, Emerson não quer saber da fama. Diz que seria um desrespeito com 35 companheiros que, como ele, acordam cedo todo dia para trabalhar e que sem eles, nada faria. "A bola não voa, eu não decido sem um bom passe ou um combate. Sou apenas mais um louco do bando", afirmou o atacante.

De chinelo de dedo, bermuda, camiseta e sem esconder o cansaço, o atacante ainda dizia não saber da dimensão do feito que deu enorme colaboração para se tornar realidade na noite da véspera. Não conversou com os companheiros, ainda não tinha tomado sua champanhe do título e nem mesmo visto suas pinturas no Pacaembu.

"Cara, eu saí rápido do estádio, trouxe meus filhos para casa, voltei ao Anhembi, fiquei menos de 20 minutos e depois voltei para terminar a noite com meus filhos, na cama", disse.

Responsável, ele fretou um avião apenas para levar os meninos para o Rio, entregá-los para a mãe. Voltou e fez questão de atender os jornalistas na tarde desta quinta-feira. Mal sabia que poucos minutos antes de seu retorno, havia em sua luxuosa residência um oficial de justiça para entregar-lhe uma intimação. "Essa é nova, não sei sobre o que se trata", usou do bom humor o atacante que já falsificou documentação no início da carreira (trocou o nome e diminuiu a idade em cinco anos para entrar nas categorias de base do São Paulo), que já esteve envolvido em compra de carros roubados e sempre vê seu nome envolvido em confusão.

Até a saída do Fluminense, antes de acertar com o Corinthians, foi de forma nada amigável. Ele foi dispensado por ter cantado o hino do rival Flamengo na concentração. "Uma pessoa tentou me prejudicar, me jogou contra a torcida após uma brincadeira", mostra mágoa.

Sobre a nova ação, ele acredita ser de algum vizinho. Uma moradora ao lado jurou que o processaria por causa da música alta. Outro, devido às goteiras. "Todos querem prejudicar o Emerson, mas estou bem assessorado juridicamente", avisou.

Não era dia para dores de cabeça. Afinal de contas, não fazia nem 24 horas que ele tinha saído do Pacaembu com responsável maior do fim de um martírio corintiano. "Mas não tem essa de ser iluminado, não. Sempre trabalho pra caramba, chego cedo, me dedico. Atraso pouco, mas quando atraso chego, nem que seja de helicóptero. Acredito em merecimento", afirmou, sem esconder o que todos já sabem sobre ele: "Não sou santo. E garanto que aqui ninguém é. Eu não me escondo atrás de um terno, da bíblia. Sei bem o que faço, nunca matei, nunca roubei."

Nascido no subúrbio de Nova Iguaçu (RJ), teve infância pobre, morando com a mãe e dois irmãos num cômodo apenas, Emerson teve de abandonar os estudos no oitavo ano. Após passar fome e viver na pobreza, ele prometeu que faria de tudo para dar uma vida digna à família. E conseguiu isso com a bola.

Emerson ganhou o fim de semana de folga para curtir a família. Deve ficar com os filhos em sua casa em Angra dos Reis (RJ), andar de barco, ir ao teatro e a bons restaurantes, comer uma picanha, suas paixões. E, quem sabe, engrossar a coleção de óculos escuros e de relógios. Como não é santo, agora ele poderá tomar um choppinho e um bom vinho. Só não ligue para ele, já que seu pavor é atender uma ligação.

Na próxima segunda-feira (9/7), quando deve se reapresentar para treinar, ele garante estar pronto para novas conquistas. E com a camisa corintiana, pois abriu mão de proposta da China. "Ano passado, tive ótima proposta do mundo árabe e fiquei pelos meus filhos. Agora recebi outra boa e vou ficar no Corinthians", avisou o herói corintiano.

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