Máfia do Futebol

Paraguai afasta mais um assistente que trabalhou em jogo do Corinthians

Antes, a APF já tinha anunciado as suspensões do árbitro Carlos Amarilla e do outro assistente, Rodney Aquino, que também trabalharam na partida

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Publicado em 23/06/2015 às 17:29
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Antes, a APF já tinha anunciado as suspensões do árbitro Carlos Amarilla e do outro assistente, Rodney Aquino, que também trabalharam na partida - FOTO: Foto: AFP
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A AFP (Federação Paraguaia de Futebol) anunciou a suspensão do assistente Carlos Cáceres, que também trabalhou no empate do Corinthians diante do Boca Juniors por 1 a 1, pela partida de volta das oitavas de final da Taça Libertadores da América de 2013.

Antes, a APF já tinha anunciado as suspensões do árbitro Carlos Amarilla e do outro assistente, Rodney Aquino, que também trabalharam na partida. Eles estão suspensos dos próximos jogos do Campeonato Paraguaio.

A decisão de suspender o trio foi a partir da divulgação das escutas telefônicas, por ordem judicial, que envolvem os mencionados na partida entre Corinthians e Boca Juniors.

ENTENDA O CASO

Um programa de TV argentino exibiu no domingo (21) escutas telefônicas que mostram gravações da chamada "Máfia do Futebol", que está sob investigação local. Uma das conversas exibidas levantam suspeitas sobre a arbitragem de Carlos Amarilla, que em 2013 prejudicou o Corinthians no duelo contra o Boca Juniors na Libertadores.

O diálogo em questão envolve Julio Grondona, então presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino), que morreu em 2014, e Abel Gnecco, representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol e se dá em 17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca eliminar o Corinthians em pleno Pacaembu. Na ocasião, o paraguaio Carlos Amarilla foi questionado pelos corintianos por dois gols anulados e um pênalti não assinalado.

Na conversa gravada, Gnecco relata como foi a decisão pela escolha do juiz paraguaio.

"Estive falando com Alarcón [Carlos Alarcón, representante paraguaio na Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse: [...] 'Estão querendo o Amarilla aí na Argentina?' Veja, se querem eu não sei, eu quero. Coloque ele e deixe de me encher o saco. Alarcón, ponha ponha o Amarilla e deixe de me ferrar. Bom, foi assim, ele colocou e bom... E saiu bem porque, bem, tem de ser assim", disse Gnecco a Grondona.

A conversa é uma das 11 reveladas pelo programa de TV, que teve acesso às escutas usadas em uma investigação que começou em 2012 e teria investigado de sonegação de impostos em negociações de jogadores a manipulações no futebol. Embora a apuração seja anterior à divulgação do escândalo da Fifa, a presença de Grondona une os dois casos, já que o argentino era vice-presidente da entidade internacional e foi citado no inquérito que prendeu sete cartolas em Zurique, José Maria Marin entre eles.

ESCUTAS TELEFÔNICAS

Conversa entre Grondona e Abel Gnecco indicam que argentinos teriam escolhido árbitro de Corinthians x Boca Juniors, em 2013

Os personagens:

CARLOS AMARILLA

* Árbitro paraguaio

* Atuou na Copa do Mundo de 2006

* Foi criticado por sua arbitragem no jogo de volta entre Corinthians e Boca Juniors pelas oitavas de final da Libertadores de 2013, no Pacaembu

* Deixou de marcar um pênalti para o Corinthians e anulou gol legal da equipe alvinegra

* Ele admite ter cometido erros, mas nega que tenha favorecido o Boca Juniors

JULIO GRONDONA

* Ex-presidente da AFA (Associação do Futebol Argentino)

* Morto em 2014, é investigado por envolvimento no escândalo de corrupção no futebol revelado pela Justiça americana

* Comandou a federação argentina de 1979 até sua morte

* Começou a carreira de dirigente ao fundar o Arsenal de Sarandí, em 1956

* Também foi dirigente do Independiente, entre 1962 e 1979

ABEL GNECCO

* Diretor da escola de árbitros da AFA

* Representante argentino no comitê de árbitros da Conmebol (Confederação de Futebol da América do Sul)

A conversa:

(17 de maio de 2013, dois dias depois do Boca Juniors eliminar o Corinthians da Libertadores)

Grondona: Como está, Abel? Bem. E você?

Gnecco: Sim, estou bem porque saí desta confusão, não? Mas enfim, sei lá.

Grondona: No fim foi tudo bem. Ninguém queria esse louco de m... e jogou o melhor reforço que o Boca teve no último ano, o Amarilla (risos).

Gnecco: Sim, disse isso, mas sei lá. Falei com Alarcón [Carlos Alarcón, presidente da Comissão de Árbitros da Conmebol] e ele me disse que esse ano é meio... É novo, que tem que ter... Bom, então fazemos uma coisa [inaudível]. Aí na Argentina eles querem o Amarilla? Olha, se não querem eu não sei. Eu quero. Então coloca ele e não me encha o saco. Coloca o Amarilla e para de me f... Bom, aconteceu assim, colocou ele e, bom, foi tudo bem porque tem de ser assim.

Grondona: E agora quem vai? Quem tem que colocar agora no Boca e Newell's [partida das quartas de final]?

[Os dois conversam sobre possíveis árbitros para mediar o jogo. Mais tarde, Grondona dá a entender que teria comprado os árbitros assistentes em uma partida contra o Santos pela semifinal da Libertadores de 1964, quando era dirigente do Independiente]

Grondona: E fique de olho nos bandeirinhas que coloca, que com esse... Como se chama? Taibi [Ernesto Taibi, árbitro assistente argentino] tem que ter cuidado.

Gnecco: (risos) Não, não, os bandeirinhas...

Grondona: Por favor, porque o árbitro faz tudo e o bandeirinha põe tudo a perder.

Gnecco: Julio, isso eu aprendi com você há mais ou menos 40 anos.

Grondona: Em 64, quando jogamos contra o Santos, ganhei do Leo Horn [árbitro holandês; na verdade, o árbitro da disputa foi o inglês Arthur Holland] com os dois bandeirinhas.

Gnecco: (risos) Sim, sim, já sei.

Grondona: Tchau, até logo.

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