SOLIDARIEDADE

Mãe de Veronaldo começa a receber doações

Hozineide Gomes Xavier ficou emocionada com a ajuda das pessoas

Leonardo Vasconcelos
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Leonardo Vasconcelos
Publicado em 12/04/2017 às 17:20
Ricardo Labastier / JC Imagem
Hozineide Gomes Xavier ficou emocionada com a ajuda das pessoas - FOTO: Ricardo Labastier / JC Imagem
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Uma corrente do bem para abrandar uma dor. Um dia depois do JC ter publicado a reportagem sobre a década de sofrimento de Veronaldo Silvino da Silva, a família do torcedor começou a receber doações vindas de todas as partes do Brasil. A mãe dele, Hozineide Gomes Xavier, contou com alegria que recebeu diversas ligações e já foi depositada em sua conta bancária R$1.676 até a manhã desta quarta-feira (12). 

"Pela honra e glória de Jesus Cristo, as pessoas se sensibilizaram e fizeram doações para meu filho. Não importa o valor, apenas que é de coração. Sai do banco com tanta alegria que fui direto comprar um ventilador novo pois aquele estava muito velho. Também encomendei uma máquina de nebulização e os suplementos alimentares", disse Hozineide.

Quanto as ligações, a mãe de Veronaldo disse que ficou bastante surpresa. "Devo ter recebido umas 15 ligações de todo o Brasil. Teve gente de São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Minas Gerais e Santa Catarina. Uma inclusive se sensibilizou e disse que iria ver se encomendava um ar condicionado para o quarto. Estou muito grata por tudo o que estão fazendo pelo meu Veronaldo", contou. 

Quem quiser ajudar pode fazer por meio de uma poupança (Nome: Hozineide Gomes Xavier / Banco: Itaú/ agência: 7376 / conta: 09585-2 / CPF: 754244604-53). Para quem quiser fazer outro tipo de doação que não seja por depósito bancário, o telefone de Hozineide é o 81 - 98884.9907. O endereço é Rua 19 de novembro, 442, Peixinhos, Olinda.

HISTÓRIA

Há dez anos Veronaldo Silvino da Silva saiu de casa para ir ver o Sport jogar contra o Santa Cruz, no Arruda. Não voltou com as próprias pernas. Há dez anos vive preso em uma cama. Não fala. Não anda. Não teve culpa. Apenas caminhava em direção à bilheteria do estádio quando foi atingido por uma pedra arremessada por tricolores da arquibancada. Teve afundamento do crânio e ficou tetraplégico.

Um crime bárbaro que, uma década depois, permanece impune, enquanto a família do torcedor sofre quase sem ajuda para lutar por uma vida. Que resiste. Que insiste em ser vida.

Onze de abril de 2007. Em uma humilde casa, em Peixinhos, Olinda, o rubro-negro Veronaldo se preparava para ir a um estádio pela primeira vez. O entregador de água mineral, então com 21 anos, só acompanhava jogos pelo rádio e TV, com medo da violência. Com o casamento marcado para exatamente um mês depois, ele se despediu por telefone da noiva com quem estava junto há três anos e disse para ela não se preocupar pois voltaria logo. Saiu com dois amigos na expectativa de assistir de perto o time do coração. Nem chegou a ver o time em campo. Como também nem viu a pedra lançada do anel superior do Arruda. Sangue. Correria. Socorro.

A mãe de Veronaldo, Hozineide Gomes Xavier, estava trabalhando em uma floricultura na Holanda e só conseguiu voltar ao Brasil três dias depois. Encontrou o filho no Hospital da Restauração em coma, desenganado pelos médicos. “Eles pediram para eu ter calma e me conformar. Mas eu falei que Deus estava com meu filho e ele ia voltar pra casa. Passei oito meses com meu filho no hospital até ele ser liberado. Desde então minha vida é meu filho. Passei a vegetar como ele”, disse.

Dez anos depois, a mãe continua cuidando dele com amor e dedicação, contrastando com o descaso das autoridades. “Até hoje meu filho está preso em uma cama inocentemente pagando por um crime que não cometeu. Enquanto isso os monstros das arquibancadas estão aí soltos, fazendo mais vítimas, fazendo mais família sofrerem como a minha. Nesses dez anos, a polícia nunca achou os culpados. O Santa Cruz nunca deu nada. O Governo de Pernambuco nunca fez nada. Para eles, é como se meu filho não existisse. Como se já tivesse perdido a vida”, contou Hozineide.

As únicas ajudas financeiras vem da aposentadoria de Veronaldo e da Federação Pernambucana de Futebol (apenas um salário mínimo que em alguns momentos deixou de ser pago). Os gastos são enormes. A alimentação tem que ser especial e é feita só por sonda. Ainda tem custos com remédios, fraldas, tratamento. Sem contar no aluguel da casa e na conta de energia elétrica (a casa só tem um ventilador e fica 24 horas ligado para Veronaldo).

Hozineide teve que largar o emprego para cuidar integralmente do filho e ganha alguns trocados vendendo “Pernambuco da Sorte” nas poucas horas vagas na vizinhança. “De vez em quando aparecem algumas pessoas de bom coração e fazem doações. Ainda que pouco, agradeço a Deus pois tudo que chega para meu filho para mim é grandioso”, afirmou a mãe. 

Uma década após o crime, Hozineide, assim como o filho, se mostra uma guerreira. Mantém a esperança e a disposição para lutar. “Eu só queria que as autoridades, o Governo de Pernambuco, ouvisse esse clamor de uma mãe sofrida que não tem mais a quem recorrer. Apesar desses dez anos de esquecimento, eu luto com muita fé que Deus tem um propósito imenso para mim e meu filho. Acredito que um dia toda essa tristeza se transfomará em vitória”, garantiu.

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