FORÇA DE VONTADE

Futsal e medicina, as duas paixões de André Lafayette

Mesmo praticando o esporte de forma profissional, jogador tornou-se médico

Davi Saboya
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Davi Saboya
Publicado em 22/12/2019 às 7:15
Bianca Sousa/JC Imagem
Mesmo praticando o esporte de forma profissional, jogador tornou-se médico - FOTO: Bianca Sousa/JC Imagem
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O que você faria se desejasse ser atleta profissional e cursar a universidade de medicina? A maioria das pessoas escolheria apenas um caminho a seguir. O que não foi o caso de André Lafayette, dono de uma história de disciplina e determinação. Aos 35 anos, ele decidiu ainda adolescente jogar futsal em alto nível e conquistar o diploma de médico. Profissão que na família tinha vários exemplos, entre eles, o principal, o pai Walter. De forma surpreendente, tomou a decisão no fim da juventude, perto de entrar na vida adulta. E rapidamente atingiu grandes resultados ao passar em 2º lugar geral no vestibular da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) vestindo a camisa do Náutico, uma das grandes potencias locais na época. No Timbu, após a passagem pelo Santa Cruz, conseguiu chegar à seleção principal ainda com 18 anos (em duas convocações) e atuar ao lado de estrelas como Falcão e Manoel Tobias, grande ídolo. Duas temporadas depois, defendeu o Minas Tênis, onde realizou o sonho de jogar a Liga Nacional. Além disso, representou o país por mais duas vezes nas categorias Sub-20 e Sub-23.

Posteriormente, André foi a referência dos dois últimos times que conseguiram uma hegemonia no futsal em Pernambuco: Universo e Tigre. Conquistas traçadas sem deixar de lado e abandonar a medicina. Área que o médico realizou duas residências, em cardiologia e clínica médica. “A pessoa precisa decidir se quer mesmo, se é isso que quer de fato. Quando você decidir o que irá focar, precisa ter a certeza que vai conseguir abrir mão de outras coisas. Precisa ser diferente da média. No momento que decidir pela área esportiva e acadêmica tenha consciência que a vida não será igual da maioria dos jovens que vão para festas. Ou que vão e não bebem. É preciso ter ciência que será necessário abrir mão de certas situações. Tem que existir a consciência do que de fato importa”, afirmou o médico.

Em ambas as carreiras, o foco diferenciado sempre foi a marca de Lafayette. Característica que ele frisou ter sido fundamental. “Tempo é uma questão de prioridade e administração. Tem que priorizar o que fazer e administrar bem. Tinha pouco de lazer e focava em tudo. Dormir cinco, seis horas era o suficiente. Não perdia tempo nenhum. O que tinha em casa usava para estudar. Meu carro era minha casa. Andava com uma mala, almoçava uma marmita no trânsito”, contou.

Além da conciliação, André precisou abrir mão dos prazeres da adolescência e início da vida adulta para conseguir o duplo sucesso. “Sempre fui mais pacato. Por isso acho que para mim foi mais fácil. Festas, bebidas, nunca foram atrativos. Agora, penso diferente. Quando tiro férias, quero passar um período viajando. Se tivesse jogando, não daria para fazer isso. Há anos abri mão disso tudo. Acho que de alguma forma já paguei minha cota. Não me arrependo de forma alguma da história que construi. Cada um tem o poder de construir a sua. Certo que talvez poderia ter chegado mais longe se continuasse”, revelou.

A principal dificuldade no caminho que o médico e ex-jogador de futsal apontou foi a compreensão de quem estava ao redor. Principalmente na medicina. No esporte, ele frisou que sempre teve a compreensão dos treinadores, dois em especial: Marcelo Ribeiro e Fabiano de Souza, o Chokito. Na família, não foi diferente. “Na minha cabeça era e foi possível. Chegava para o professor e dizia que precisava faltar a prova para passar uma semana competindo. Teve um que uma vez me perguntou o que era mais importante. Tinha uma prova e precisava faltar um treino. O maior problema aconteceu quando tentei jogar campo, porque existe uma cultura que não permite isso. Se falar isso para alguém do meio vira piada”, declarou. “Em casa, todo mundo pensa que não, mas painho chegou a me dizer para ficar no Minas e depois fazer o vestibular de novo, como se fosse fácil (risos)”, completou.

Aos 29 anos, André decidiu abonar profissionalmente as quadras após observar a motivação diminuir diante da baixa valorização do futsal em Pernambuco. O marco foi um trauma na cabeça que sofreu quando jogava pelo Sport. Não faltaram convites para continuar. Até mesmo chances para voltar para a Liga Nacional bateram à porta. E a qualidade com a bola no pé não desapareceu. Chegou a jogar Fut-7 pelo Náutico e Sport, antes de olhar para bola somente como diversão. “Era o exemplo que a gente usava. Se não era o mais talentoso, era o mais obstinado. Elaborou um estilo de jogo equilibrado entre ataque e defesa. Desejo de todo treinador e dono de uma leitura espetacular”, comentou Chokito. “Viajava com uma bolsa de material e outra de livros. Todo mundo na resenha e ele estudando no quarto”, lembrou Luis Cláudio, presidente da Federação Pernambucana de Futsal.

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